Conselheiro português da Academia Pontifícia para a Vida afirma que «esperança de cada doente apela a uma resposta terapêutica no horizonte da amizade»

Angra do Heroísmo, Açores, 17 fev 2025 (Ecclesia) – O médico Filipe Almeida, da Academia Pontifícia para a Vida, afirmou que a medicina “não dispõe de fé no arsenal terapêutico, mas deve e pode abrir portas para a esperança”, no ciclo diocesano ‘Diálogo no Tempo’ de Angra.
“Para além do reconhecimento da doença, compete a cada médico descobrir cada doente na intensidade das suas referências culturais, afetivas, sociais e espirituais e partir ao seu encontro no tempo de viver e no tempo de morrer, com autenticidade”, disse o médico especialista em cuidados intensivos pediátricos, citado pelo portal online ‘Igreja Açores’, da Diocese de Angra
O médico e professor universitário Filipe Almeida foi o segundo convidado do ciclo ‘Diálogo no Tempo’, dinamizado no âmbito do Ano Santo 2025, onde apresentou a conferência ‘A Esperança na doença, na morte e no luto’, no auditório do Hospital do Divino Espírito Santo, em Ponta Delgada.
“A morte não é uma falha ou uma incompetência profissional mas o tempo que reclama dos profissionais de saúde um olhar singular, capaz de reconhecer no cuidar o expoente da medicina cuidando do conforto do espirito, no alívio prudente do sofrimento e na ajuda a uma busca de sentido. Isto é uma valência de vitória e não de derrota.”
Segundo o médico Filipe Almeida, conselheiro da Academia Pontifícia para a Vida, o único português neste organismo da Santa Sé, realçou que a medicina “tem de reconhecer a dignidade humana”, e mesmo quando algumas faculdades “estão abaladas a dignidade não se abate”, indicando que a “dependência não reduz dignidade”.
“A Medicina não dispõe de fé no seu arsenal terapêutico, mas deve e pode abrir portas para que a esperança possa florir em cada jardim das oliveiras; não basta cuidar o corpo que morre mas é preciso cuidar o homem que morre”, salientou, observando que “a morte não é necessariamente a experiência do nada”.
A Diocese de Angra destaca que o conferencista, fundador do Serviço de Humanização do Centro Hospitalar de São João, no Porto, indicou a parábola do Bom Samaritano como o paradigma de uma medicina que transforme o profissional de saúde “num ator terapêutico”.
“[O profissional de saúde] é convocado para um diálogo aberto profundamente à interioridade de cada doente para o ajudar a uma cabal compreensão do seu adoecer, não da sua doença, mas do seu adoecer”, desenvolveu o professor da Faculdade de Medicina do Hospital de São João no Porto.
Para Filipe Almeida, que é também conselheiro do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida, “não é a intensidade tecnológica ou farmacológica mas a intensidade da relação humana assente na dignidade e no seu respeito que está em causa”: “Uma medicina que permita ao velho homem doente, sem sentido, descobrir-se um novo homem doente com sentido para viver a sua doença e a sua vida”.
O médico especialista em cuidados intensivos pediátricos explicou que “não haverá nunca esperança” se não aliviarem a dor, o sofrimento, e “matarem socialmente e fizerem morrer afetivamente”, ao condenarem ao vazio”, e indicou que “não será o encantamento da morte que poderá desejá-la, mas o horror de uma vida dolorosa”.
“Quem é o médico para o doente se não aquele que constitui a esperança de dilatar a vida terrena? Quantas vezes será o médico o último reduto da esperança? E este é um papel que o médico não pode declinar, a esperança de cada doente apela a uma resposta terapêutica no horizonte da amizade”, acrescentou na iniciativa, promovido pelo Instituto Católico de Cultura, em parceria com a Comissão Diocesana da Pastoral da Saúde de Angra e a Associação de Médicos Católicos.
O padre Paulo Borges, da Comissão Diocesana da Pastoral da Saúde e capelão do Hospital do Divino Espirito Santo, que moderou a conferência e o tempo de debate, referiu que “morrer está longe de ser uma ciência exata”, e que a doença é “um processo tão individual e singular que tem de ser visto de forma particular”, informa o sítio online ‘Igreja Açores’.
CB