Perito que acompanhou a última assembleia dos bispos esteve em Portugal e falou com a Agência ECCLESIA
Lisboa, 18 nov 2015 (Ecclesia) – O padre José Granados Garcia diz que o último Sínodo dos Bispos foi “muito mais” do que um “debate doutrinal” sobre a família, ou sobre a questão dos “divorciados e recasados”, como passou em termos mediáticos.
“Certamente que tivemos discussões, o tema da comunhão aos divorciados é importante para a Igreja porque está em jogo a união entre os sacramentos do matrimónio e da eucaristia. Mas ele foi abordado numa visão de conjunto, sobre a importância da família”, realça o sacerdote espanhol, que participou no Sínodo como perito convidado.
Para o também consultor da Congregação para a Doutrina da Fé, que falou com a Agência ECCLESIA, a tendência de “reduzir” o encontro de Roma a estas matérias mostra a “visão política” que o mundo tem da Igreja Católica.
“Falou-se em bispos conservadores e progressistas? O Papa desde o início sublinhou que o Sínodo não era um congresso ou um parlamento, mas sim uma forma de tentar ver os melhores caminhos de Deus para as famílias”, recorda.
Na sua entrevista, o padre José Granados Garcia destaca o empenho dos bispos em buscarem “novos caminhos” de felicidade para as famílias e em fazer das famílias cristãs motores de mudança numa sociedade em crise.
“Sendo família, amando em família, vivendo na plenitude da família, irradia-se para a sociedade a luz do amor que transforma a sociedade e que dá vida à Igreja”, frisa o sacerdote.
O especialista refere também a preocupação da Igreja Católica para uma pastoral mais orientada para os desafios e problemas das famílias, a partir de um trabalho que envolva vários setores.
“Falta uma maior interligação entre setores pastorais como a pastoral familiar, juvenil, vocacional, social, onde a família seja o fator de unidade”, reconhece o sacerdote espanhol, que dá alguns exemplos.
“Se não ensinamos aos jovens que a vocação conduz ao amor, que vem da família e passa pela família, a pastoral juvenil não vai passar de um conjunto de atividades sem um sentido de fundo”, sustenta.
“Se não houver uma educação para a família, se não fizermos da família um protagonista da luta contra a pobreza, a pastoral social não passará de uma pastoral do instante, sem olhar a longo prazo”, acrescenta.
Sobre a situação dos divorciados e recasados, o sacerdote destaca que “o Sínodo deu várias respostas, entre elas que a ajuda às famílias em situação difícil ou irregular tem de ser de tal modo que as leve à conversão”, sem nunca pôr em causa “o magistério da Igreja”.
“O documento do Sínodo insistiu muito nisto, que estas pessoas são batizadas, são filhas de Deus, membros da Igreja. A Igreja tem assim, com a comunidade, de fazer um esforço para as acolher, ajudando-as a um caminho de conversão”, explica o padre José Granados Garcia, frisando que “o acesso à eucaristia depende sempre disso”.
“Não por aquilo que a Igreja diz ou não diz, mas porque é esta a estrutura dos sacramentos que Jesus deixou à Igreja e que ela não pode mudar por si mesma”, complementa.
O perito do Sínodo aponta ainda que “aqui não está em causa a falta de misericórdia” por parte da Igreja Católica em relação a estas famílias ou pessoas.
“Permitir à pessoa viver de acordo com o evangelho é a própria meta da misericórdia”, conclui o sacerdote espanhol, que é também vice-presidente do Instituto João Paulo II para o Estudo do Matrimónio e da Família.
JCP