Igreja: «Ser católico é entender-se como vulnerável» – D. Erik Varden

Monge trapista e bispo de Trondheim, na Noruega, está em Portugal para lançar um livro «Romper a solidão – Sobre a memória cristã»

Lisboa, 12 abr 2023 (Ecclesia) – D. Erik Varden, monge trapista e bispo de Trondheim, na Noruega, está em Portugal para lançar o livro «Romper a Solidão» e afirmou hoje que o assumir a condição humana de “solidão e vulnerabilidade” conduz a um caminho de comunhão.

“Há o risco de fugirmos dessa solidão, através de distrações, entretenimento, intoxicações, porque não queremos sentir-nos vulneráveis, não gostamos de estar vulneráveis, mas a verdade é que somos vulneráveis como seres humanos. E só quando aceitamos isso, quando abraçamos e nos apropriamos dessa experiência podemos ir à nossa verdade, e encontrar uma forma de fazer dessa solidão um meio de encontro. Esse é o objetivo. O que experimentamos como dor é, na realidade, um grito para uma experiência de comunhão”, disse à Agência ECCLESIA D. Erik Varden.

O bispo de Trondheim encontra-se em Portugal para apresentar o seu mais recente livro «Romper a solidão – Sobre a memória cristã», com conferências marcadas para hoje, às 19hoo, com o professor universitário e filósofo António Castro Caeiro no Auditório Camões, e no dia 14 de abril, às 18h00, na Capela de S. Geraldo da Sé de Braga, com a presença de D. José Cordeiro, arcebispo de Braga.

Para D. Erik Varden, “ser católico é entender-se como vulnerável”.

“Na verdade, viver com um legado de escândalos de abusos, de prosseguir esta ferida aberta – queremos fugir disso também mas não podemos. A cura vem do confronto com a verdade. E a cura vem da assunção de responsabilidades a partir do local onde me encontro, para deixar Deus corrigir, perdoar, curar e dar vida a partir dai”, explica.

O monge trapista acredita que será este o caminho para “construir a Igreja de Jesus”, um caminho “continuamente a descobrir”.

“A nossa experiência atual de humilhação, no seu sentido mais básico, de nos descobrirmos no chão, é muito prometedora. Vivemos num tempo em que os cristãos não têm ilusões sobre si próprios, sobre a Igreja e é bom viver sem ilusões. Não é confortável ter as nossas ilusões derramadas, mas é bom”, confirma.

O bispo norueguês entende este como um tempo de esperança também e assinala que ser cristão é “ter esperança”, afirmando que não é difícil encontra-la em tantos gestos de “bondade, generosidade, gratuidade, amabilidade”, entre pessoas que “querem fazer algo bom e belo para os outros”.

“A solidão pode ser um ponto onde a esperança pode nascer se o deixarmos. Porque a solidão é aquele lugar que nos pode levar ao desespero ou pode levar-nos a uma radical abertura, que é o despertar para a esperança. Mas depende se estou preparado e pronto a arriscar”, reconhece.

Em entrevista o autor reconhece que sempre se preocupou em refletir sobre a solidão dos seres humanos, mas quis perceber como era a solidão “dos homens olhados por Deus”.

“Quando olhamos para o período patrístico dos padres da Igreja as questões sobre a verdade do homem, da natureza das relações, do amor entre criaturas criadas à imagem de Deus, esteve sempre na lista de prioridades. Parece-me que, na nossa sociedade, em que estamos tão perplexos sobre o ser humano, os cristãos têm um grande contributo a dar. E este livro quer apenas contribuir para isso”, indica.

D. Erik Varden quis ler a solidão a partir de uma análise bíblica, destacando que essa fragilidade indica “um apelo a algo maior “do que o ser humano.

“Eu, arrisco dizer que, é uma experiência na qual as pessoas que não têm fé podem reconhecer-se. Portanto, a partir dessa experiência podemos construir uma ponte para os nossos traumas modernos e desejos mais profundos”, assinala.

Em 2019, o monge trapista foi surpreendido com a nomeação do Papa Francisco para ser bispo de Trondheim, que assumiu em outubro de 2020, quando acreditava que passaria a sua vida num mosteiro e ali morreria.

“Estou a tentar descobrir como ser monge trapista e bispo ao mesmo tempo. Acho que São Bento tem muito a dizer ao mundo e os fundamentos da vida monástica podem ser aplicados em diferentes contextos: por exemplo, a obediência, é basicamente sobre tentar encontrar os motivos cimeiros do que organiza a minha vida; a hospitalidade, segundo São Bento, é acolher todos tal como acolheríamos o próprio Cristo. É uma forma de transpor os mesmos valores numa nova expressão, e eu tenho de procurar fazer o trabalho que me é confiado a partir da minha realidade e do que sou, com limitações e possibilidades”, explica.

LS

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Agência ECCLESIA

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