No contexto das ordenações sacerdotais que acontecem em muitas dioceses, o padre Nuno Amador fala do perfil do sacerdote na atualidade, dos processos de descoberta vocacional «em todas as idades» e da formação no seminário, que «não é um aquário»
Lisboa, 05 jul 2019 (Ecclesia) – O responsável pela Pastoral Universitária em Lisboa, padre Nuno Amador, afirmou que ser sacerdote hoje é ser “acompanhador” nas “buscas pessoais” e nos “momentos limite”, assumido por quem decidiu pelo sacerdócio deixando-se “capacitar” para essa missão.
“Penso que os momentos da vida das pessoas, os momentos importantes e os momentos limite da vida, são aqueles que mais pedem a presença do sacerdote”, afirmou o padre Nuno Amador em entrevista à Agência ECCLESIA e à Renascença.
O também vice-reitor do Seminário dos Olivais considera “um dom imenso” poder “acompanhar os universitários, os jovens e os casais, pares de namorados, na preparação para o casamento, casais jovens que pedem a presença do padre como acompanhador das suas vidas”.
O padre Nuno amador referiu que as pessoas pedem ao sacerdote “não que as substitua na sua vida da fé e no caminho que precisam de fazer”, mas desejam que “as anima no caminho da fé e as acompanha nesse caminho”.
Nuno Amador manifestou “muito gosto” em poder “acompanhar pessoas que a certa altura se deixam interpelar”, acrescentando que “aqueles que arriscam e aceitam o desafio de sair de si e de ir ao encontro dos outros em campos de férias, missões universitárias, voluntariado, ações de serviço” dão depois mais um passo para o “acompanhamento espiritual”.
“Muitas vezes começam aí a desenvolver esta atenção àquilo que são os sinais da vocação, começa a nascer dentro das pessoas este desejo de aprofundar, às vezes ainda genérico, sem saber que ‘mais’ é esse, mas que a certa altura se vai concretizando em passos de discernimento”, referiu responsável pela Pastoral Universitária.
Para o padre Nuno Amador, propor uma decisão para toda a vida aos jovens “é difícil, mas não é impossível”, exigindo que cada um não se centre nas suas “aptidões e capacidades”, mas no que cada um coloca “a render”, a “ser capacitado”.
“Quando Deus chama, acompanha aquele que chama, está com aquele que chama. Se pusemos o acento nisso, então será mais fácil perceber que eu não tenho de fazer tudo depender de mim. Se, pelo contrário, tudo incidir sobre a força pessoal, parece-me mais difícil, porque a decisão de um ‘para sempre’, aparece como alguma coisa que, de facto, mete medo, para a qual não nos sentimos nem dignos nem capacitados”, afirmou.
A respeito do número de sacerdotes nas várias dioceses, o padre Nuno Amador considera que algumas estão a registar um crescimento, nomeadamente nas grandes cidades, e diz que a insuficiência de presbíteros “será sempre uma preocupação”, acrescentando que a “Pastoral Vocacional deve envolver toda a Igreja, todos os movimentos, as paróquias, a comunidade eclesial enquanto tal”.
“Isto diz-nos respeito a todos, é alguma coisa que deve preocupar a todos”, sublinhou.
O vice-reitor do Seminário dos Olivais considera que “toda a vida é vocação”, refere que “o chamamento de Deus acontece em todas as idades” e diz que é necessário ajudar os jovens a “olhar a vida como uma missão”.
Questionado sobre os percursos de formação, o padre Nuno Amador afirmou que “o seminário não é um aquário”, mas uma casa que propõe uma progressiva “inserção pastoral”, inclui leigos na formação e cria espaços de diálogo cultural.
A respeito do abandono de candidatos ao sacerdócio, o vice-reitor do Seminário dos Olivais considera que “não se ‘perdem’”, antes se “encontram pelo caminho”.
Nuno Amador é sacerdote no Patriarcado de Lisboa desde 2004.
Ângela Roque (Renascença) e Paulo Rocha (Agência ECCLESIA)
PR
«É difícil, mas não é impossível» propor aos jovens decisões na vida «para sempre» (c/áudio)