Secretário-geral da ONU assina «limiar» da nova obra «Portugal Católico»
Lisboa, 21 nov 2017 (Ecclesia) – O secretário-geral da ONU, António Guterres, sublinha o papel dos católicos na construção da democracia, no texto que assina para a nova obra ‘Portugal Católico’, que vai ser apresentada hoje em Lisboa.
“Falar hoje do Portugal Católico é integrar esse tema na construção, sempre imperfeita e inacabada, de uma sociedade aberta e de uma democracia política, social, económica e cultural em que todos tenham lugar”, refere o antigo primeiro-ministro português.
No ‘Limiar’ do livro, a que dá o título de “Democracia para as pessoas”, Guterres fala da “convergência” de diversos contributos e da importância da renovação lançada pelo Papa João XXIII, em particular pela sua encíclica ‘Pacem in Terris’ (1963), e pelo Concílio Vaticano II (1962-1965).
“Pode dizer-se, assim, que a moderna democracia portuguesa, implantada em 25 de abril de 1974, correspondeu a um compromisso complexo, maturado através da cooperação entre pessoas e grupos de origens e formações diferentes – a partir da liberdade de consciência, da prática da laicidade, da separação entre Estado e confissões religiosas –, centrado na liberdade, no pluralismo, no respeito mútuo e na construção exigente do bem comum, da paz e do desenvolvimento humano”, escreve.
A obra ‘Portugal Católico’, com cerca de 800 páginas, representa, segundo os coordenadores do projeto, “uma radiografia abrangente da Igreja Católica” e “uma espécie de dicionário enciclopédico do catolicismo contemporâneo português”.
O “testemunho pessoal” de António Guterres sublinha o papel “mobilizador” do Concílio Vaticano II, “não no sentido da repetição ou da rotina, mas da procura de novos compromissos e desafios”, elogiando as “para uma colaboração necessária entre católicos e não católicos” que foram abertas nos pontificados de João XXIII e Paulo VI, “no sentido do bem comum e do desenvolvimento”.
“Era preciso sair para a rua (como hoje proclama o Papa Francisco) e ir para onde havia pobreza, injustiças e exclusão. Recusávamos o mero assistencialismo; era preciso pensar em políticas públicas, consistentes, que atacassem o mal do atraso e do subdesenvolvimento – que, no nosso caso, estava bem próximo, para quem quisesse ver, e não podíamos ignorar”, escreve o secretário-geral da ONU.
Guterres evoca figuras da Igreja Católica em Portugal, no século XX, como o padre Abel Varzim ou D. António Ferreira Gomes, bispo do Porto, como exemplos da consciência de que era necessário “lutar pela liberdade e pela justiça social, contra a pobreza e a exclusão”.
“Sim, em vez da esmola era preciso dar a cana de pesca, mas, mesmo assim, esta era insuficiente – era preciso a educação e a formação, a aprendizagem. E esse desafio obrigava a uma disponibilidade total. Era preciso dar atenção, acompanhar e cuidar”, acrescenta.
O secretário-geral da ONU assinala, em conclusão, a importância de manter as marcas de “capacidade de integração e de complementaridade” na sociedade portuguesa.
“Um mundo global precisa, no fundo, a um tempo, de modéstia e de capacidade de compreender. Eis o que não deveremos esquecer”, apela.
No livro ‘Portugal Católico’ abordam-se temas do âmbito da teologia, da pastoral, do eclesial, da medicina, da política, da justiça, da sociedade, do ambiente, da música, da arte, da comunicação social, do turismo, da educação, da solidariedade e do desporto.
Uma edição especial foi entregue ao Papa Francisco, a 20 de setembro; esta tarde, o livro é lançado na Aula Magna da Reitoria da Universidade de Lisboa pelo cardeal-patriarca e presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, D. Manuel Clemente, e pelo presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.
A sessão conta ainda com a atuação dos artistas Rão Kyao, Cuca Roseta e Teresa Salgueiro.
Novas sessões de apresentação vão decorrer a 28 de novembro, no Porto, no Palacete Araújo Porto, pelas 17h30, e em Braga no dia 30, no Museu Pio XII, a partir das 21h15.
OC