Pastoral Penitenciária de Portugal e centro Restart desafiam alunos a olhar para realidade dos reclusos
Lisboa, 21 mar 2018 (Ecclesia) – A Pastoral Penitenciária, da Igreja Católica em Portugal, e o Instituto de Criatividade Artes e Novas Tecnologias – RESTART desafiam a partir de hoje os alunos a apresentar vídeos sobre as prisões com o concurso ‘Do outro lado da câmara: vidas e prisões portuguesas’.
“O que mais me fascina é perceber como é que as coisas podem mudar e o que fazer para as coisas mudarem”, disse a estudante Raquel Claudino, em declarações à Agência ECCLESIA, após o lançamento da iniciativa.
A jovem explicou que se entrar no concurso quer perceber o que é que se passa no sistema prisional português e “como é a vida cá fora, o pós” reclusão, “quais são os apoios” e como “melhorar lá dentro para poderem ter desenvolvimento muito mais fácil lá fora”.
Já para a diretora da RESTART o concurso é uma “oportunidade única” por conseguirem “levar os alunos a refletir” sobre “um conjunto de pessoas que estão relacionadas com as prisões”.
“Aqui falamos dos presos, das famílias, dos guardas prisionais, da instituição, das crianças, dos filhos, de todos que estamos do lado de cá e podemos lá parar um dia”, assinalou Filipa Oliveira que já ouviu “ideias muito interessantes”.
O concurso destina-se aos alunos da Restart em Lisboa e no Porto; a responsável pelo Instituto de Criatividade Artes e Novas Tecnologias acredita “que lhes vai trazer algum crescimento”.
“Somos uma escola e devemos promover o crescimento não só no que diz respeito às competências técnicas mas também às soft skills e às competências pessoais. Para nós, é de facto uma excelente oportunidade”, acrescenta Filipa Oliveira.
A jovem Eca Luchian considera que o concurso vai proporcionar, a nível pessoal, “um crescimento ainda maior” porque “é uma realidade completamente diferente” e a nível profissional destaca a “boa oportunidade para desenvolver outras competências”, como conseguir filmar perante “uma realidade completamente diferente”.
A estudante teve a ideia de proporcionar às pessoas reclusas “um dia diferente”, com cães dentro da prisão.
“Associar o abandono dos animais e os presidiários, como também são tratados, às vezes usando a expressão abaixo de cão. Tentar transmitir do outro lado da câmara o sentimento das pessoas”, explicou à Agência ECCLESIA.
O coordenador nacional da Pastoral Penitenciária afirmou aos alunos que é um “projeto maravilhoso” e “único” em Portugal, onde vão encontrar “pessoas fantásticas”.
“Põe os jovens no contacto com pessoas com uma marca de dor e de sofrimento. Às vezes, os jovens são mais alheios ao sofrimento, nem sempre contactam com pessoas em situação de sofrimento e isso pode ser para eles também coisa boa”, referiu o padre João Gonçalves à Agência ECCLESIA.
Com um trabalho de mais de 40 anos nas prisões, o sacerdote considera que os jovens vão, “sobretudo, ensinar muito com as suas conversas, interpelações, com as suas questões incómodas”.
“Queremos que questionem o nosso modo de proceder, de estar nas cadeias, nós Igreja Católica. Pode ser muitíssimo bom porque não queremos estar com a chapa batida de sempre”, acrescentou o padre João Gonçalves.
O concurso quer promover o conhecimento público da realidade prisional portuguesa e os vídeos, com uma duração máxima de 4 minutos, devem ser enviados até ao próximo dia 31 de julho.
Inês Leitão, a argumentista do documentário português ‘O padre das prisões’, espera “muita criatividade, muita originalidade”.
“Tenho a certeza que é gente com sangue na guelra, espero muita novidade, mesmo em termos estéticos. Aquilo que aconselho é terem muita persistência e não desistirem. O universo do sistema prisional português não é nada fácil”, desenvolveu a também assessora da Pastoral Penitenciária de Portugal.
O prémio do concurso ‘Do outro lado da câmara: vidas e prisões portuguesas’ é uma viagem a Barcelona com a possibilidade de conhecer a realidade prisional na cidade espanhola.
CB/OC