Igreja/Sociedade: Crise deve ser «uma ocasião para ajudar a refundar e a pensar o país»

Antigo vice-reitor do Seminário de São José de Caparide diz que é preciso repensar o modo como as pessoas são solidárias e caminham em conjunto

Angra do Heroísmo, Açores, 30 jan 2014 (Ecclesia) – O antigo vice-reitor do Seminário de São José de Caparide, do Patriarcado de Lisboa, diz que a crise e a secularização da cultura portuguesa deve levar a Igreja Católica a repensar a sua relação com a sociedade.

Em entrevista ao portal da Diocese de Angra, nos Açores, onde vai orientar dois retiros para sacerdotes, o padre Ricardo Neves realça que a atual conjuntura socioeconómica representa para a Igreja Católica “uma ocasião para ajudar a refundar e a pensar o país”.

“Não é a questão financeira, é a própria identidade cultural da sociedade portuguesa, a maneira de entender a vida, das pessoas serem solidárias, de caminharem em conjunto. Tudo isto deve ser uma oportunidade para a Igreja devolver a alma a este país, com menos distanciamento”, sustenta o sacerdote.

De acordo com o padre Ricardo Neves, um dos pontos em que as estruturas católicas mais precisam de apostar é “criar oportunidades para que as pessoas possam por a mão na massa”, ou seja, que se envolvam mais na construção de uma sociedade diferente, mais justa e fraterna.

Atualmente ao serviço da Paróquia do Estoril, em Lisboa, o sacerdote aponta também para a necessidade da Igreja Católica combater a secularização da sociedade através da criação de uma cultura de “acolhimento” dentro das comunidades, para que “aqueles que vêm de novo sintam que têm espaço e que são bem-vindos”.

O segundo desafio é que a “abordagem” da Igreja à sociedade seja também mais “acolhedora, personalizada e muito clara”.

Para o antigo vice-reitor do Seminário de Caparide, é fundamental que os agentes pastorais sejam “capazes de oferecer” às pessoas “o verdadeiro conteúdo da fé”.

“Não pode ser uma mera adesão emocional, já não chega. Em segundo lugar, deve ser uma experiência integrada no seio da comunidade, que valorize os sacramentos – o da eucaristia e o da reconciliação. Em terceiro lugar, é preciso que a experiência seja materializada colocando os cristãos ao serviço”, complementa.

O Papa Francisco, desde o início do seu pontificado, tem alertado as estruturas da Igreja Católica para a importância de desenvolverem um sentido mais apurado de missão, de irem ao encontro das pessoas, sobretudo daquelas que estão mais afastadas da fé, que estão nas periferias.

A solução mais natural deve passar pela mobilização de “cada um dos cristãos”, para que “transportem a alegria do evangelho” aos outros, realça o padre Ricardo Neves.

Segundo o sacerdote, “será um erro grave se a Igreja procurar encontrar metodologias pré-definidas para partir para as periferias. Primeiro há que ter comunidades muito bem alicerçadas”, conclui.

JCP

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