Igreja/Sociedade: Fazenda da Esperança quer «oferecer uma nova vida» aos seus utentes (c/fotos)

Tiago Sousa Silva, responsável em Portugal, afirma que «é o amor do próximo» que mantém o projeto aberto

Celorico da Beira, 09 nov 2024 (Ecclesia) – O responsável da Fazenda da Esperança em Portugal explica que quando alguém vai fazer o tratamento, principalmente de álcool e drogas, entra “sem um trabalho na própria vida”, e partilha da alegria de “alguns meninos que já se recuperaram”.

“Quando você está na dependência química não tem nenhuma regra na sua vida. O que te leva é o vento, como uma folha seca no campo, para onde dá o vento, você vai. E esse tripé da Fazenda faz você ficar de pé, faz você ser fiel às pequenas coisas e, principalmente, a se cuidar”, disse Tiago Sousa Silva, que vive em Portugal há dois anos, em declarações à Agência ECCLESIA.

Foto: Agência ECCLESIA/CB; Tiago Sousa Silva

A Fazenda da Esperança nasceu no Brasil há mais de 40 anos, em 1983, para acolher pessoas que querem recuperar a sua vida da dependência do álcool, das drogas e também do jogo, com um processo de tratamento assente no tripé ‘espiritualidade, trabalho, convivência’.

“Quando você entra para se recuperar vem todo sem um trabalho na sua própria vida. Então, a espiritualidade lhe mantém de pé, com Deus, vivendo a palavra todo dia. E com o trabalho você começa a se remodelar, você começa a ter horário para acordar, a ter hora de trabalho e você vai-se reconstruindo. E a convivência entre as pessoas vai fazendo servir um ao outro”, explicou o responsável, um jovem de 30 anos, natural de Fortaleza, no Brasil, que passou também por este processo após “cinco anos na dependência”.

O projeto internacional ‘Fazenda da Esperança’ inaugurou a primeira casa em Portugal há 12 anos, a Fazenda da Esperança «Mártires do Brasil» abriu as portas no dia 6 maio de 2012, numa quinta em Maçal do Chão (Celorico da Beira), na Diocese da Guarda; atualmente acolhe nove pessoas, sete utentes, o responsável, que está “feliz nessa missão, com alguns meninos que já se recuperaram”, e um voluntário.

Eu vejo nesses meninos a esperança, porque na sociedade, se você vê na sociedade um menino que é drogado, não tem esperança. Eu vejo aqui em cada um deles, em determinado momento da vida dele, as pessoas que gostavam dele, acreditavam nele, não tinha mais esperança. Perderam a esperança. Quando eles vêm para cá e recuperam essa autoestima, encontram Deus na sua vida e veem que realmente existe uma esperança para a minha vida, que eu posso ser um homem novo. Então, tudo isso para mim é gratificante ver isso, esses milagres de Deus” – Paulo Marques, Missionário da Fazenda da Esperança

Todos os residentes participam nas várias atividades e contribuem para a sustentabilidade e organização da casa: Trabalham na quinta, em casa, participam em encontros de grupo e reflexão individual, nos momentos de oração e de celebração, de lazer e de descanso.

Tiago Sousa Silva explica que a Fazenda da Esperança “sobrevive” do trabalho que fazem e das famílias que “contribuem com uma pequena ajuda de custo para cada um” e das doações, mas “o que mantém mesmo a Fazenda aberta é o amor do próximo”.

O período de tratamento é um ano, e, na Península Ibérica este uma casa de ressocialização, na capital espanhola, em Madrid, para “pessoas que não têm para onde ir, e vão procurar emprego, estudar, e pode ficar quanto tempo quiser”.

“Um ano porque é uma gestação nova, uma nova vida. É isso que nós queremos oferecer, uma nova vida, sem remédio, sem medicação. Todas as pessoas têm jeito, tem vários moradores de rua aqui, vivia pedindo na rua, dinheiro para beber, para usar droga e está aqui. Então, colocar a esperança onde não tem”, acrescentou Paulo Marques, assinalando que os medicamentes, que o utente possa precisar, vão diminuindo ao longo do ano.

A ‘Fazenda da Esperança’ nasceu no Brasil, fundada por leigos e por um frade franciscano Hans Stapel, um sacerdote alemão a trabalhar no país lusófono, hoje estão em 26 países, dos cinco continentes.

A Fazenda da Esperança ‘Mártires do Brasil’ em Portugal, na Diocese da Guarda, vai estar em destaque no Programa ‘70*7’ deste domingo, dia 10 de novembro, a partir das 07h35, na RTP2.

CB/OC

 

Foto: Agência ECCLESIA/CB; Missionário Paulo Marques

Paulo Marques destaca que têm “o carisma da esperança”, o missionário regressou ao Brasil, no início deste mês de novembro, uns dias após a passagem da reportagem da Agência ECCLESIA pela Fazenda da Esperança portuguesa, para continuar a sua formação.

“Nós viemos para levar a esperança. Esperança para o pessoal que usa droga, não, é esperança para toda a humanidade. Onde nós formos, onde estivermos, sempre é levando essa esperança. Quem encontrarmos é para levar a esperança. Esse mundo está ficando sem esperança”, destacou à Agência ECCLESIA.

Filho de “pais portugueses”, o entrevistado veio do Brasil, em 2021, para fazer um “trabalho externo de divulgação” da Fazenda da Esperança «Mártires do Brasil», e, de certa forma, foi “o primeiro contacto” de todos os meninos que estão na casa hoje.

“Para explicar como é a nossa vida de fazenda, para quando chegasse aqui não tivesse tanto problema de adaptação, porque saberia como tinha que se comportar e como são as normas aqui da casa. Eu sempre falo para eles ‘a fazenda Esperança não é para você parar com a droga. Isso é fácil, você vai ficar lá alguns meses, você não vai sentir nem mais falta, isso é fácil. O trabalho que você tem que fazer consigo, primeiro, é encontrar Deus na sua vida, o sentido é encontrar Deus na sua vida. E para que isso aconteça, você tem que se transformar”, desenvolveu.

O missionário brasileiro recordou que conheceu este projeto internacional quando era catequista na sua paróquia e um jovem pediu-lhe ajuda para recuperar da dependência da droga, nessa altura lembrou-se que o Papa Bento XVI, em 2007, tinha estado no Brasil e visitou a sede da Fazenda da Esperança.

Paulo Marques, ao longo destes anos em Portugal, trabalhou também com o Grupo Esperança Viva (GEV), um instrumento de evangelização da Fazenda da Esperança na sociedade, existem dois em território nacional, em Lisboa, reúnem no Seminário franciscano da Luz, e outro na Amora, na Diocese de Setúbal.

“Vai encontrar pessoas, voluntários, famílias que já estão vivendo esse problema, da qual nós estamos tentando ajudá-los para que os filhos queiram querer. É isso que nós queremos que as famílias entendam, que os filhos muitas vezes não querem, e acham que o problema está no filho. Não, porque quem tem esse problema na família, todo mundo fica doente, nós ajudamos eles na questão da codependência para que eles possam ajudar os filhos a querer”, acrescentou.

Segundo o missionário, quando alguém acaba o seu tratamento na Fazenda da Esperança “é bom que participem” nas reuniões do GEV, “para ajudar outros meninos, para que eles se sintam incentivados a vir fazer esse tratamento”, e para um “apoio fundamental, fazer manutenção da sua doença”.

Igreja/Sociedade: «Espiritualidade, trabalho, convivência», o tripé que ajuda a recuperar projetos de vida na Fazenda da Esperança

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Agência ECCLESIA

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