Antigo responsável da seleção de futsal dos padres de Portugal destaca importância do Jubileu do Desporto, celebrado no Vaticano
Porto, 15 jun 2025 (Ecclesia) – O padre Manuel Fernando Silva, ex-jogador e ex-treinador da equipa de futsal dos padres portugueses, defendeu que a formação de dirigentes desportivos é fundamental para melhorar o setor do desporto, cujo Jubileu se encerra hoje no Vaticano.
“Tem sido melhorada a formação dos árbitros, tem sido melhorada a formação dos atletas, cada vez mais. Tenho essa certeza, mas os dirigentes não acompanharam, a todos os níveis, porque também deveriam ter uma formação ao nível das leis do jogo, que não percebem, só percebem quando são prejudicados”, disse o pároco de Alfena, na Diocese do Porto, convidado da entrevista semanal conjunta Ecclesia/Renascença.
No dia em que Leão XIV encerra, no Vaticano, o Jubileu do Desporto, o sacerdote e dirigente desportivo convida a valorizar a dimensão “ética”, em todos os intervenientes.
“O desporto tem de ser alimentado, não com dinheiro, mas com formação”, sustenta.
O padre Manuel Fernando Silva, também presidente da Irmandade dos Clérigos, considera que algumas situações protagonizadas por dirigentes são uma “vergonha”, questionando o “frenesim de ganha”, particularmente nos escalões de formação.
“A derrota num jogo não significa a fraqueza”, aponta.
Olhamos para o desporto como negócio, olhamos para o desporto nesta questão de poder, às vezes de uma rampa de lançamento para outras coisas, mas é importante não esquecer que o desporto, antes de mais, trata, constitui um ponto de comunhão, de partilha.”
O sacerdote e dirigente desportivo considera que a Igreja tem feito um esforço de diálogo, “ao chamar, ao escutar, ao partilhar experiências” para promover a “verdadeira dignificação do desporto”.
“O desporto também pode contribuir para a santificação, pode contribuir para a valorização da pessoa, e pode naturalmente constituir uma plataforma de elevação”, acrescenta.
Questionado sobre a importância do evento jubilar, no Vaticano, o entrevistado destaca o “sentido de responsabilidade” de todos os intervenientes no mundo do desporto, assinalando que tudo o que fazem tem um “impacto enorme”.
“É importante que os agentes responsáveis por esta valorização do desporto, pela sua dignificação, procurem sempre constituir plataformas de entendimento, de partilha de ideias, para que a ambição e até uma certa ganância não esvaziem o desporto daquilo que tem de belo, que é realmente esta partilha diversa com pessoas de vários países”, prossegue.
O padre Manuel Fernando Silva recorda a sua experiência como participante nos campeonatos europeus de futsal, para sacerdotes católicos, defendendo que “o desporto é para valorizar o homem, para o dignificar e para construir pontes entre todos”.
“O que fica são as experiências, o encontro, a diversidade de países, de padres, de culturas, de jeitos até de rezar de forma diferente. O desporto acaba por ser esta ponte que depois constitui um elo fundamental que nos liga a todos”, precisa.
O responsável sustenta que o desporto “não pode servir de batalha campal nem de protesto pelo que quer que seja”, lamentando a violência associada a alguns grupos de adeptos.
Na Diocese do Porto, às quartas-feiras, há um grupo de padres que se encontra em Alfena para um jogo e depois para o almoço, marcados através de um grupo de WhatsApp com a designação ‘fiéis à bola’.
“É um momento de verdadeira oxigenação para todos nós. As pessoas que estão completamente à vontade, descontraídas, estamos entre irmãos”, explica o padre Manuel Fernando.
O desporto tem esta linguagem universal que proporciona a comunhão. E o desporto é belo quando consegue fazer isso, onde realmente há uns que têm de ganhar, há outros que têm de perder, mas no fundo cada um sabe estar e sabe aceitar as qualidades, as suas limitações, e no fundo também ficamos felizes quando tudo isso acontece num ambiente de descontração”.
Da experiência nos campeonatos europeus de futsal para padres católicos, o entrevistado recorda em particular a experiência na Bielorrússia, onde alguns participantes “nem queriam falar sobre questões políticas, porque os telefones estavam sob escuta”
“Apercebemo-nos deste mundo diverso, das dificuldades, e eu acho que isso que nos ajuda a sermos mais solidários, mais atentos, mais comprometidos e mais respeitadores das diferenças”, conclui.
Henrique Cunha (Renascença) e Octávio Carmo (Ecclesia)