Igreja: Senhor Santo Cristo tem «presidido à história e à epopeia açoriana» – D. José Bettencourt

Núncio apostólico na Arménia e Geórgia, natural dos Açores, presidiu às celebrações do «dia maior» do arquipélago

Ponta Delgada, Açores, 26 mai 2019 (Ecclesia) – O arcebispo açoriano D. José Bettencourt disse hoje celebrações do Senhor Santo Cristo dos Milagres, na ilha de São Miguel, que esta imagem tem sido uma referência constante da “história e epopeia açoriana”.

“A imagem do Ecce Homo, eis o homem, em forma de relicário e sacrário, transmite a mensagem essencial do Evangelho, do Cristo ontem, hoje e sempre. Para o crente, o Senhor Santo Cristo dos milagres é uma presença, um sinal, uma continuidade, um conforto e uma permanência de Deus entre o seu povo”, declarou o núncio apostólico (representante diplomático da Santa Sé) na Arménia e Geórgia, durante a homilia da Missa a que presidiu no campo de São Francisco.

O responsável falou no “dia maior dos Açores’, assinalando o 60.º aniversário da elevação a santuário diocesano deste lugar de culto.

“Deus, na sua providência, e a Igreja, na sua missão, aqui nos Açores”, referiu, “trouxeram para esta ilha, para este arquipélago, uma imagem, a do Senhor Santo Cristo dos Milagres, imagem e mensagem que têm presidido à história e à epopeia açoriana com um culto que remonta aos primórdios do seu povoamento”.

A intervenção sublinhou que “milhares e milhares de pessoas” se ajoelharam diante da imagem do Senhor Santo Cristo, ao longo dos séculos, indicando que o rosto de Cristo sofredor mostra que a glória de Jesus “não é deste mundo”, mas está “na crucificação e morte”, longe das ideias de “vaidade, riqueza, poder e soberba”.

“A glorificação de Deus, a vitória de Deus, abraço o universo, espiritual e físico”, apontou.

D. José Bettencourt apresentou uma reflexão sobre as traições que Jesus sofreu e o amor de Cristo, sem “limites”.

“Nós não podemos trair a amizade de Jesus. Cristo nunca traiu os seus amigos”, apelou.

A homilia evocou o mandamento do amor, deixado por Jesus, que convida a “dar a própria vida pelos outros”.

“Amar é uma decisão quotidiana, é saber perdoar todos os dias, é dar a vida. O amor vence a morte, o amor é vida”, acrescentou.

O representante diplomático do Papa na Arménia e Geórgia observou que o Senhor Santo Cristo é a “maior manifestação de fé nos Açores”, terra natal de D. José Bettencourt, desafiando os participantes a ir “além dos tributos, dos círios, da música, tapetes e colchas”, depois das festas.

“Quantos têm a força e a coragem de ouvir a profunda mensagem de reconciliação e amor, na vida quotidiana?”, perguntou.

O arcebispo recordou a sua passagem pelas Festas do Santo Cristo, em 1965, com três anos de idade, antes de partir com a sua família, para o Canadá, e apresentou-se como “simples peregrino”, confessando que gostaria de ver este santuário elevado a basílica.

O presidente das celebrações saudou todos os que chegaram às ruas de São Miguel com os seus pedidos e promessas, bem como os que acompanham a celebração através dos meios de comunicação.

Em inglês e francês, o arcebispo dirigiu-se aos açorianos na “diáspora” e os seus descendentes, “onde quer que vivam”.

“As vossas intenções estão presentes, nesta celebração, e desde aqui vos convidamos a testemunha a mensagem do Senhor Santo Cristo dos Milagres, nas vossas vidas quotidianas”, declarou.

A celebração eucarística é um dos pontos altos da festa do Senhor Santo Cristo, cuja imagem vai percorrer esta tarde as ruas da cidade de Ponta Delgada, ao longo de várias horas, uma tradição secular na região.

O percurso passa pelos antigos conventos da cidade e algumas igrejas paroquiais, percorrendo ruas cobertas de tapetes de flores; em 2019, a imagem do Senhor Santo Cristo sai à rua com uma capa oferecida por um emigrante no Canadá.

O cálice e a patena utilizados por D. José Avelino Bettencourt na Missa campal deste domingo foram criados pelo jovem ourives micaelense Romeu Bettencourt, por ocasião da comemoração dos 60 anos de elevação do Santo Cristo a Santuário Diocesano.

Este sábado, os peregrinos celebraram a mudança da imagem do Convento da Esperança para o Santuário, no Campo de São Francisco; a imagem foi acompanhada pela Irmandade do Senhor Santo Cristo, à guarda de quem ficará até este domingo à noite, bem como pelo presidente das Festas, acompanhado do bispo de Angra e do reitor do Santuário.

Na homilia da recolha da imagem depois da Procissão da Mudança, o cónego Adriano Borges, reitor do Santuário anunciou que madre Teresa da Anunciada, impulsionadora do culto ao Santo Cristo, vai ter uma nova estátua no adro da Igreja do Convento da Esperança.

“Que este lugar seja o centro maior da espiritualidade dos açorianos  e dos Açores; que seja um lugar de acolhimento de todos os açorianos independentemente das suas dores; que madre Teresa chegue aos altares da igreja Universal e que esta praça  (Campo de São Francisco) se torne apenas e tão justamente o Campo do Senhor, verdadeiro átrio de um santuário, sem trânsito ou outros distúrbios”, desejou.

Encerrado no coro baixo do Convento ao longo de todo o ano, o Santo Cristo – uma imagem do “Ecce Hommo”, com mais de 400 anos, oferecida às freiras clarissas pelo papa Paulo III – sai à rua apenas no quinto fim-de-semana a seguir à Páscoa.

O ‘Igreja Açores’ refere que antes da mudança da imagem, centenas de peregrinos percorreram de joelhos o tapete de promessas em torno do Campo de São Francisco como forma de pagamento de promessas ao Senhor Santo Cristo dos Milagres.

Alguns dos fiéis, homens e mulheres, optam por cumprir a promessa sozinhos, mas outros, carregando molhos de círios (velas), fazem o trajeto acompanhados por familiares ou por amigos, que caminham ao seu lado.

Na última madrugada, à meia-noite, a imagem voltou a sair da Igreja do Senhor Santo Cristo para a Igreja de São José onde decorreu a Vigília.

As Festas do Senhor Santo Cristo mobilizam milhares de pessoas, entre micaelenses, emigrantes e devotos do resto da região e do país.

As celebrações contaram com a presença de D. João Lavrador, bispo de Angra, e o seu antecessor, D. António de Sousa Braga, bem como de D. Francisco Viti, arcebispo emérito do Huambo (Angola).

OC

Fotos: Igreja Açores

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