Igreja/Sociedade: Educar para a empatia, para o valor do tempo e da escuta transforma relações e a sociedade – Ana Lúcia Agostinho

Psicóloga educacional, responsável durante cinco anos pela Pastoral Juvenil da Diocese de Setúbal, alerta para importância do acompanhamento holístico do ser humano e para gerações de crianças formadas sobre pressão e sem autoconfiança

Foto: Agência ECCLESIA/LJ

Lisboa, 08 jan 2025 (Ecclesia) – Ana Lúcia Agostinho, psicóloga educacional, afirma ser essencial educar para a “empatia”, e ajudar a formar gerações para a “espera”, para o valor do “tempo”, aposta que pode “transformar sociedade e a forma como olhamos” as pessoas.

“As nossas dores estão ligadas a alguma falta que estamos a sentir ou sentimos. É necessário sermos mais empáticos uns com os outros, termos maior compaixão por aquilo que o outro está a viver, a atravessar com os recursos que tem e que eu apenas posso entender cognitivamente. Estar disponível para apoiar transforma muito as nossas relações, transforma até a sociedade, se conseguirmos aprender a olhar assim uns para os outros”, explica à Agência ECCLESIA.

Vocacionada para acompanhar crianças, adolescentes e jovens, Ana Lúcia explica a importância de enfrentar o tempo como um dos grandes desafios da atualidade, assim como a confiança, em falta em tantas crianças e adolescentes que “caiem nos erros de comparação” e se sentem pressionados e sem autoestima.

“Está tudo muito rápido, muito automático. Queremos uma resposta imediata quando mandamos uma mensagem, não sabemos esperar, e temos receio de parar”, lamenta.

A profissional assinala a importância de uma abordagem holística no acompanhamento de pessoas e recorda uma conversa com uma paciente, com 15 anos, que encontrava conforto a “olhar o céu e a conversar porque sem saber por quem, sentia-se escutada”.

Partilhou comigo, e pediu-me para não contar aos pais, que à noite gostava de se sentar à janela, a olhar o céu e ficar a falar com o céu. Achei uma história deliciosa e perguntei-lhe porque é que ela não queria contar aos pais e ela disse-me que receava não ser compreendida porque os pais eram muito ligados à ciência. Disse-me que conversava sobre tudo e que esses momentos eram bons porque se sentia escutada”.

A psicóloga traduz que todo o ser humano tem uma “dimensão espiritual” que deve ser valorizada sem receio de ser entendida como “frágil ou vulnerável”.

“As duas falávamos de uma vivência religiosa, não é? Ela não chamava aquilo de rezar, eu chamaria. Todos nós temos uma dimensão espiritual, que acho que é uma dimensão que temos desleixado muito, posto até de parte como que é uma área de fragilidade, de vulnerabilidade, que é melhor nem olhar, nem sequer equacionar. Mas faz parte da nossa dimensão humana e é algo também que nos caracteriza enquanto seres humanos”, explica.

A intervenção técnica tem de ser cuidada, cuidar dos objetivos, mas não podemos esquecer que à nossa frente está um mistério, uma pessoa que é única, que é especial e que está em crescimento. Olhar com essa capacidade de admirar ou de tentar olhar o outro como se fosse Jesus, é importante para mim. Existem muitos estudos para diversas abordagens, mas tem-se percebido que a grande questão é a qualidade da relação que se estabelece com o outro”.

Ana Lúcia Agostinho foi, durante cinco anos, responsável pela equipa de pastoral juvenil da Diocese de Setúbal, num total de sete anos dedicado aos jovens.

“Na minha paróquia, Vila Nova de Caparica, não havia muitos jovens nem grupos de jovens. A adolescência e juventude foram, para mim, uma fase solitária. Com a entrada na faculdade – e eu acho que é uma fase onde os jovens vivem com alguma dificuldade a fé – eu sentia-me um pouco esquizofrénica, a viver duas coisas diferentes, parecia que não conseguia conjugar”, recorda.

Tendo atravessado esta fase onde, afirma, nunca ter sentido dúvidas sobre o caminho cristão que seguia, mas sim uma necessidade de se encontrar, Ana Lúcia foi procurando posteriormente, em grupo, encontrar formas para que outros jovens não tivessem de passar o que experimentou.

“Recordo-me de ter cinco anos e ter muita dificuldade para dormir e a minha mãe me ensinar a rezar. Sinto que foi o maior recurso que ela me deu para lidar com os problemas. Por isso a oração sempre esteve muito presente a oração em tudo. Tens um problema? Reza. Estás contente? Reza para agradecer. Estás na dúvida? Reza, que vais encontrar respostas”, recorda.

A conversa com Ana Lúcia Agostinho pode ser acompanhada esta noite na Antena 1, no programa Ecclesia emitido pouco depois da meia-noite, e disponibilizado no podcast ‘Alarga a tua tenda’.

LS

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