Igreja/Sociedade: «Fome num mundo de abundância não é inevitável», alertam líderes religiosos sobre o direito à alimentação e nutrição

Organizações e Igrejas lançam apelo e manifestam preocupação com recursos em «gastos militares em detrimento da ajuda humanitária e da proteção social»

Cidade do Vaticano, 23 out 2025 (Ecclesia) – A Caritas Internationalis, com a World Vision e o Conselho Mundial de Igrejas, organizações que representam diversas tradições religiosas, publicaram uma declaração onde afirmam que o “acesso a alimentos adequados e nutritivos é um direito humano fundamental”.

“A fome num mundo de abundância não é inevitável — é uma escolha. Como pessoas de fé, a forma como tratamos os famintos reflete a nossa relação com o divino e o nosso compromisso com a justiça. As nossas tradições morais exigem nada menos do que a plena realização do direito à alimentação para todas as pessoas na Terra”, lê-se declaração, enviada à Agência ECCLEISA.

Os líderes religiosos e comunidades comprometem-se a “defender mudanças” e a trabalhar por elas em todas as “esferas de influência”, e alertam que, atualmente, “cerca de 673 milhões de pessoas sofrem de fome crónica”, mesmo com os sistemas alimentares globais a produzirem “o suficiente para alimentar toda a população”.

“Cerca de 150,2 milhões de crianças em todo o mundo sofreram atrasos no crescimento devido à desnutrição em 2024, prejudicando o crescimento físico e o desenvolvimento cognitivo”, acrescentam, partilhando a profunda preocupação com os recursos que priorizam “os gastos militares em detrimento da ajuda humanitária e da proteção social”.

A Caritas Internationalis, a World Vision e o Conselho Mundial de Igrejas, especificam ainda que, em 2024, “cerca de 1 em cada 8 pessoas enfrentou conflitos”, os gastos militares globais ultrapassaram os 2,7 trilhões de dólares, “um aumento de 9,4% em relação a 2023”, enquanto o financiamento para assistência alimentar humanitária “continua cronicamente inadequado”.

O Sudão tem mais de 3,2 milhões de crianças com menos de cinco anos que enfrentam insegurança alimentar aguda; mais de meio milhão de pessoas na Palestina passam fome. Exortamos os governos a redirecionar recursos para acabar com a fome, apoiar a construção da paz e impedir que a fome seja usada como arma de guerra.”

As organizações religiosas afirmam que a generosidade da terra se destina “a toda a humanidade”, e que a insegurança alimentar afeta “desproporcionalmente mulheres, crianças, comunidades indígenas e comunidades marginalizadas”.

Na declaração conjunta apelam por justiça e ação aos governos e organismos internacionais para garantir o direito à alimentação e nutrição para todos, em sete pontos, e começam pelo “reafirmar o compromisso com o direito à alimentação”, que seja consagrado “nas constituições e quadros jurídicos”, com metas de responsabilização exequíveis.

É pedida uma retribuição dos recursos, que se mudem as “políticas centradas no lucro e na segurança”, o investimento “nos pequenos agricultores”, com financiamento e apoio inclusivos, “especialmente mulheres, que produzem cerca de 70% dos alimentos do mundo”, sem esquecer a implementação de “políticas climáticas ambiciosas”.

A Caritas Internationalis, a World Vision e o Conselho Mundial de Igrejas apelam ao cancelamento de “dívidas insustentáveis e ilegítimas”, que se proporcione “uma reestruturação justa das dívidas insustentáveis”, a garantia de participação, “o envolvimento significativo das comunidades afetadas, incluindo crianças, na tomada de decisões”, e o fortalecimento da uma “proteção social abrangente”, garantindo que ninguém passe fome.

CB/OC

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