«Não podemos compactuar com 10% de pobreza em quem trabalha» – José Manuel Cordeiro
Lisboa, 11 out 2024 (Ecclesia) – A Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJP), da Igreja Católica em Portugal, vai promover este sábado a sua conferência anual, com o tema ‘O desafio do trabalho digno num mundo em mudança’, no Centro Cultural Franciscano, em Lisboa.
“Este título é uma denúncia e, ao mesmo tempo, é uma inquietação. É uma denúncia pelo facto que continuamos a ter grandes problemas sociais no emprego, não podemos compactuar com 10% de pobreza em quem trabalha. Há novas formas de trabalho, novas formas contratuais, e essa denúncia é importante. Mas é também, à partida, uma esperança de que caminhamos para uma alteração do paradigma do modelo social”, disse José Manuel Cordeiro, membro da CNJP, à Agência ECCLESIA.
O entrevistado, que tem analisado as questões do emprego e do trabalho, assinala que “toda a gente anda a falar num novo contrato social” e têm de se ir preparando para essas mudanças, a palavra “mudança” no título da conferência nacional relaciona-se com a “rapidez” com a qual não estavam “habituados”.
José Manuel Cordeiro contextualizou que o conceito de “trabalho digno surgiu, não no sentido católico”, mas na Organização Internacional do Trabalho da ONU, em 1999, “para dar respostas aos problemas da globalização”, quando hoje, acrescenta, assiste-se à “desglobalização”.
“O conceito de trabalho digno engloba o bem-estar no trabalho, o bem-estar na família, o bem-estar depois do trabalho, o bem-estar também aquando do desemprego”, explicou.
A Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJP), organismo laical da Conferência Episcopal Portuguesa, realiza este sábado, a sua conferência anual, no Centro Cultural Franciscano, em Lisboa; a reflexão parte do tema geral ‘O desafio do trabalho digno num mundo em mudança’, e José Manuel Cordeiro acredita que “vai despoletar a discussão”, indicando que “é um ponto de partida e não um ponto de chegada”.
O padre Roberto Bongianni enviou um depoimento em vídeo sobre ‘O trabalho digno na visão da Doutrina Social da Igreja’, que para o entrevistado “é um marco” que vai ter informação para ser debatido,
Várias organizações vão apresentar “um manifesto” – Associação Cristã de Empresários e Gestores (ACEGE), Liga Operária Católica (LOC), Juventude Operária Católica (JOC), Acção Católica Rural (ACR) -, na conferência que tem ainda a colaboração do Movimento Católico de Profissionais (Metanoia) e da Federação Solicitude, do Patriarcado de Lisboa.
Para José Manuel Cordeiro os jovens “são um ponto fundamental” porque têm uma conceção de trabalho, “da vida em sociedade” e da segurança, no contexto da “aposentação ou reforma”, a sociedade “tornou as coisas individualizadas que, neste momento, cada um pensa de per si”.
Apesar de os jovens terem uma conceção diferente, a verdade é que é um panorama tão vasto etário no mundo do trabalho que a ideia é tentar conciliar e tentar fazer que perceberem que os problemas de uns muitas vezes não são os problemas dos outros, mas uns podem ajudar na resolução dos problemas dos outros”.
O padre José Manuel Pereira de Almeida, assistente do organismo laical, salientou que “o diálogo” entre gerações “não é só na família, é também no trabalho”, e destacou o “consenso alargado” sobre o tema da conferência que reúne várias organizações no âmbito católico.
No Programa ECCLESIA, emitido esta sexta-feira na RTP2, o sacerdote explica que a iniciativa se segue a outras conferências onde deram “voz aos pobres para combater a pobreza”, e essa é “outra acentuação da mesma realidade”, quando se sabe que há pessoas com trabalho em situação de pobreza.
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