Ensaísta checo propõe realização de Sínodo ecuménico de teólogos, para abordar desafios comuns
Lisboa, 21 nov 2024 (Ecclesia) – O teólogo e ensaísta checo Tomás Halík disse hoje à Agência ECCLESIA que a sinodalidade é “absolutamente decisiva” para o futuro da Igreja, apontando à necessidade de uma abordagem ecuménica dos desafios do Cristianismo.
“A sinodalidade é o mais importante, porque deve ser a forma da Igreja. O Papa Francisco disse que a sinodalidade é uma nova forma de ser cristão, é uma nova forma de ser Igreja no nosso mundo”, referiu o sacerdote, que apresenta em Portugal a sua nova obra, ‘O sonho de uma nova manhã. Cartas ao Papa’ (Ed. Paulinas).
O autor sublinha que, num mundo marcado pela desconfiança relativamente às instituições, “as pessoas precisam de alguém que as acompanhe com respeito, que as escute, não apenas para ter todas as boas respostas para todas as perguntas”.
“Neste acompanhamento das pessoas, a Igreja do futuro deve ser a Igreja que acompanha”, sustenta.
Devemos ser uma Igreja sinodal, isto é, a Igreja que é mais católica no sentido universal, ecuménica, aberta, acolhedora, integradora, portanto, realmente mãe e irmã”.
A assembleia sinodal, cuja segunda sessão decorreu de 2 a 27 de outubro, com o tema ‘Por uma Igreja sinodal: participação, comunhão, missão’, começou com a auscultação de milhões de pessoas, pelas comunidades católicas, em 2021; a primeira sessão da XVI Assembleia Geral do Sínodo decorreu em outubro de 2023.
Francisco promulgou o documento final e enviou-o às comunidades católicas, sem publicação de exortação pós-sinodal, uma possibilidade prevista na constituição apostólica ‘Episcopalis communio‘ (2018).
Para Tomás Halík, o próximo passo no caminho sinodal poderia ser um “Sínodo ecuménico de teólogos”.
“O aniversário do primeiro Concílio Ecuménico [Niceia, 325], no próximo ano, é uma boa oportunidade para convocar este primeiro Sínodo teológico, o Sínodo ecuménico”, precisa.
O teólogo checo elogia o método implementado no Sínodo, com as suas mesas-redondas, que inclui momentos de escuta e oração recíproca.
“Penso que seria um grande acontecimento, um Sínodo de teólogos, mas ecuménico”, observa.
A obra ‘O sonho de uma nova manhã’ é composta por uma série de 12 cartas a um Papa imaginário, Rafael, sobre os desafios de futuro da Igreja.
“Em primeiro lugar, a Igreja precisa de uma descentralização, porque muitas coisas dependem da cultura”, assinala o padre Halík.
Questionado sobre a ordenação sacerdotal de homens casados, o entrevistado recorda que há “muitos padres casados” na Igreja Católica, nos ritos orientais.
“Não há qualquer problema com isso. Haverá talvez, mas tem de haver uma reforma da educação, da formação dos padres”, aponta, assumindo que “haverá novos problemas”.
Penso que no futuro teremos ambos na Igreja, padres casados e celibatários. Os celibatários talvez voltem às origens, que foram as comunidades monásticas, e isso tem sentido, mas para alguns padres nas paróquias seria talvez mais conveniente se tivessem a sua própria família. Veremos”.
Sobre a situação das mulheres, o ensaísta sublinha que a mesma “depende ainda mais da cultura, do reconhecimento da sua dignidade”.
“Penso que no futuro haverá muito mais lugares, cargos e possibilidades para as mulheres na Igreja”, assume.
O padre Tomás Halík entende que a Igreja Católica deve ser o “povo da esperança”, com a “coragem de entrar na nuvem do mistério”.
“Por vezes temos de viver com algumas questões em aberto e não precisamos do otimismo como uma ilusão, de que tudo vai correr bem, mas da paciência e da força para suportar a situação difícil”, indica.
O sacerdote profere hoje, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, a conferência ‘Ler os sinais dos tempos’, que pode ser acompanhada online no canal de YouTube da Agência ECCLESIA.
OC
Espiritualidade: «A Igreja do futuro deve ser a Igreja que acompanha» – padre Tomás Halík