Igreja: «Se a liberdade religiosa for negada a um grupo, mais cedo ou mais tarde será também negada a outros», alerta Marta Petrosillo

Editora-chefe do Relatório de Liberdade Religiosa no Mundo da FAIS aborda cenário de violência motivada pela religião no mundo e prevê tendência para «piorar» no próximo relatório

Lisboa, 22 ago 2025 (Ecclesia) – A editora-chefe do Relatório de Liberdade Religiosa no Mundo (RLRM) da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) sublinhou a importância de assegurar a todos o direito a professar a própria fé sem sofrer perseguições.

“Se a liberdade religiosa for negada a um grupo, mais cedo ou mais tarde será também negada a outros. E, para a Fundação AIS, é importante que a liberdade religiosa seja garantida igualmente para todos”, afirmou Marta Petrosillo, em entrevista à AIS, divulgada hoje.

O Dia Internacional em Memória das Vítimas de Actos de Violência Baseados na Religião ou na Crença assinala-se hoje e, segundo a editora-chefe do RLRM, é importante haver esta data dedicada “às vítimas deste tipo de violência, para sensibilizar”.

“Porque as violações à liberdade religiosa afetam e causam sofrimento a muitas pessoas, apesar de, por vezes, haver uma tendência para desvalorizar este fenómeno”, refere.

Publicado pela primeira vez em 1999, com o “objetivo de sensibilizar e dar testemunho sobre as violações à liberdade religiosa”, o relatório da liberdade religiosa no mundo da FAIS tem uma nova edição a 21 de outubro deste ano.

Desde o início do RLRM que a situação tende a piorar e, infelizmente, espera-se que esta seja também a tendência na próxima edição, sobretudo em certas áreas do mundo”, adianta Marta Petrosillo.

A responsável denuncia que “um dos continentes onde a situação, sobretudo nas últimas décadas, piorou consideravelmente é África, onde o extremismo religioso tem crescido muito”.

“Vemos numerosos grupos jihadistas a perpetrar cada vez mais ataques, inclusive em países onde as relações inter-religiosas não eram um problema”, dá conta.

Foto FAIS, Marta Petrosillo

Dando o exemplo da República Democrática do Congo, onde, “historicamente, não houve conflitos entre comunidades de fé, e trata-se de um país maioritariamente cristão”, no entanto Marta refere que assistiu-se recentemente “a um grande ataque contra fiéis cristãos”.

“É algo que se está a espalhar em muitas partes de África, e tende a passar de um país para outro. Há também o caso do Burquina Fasso, que há dez anos não figurava entre os países mais preocupantes, mas que, infelizmente, é hoje um dos locais do mundo onde mais ataques jihadistas acontecem”, observa.

No que toca a Ásia, a editora-chefe do RLRM indica que se tem verificado um agravamento da situação do nacionalismo etno-religioso e o “Médio Oriente continua a ser uma região de grande instabilidade, que afeta fortemente a liberdade religiosa”.

“Por fim, há também cada vez mais violações da liberdade religiosa na América Latina”, acrescenta.

Apesar deste cenário, Marta Petrosillo diz que vê “sinais positivos na crescente consciencialização no que respeita à liberdade religiosa, “tanto da sociedade civil como de alguns governos, relativamente ao que está a acontecer”.

“Isto pode ser determinante para agir contra a violação da liberdade religiosa. Vemos exemplos de governos a nomearem enviados especiais para a liberdade religiosa, bem como inúmeras organizações da sociedade civil empenhadas neste tema”, exemplifica.

Relativamente ao Ocidente, a responsável considera que “há também motivos de preocupação quanto a violações da liberdade religiosa”, salientando que nos últimos anos têm aumentado os “ataques contra certos grupos religiosos, atos de vandalismo contra igrejas e um crescimento de episódios anti-semitas e anti-islâmicos relacionados com a guerra em Gaza”.

“Além disso, existe um esforço para excluir a religião do espaço público, incluindo aquilo a que o Papa Francisco chamou de perseguição educada. Estamos igualmente preocupados com a falta de respeito pelas objeções de consciência de pessoas que trabalham no sector da saúde”, realçou.

Questionada sobre o risco de retaliação por parte de países visados no relatório contra grupos religiosos, Marta Petrosillo defende que o silêncio não é a solução e que “esta é a forma de mudar a realidade”.

Sobre a forma de ajudar os grupos religiosos, a editora-chefe do RLRM aponta que “o primeiro passo que as pessoas podem dar é divulgar a realidade e sensibilizar o meio que as rodeia — no trabalho, entre amigos”, enfatizando que tal “é fundamental para mudar a situação”.

Finalmente, não desperdicem nenhuma oportunidade de defender estas pessoas, seja a nível local, nacional ou de qualquer outra forma possível. Porque a liberdade religiosa é um direito humano, mas também uma responsabilidade partilhada. E cabe a nós tornarmos possível que este direito humano tão importante seja garantido de forma igual em todo o lado”, exortou.

LJ/PR

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