«Todos temos sido cúmplices» – Isabel Ribeiro, membro da Comissão Justiça e Paz da Diocese de Bragança-Miranda
Bragança, 24 mar 2021 (Ecclesia) – Isabel Ribeiro, da Comissão Justiça e Paz da Diocese de Bragança-Miranda, afirma que todos podem ser vítimas de violência doméstica e este combate merece uma abordagem “mais participada, firme e proativa”, alertando para o “excesso de individualismo e inação”.
“Temos sido incapazes de dar uma resposta, arranjar uma alternativa, dar esperança, acabar com o desespero. E, sucessivamente, prosseguimos, como se, afinal de contas, a realidade dos outros não fosse a nossa; E, também nós, em algum momento das nossas vidas, podemos ter sido ou vir a ser vítimas de violência doméstica”, escreve Isabel Ribeiro, num artigo de opinião publicado hoje na Agência ECCLESIA.
‘Violência doméstica – o crime sucessivamente ocultado’, é o título do texto da professora e investigadora que faz parte da equipa da Comissão Justiça e Paz da Diocese de Bragança-Miranda.
Isabel Ribeiro observa que as vítimas de violência doméstica vivem o seu dia-a-dia “entre muros, isoladas de tudo o resto”, numa realidade que “querem esconder”, por vergonha, por culpa, por “não entenderem como foi possível acontecer” e todos “sem exceção” – família, amigos, sociedade, Estado – fracassaram.
“Pecámos por excesso de individualismo e inação”, acrescenta.
Recordando que a violência doméstica “é um crime público”, Isabel Ribeiro salienta que pelas vítimas, “pela dignidade da pessoa humana”, o combate à violência doméstica merece uma abordagem “mais participada, firme e proactiva”.
“Até porque ela associa-se cada vez mais a novas formas de desigualdade de género, agora na forma de discriminação digital. Todos temos sido cúmplices”, observa o elemento da Comissão Justiça e Paz da Diocese de Bragança-Miranda.
No artigo de opinião, Isabel Ribeiro recorda os números da violência doméstica e indica que em 2020, ano da pandemia, “mais crimes ocultados, vítimas desprotegidas”, resultaram em 32 homicídios.
A sociedade, acrescenta, parece “estar mais atenta”, com programas de reeducação para agressores, desde 2014, com “aumento dos reeducandos em 26% de 2019 para 2020”.
CB/OC