Voluntária da Comunidade de Santo Egídio em Portugal destaca trabalho que promove o encontro
Lisboa, 06 jan 2020 (Ecclesia) – Rita Gomes, da Comunidade de Santo Egídio, afirma que “a paz começa” quando se tenta “perceber o outro”, um trabalho que a organização promove em Portugal e que viveu como voluntária num campo de refugiados em Lesbos.
“A paz começa quando tentamos perceber o outro. Se só estivermos a viver muito no ‘eu’ perdemos toda essa sensibilidade, o que é importante é tentarmos perceber o que aconteceu ao outro”, referiu em entrevista à Agência ECCLESIA, transmitida hoje.
No verão de 2019, Rita Gomes participou nas férias solidárias com refugiados que a comunidade católica promoveu no campo grego de Lesbos e afirma que essa “experiência foi bastante marcante”.
“A realidade é completamente diferente, chegamos a uma ilha paradisíaca e depois vemos a realidade dos refugiados, do caminho que fazem”, assinala.
A voluntária portuguesa contextualiza que de Mitilene, a capital da ilha de Lesbos, conseguem ver a Turquia, “a proximidade é muito grande”, e o caminho que os refugiados “fazem é horrível, muitos do Afeganistão”, e atravessam para a Europa “em barcos frágeis”.
“As notícias falam em muitos homens mas conhecemos muitas famílias, com 10 pessoas. Famílias enormes, desde uma criança de 10 anos a uma recém-nascida, e vemos que só querem um sítio de paz”, desenvolve.
Rita Gomes alerta para “uma realidade chocante” que se vive no Campo de Moria, “para três mil pessoas e atualmente tem 13 mil”, onde tendas têm “conjuntos de três famílias, com três metros quadrados para cada uma”.
Os voluntários da Comunidade de Santo Egídio iam “todos os dias” ao campo de refugiados e dinamizavam diversas atividades: “Promovíamos o encontro, o diálogo e estávamos todos juntos em família”.
Neste contexto, destaca que “todas as noites” faziam um jantar onde proporcionavam o encontro também das famílias na refeição, “porque as condições na tenda eram tão pequenos nunca podiam fazer um jantar em família” e de “200 pessoas no início” o grupo foi crescendo e os voluntários ultrapassaram “a barreira linguística” com o apoio de refugiados que os ajudavam.
“Há refugiados que chegam a estar cerca de dois anos nestes campos, é muito tempo”, explica Rita Gomes, adiantando que na comunidade de origem italiana tentam “fazer um levantamento” destas informações para “ser mais fácil” a sua integração na Europa.
A voluntária portuguesa relata que a zona das famílias com crianças tinha “arame farpado” mas “não havia perigo” para esta proteção porque “são pessoas que apenas procuram um local onde possam crescer, viver, onde as famílias não corram perigos”.
A Comunidade de Santo Egídio, que tem como “missão fundamental promover a paz”, é conhecida como a ‘pequena ONU católica’ e foi fundada no bairro italiano de Trastevere, em Roma, em 1968.
Em Portugal está em três dioceses – Lisboa, Porto e Santarém – onde dinamiza a ‘escola da paz’ com as crianças, a visita aos doentes e momentos de oração, como a que promove “todas as quintas-feiras na Capela do Rato”.
“A comunidade tenta fazer o encontro com o pobre, o encontro entre religiões, encontro com outras realidades diferentes das nossas. Através desse encontro promovemos o diálogo, amizade, acabamos de nos pôr nos pés dessas pessoas e começamos a perceber porque é que as escolhas muitas vezes não são iguais às nossas”, desenvolveu Rita Gomes.
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