Igreja/Saúde: «Temos de estar preparados para oferecer a nossa vida» – Frei Hermano Filipe

Assistente Espiritual e Religioso no Hospital Santa Maria Maior, em Barcelos, recorda decisão de ficar junto dos doentes e semana de internamento com Covid

Barcelos, 11 fev 2022 (Ecclesia) – Frei Hermano Filipe, assistente espiritual e religioso no Hospital Santa Maria Maior, em Barcelos, disse à Agência ECCLESIA que deixou de estar com a sua comunidade dos Capuchinhos para se “dedicar aos doentes Covid”, defendendo que o capelão tem de estar “preparado para oferecer a vida”.

“Temos de estar preparados para oferecer a nossa vida. O facto de ter estado em Timor, em campo de refugiados, pode ter ajudado a esta realidade, mas cada capelão pode e deve estar disponível para o que for necessário”, sustentou o religioso, em entrevista por ocasião do Dia Mundial do Doente, que a Igreja Católica assinala hoje.

O religioso capuchinho está no Hospital Santa Maria Maior, em Barcelos, desde 2018 e “estava a aprender e a habituar-se à dinâmica” quando chegou a pandemia.

“A grande diferença foi com as pessoas fora do hospital, eu tomei a decisão de ficar aqui no hospital, senti que era a primeira prioridade, como a minha comunidade religiosa é também composta por pessoas idosas, nos primeiros quatro meses chegava a casa quando estavam a dormir e saía antes de acordarem, para não me cruzar com ninguém”, recorda.

Foi em janeiro de 2021 que o religioso teve de tomar a decisão de “deixar os doentes em geral” e passar a estar apenas “com doentes covid”.

“Como os familiares não os podiam visitar, eu assumia esse lugar, de visita, de presença e disponibilidade de tempo para estar junto deles, via a angústia grande perante o desconhecido, com a incerteza de “será que vou sobreviver? vou ver outra vez a família?” e eram muitos idosos, outros mais novos, mas a angústia era a mesma”, conta.

Frei Hermano Filipe tentava que a sua presença ali fosse “diferenciadora” porque percebia a realidade dos profissionais de saúde, que “tinham de se desdobrar nos cuidados, com todas as dificuldades, onde tudo era mais devagar”.

A relação terapeutica exige a empatia e isso leva tempo e disponibilidade, os profissionais de saúde têm sido incríveis nesta luta contra a pandemia mas limitados no tempo que têm para cada doente”.

O religioso lembra momentos difíceis onde os doentes “apenas queriam falar ou desabafar” mas também quem pedisse sacramentos ou que o sacerdote servisse de “ponte para falar com algum familiar”.

Em novembro de 2020, frei Hermano Filipe testou positivo à Covid e esteve internado uma semana naquele hospital.

“Estive ali internado uma semana, com alguns sobressaltos e uma pneumonia; passei para paciente com enorme serenidade, conhecia os olhos de quem me tratava, era a única diferença para com outros pacientes”, partilha.

Nesta fase de “alívio de restrições” o sacerdote vai sentindo alguma dificuldade na assistência religiosa porque “o hospital, sendo pequeno, não tem capela”.

“No hospital, que não tem condições para ter uma capela e isso é um espaço importante, porque os familiares ou profissionais de saúde poderiam encontrar ali o capelão; depois muitos reformaram-se, outros foram transferidos, outros são novos contratados, não conhecia e não era fácil dar-me a conhecer e a conhecer o meu trabalho”, conclui.

LS/SN

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Agência ECCLESIA

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