José Santos Ponciano explica que «todos os anos aparecem casos novos», em todo o mundo
Lisboa, 31 jan 2024 (Ecclesia) – O presidente da Associação Portuguesa Amigos de Raoul Follereau (APARF) destaca que “a lepra é uma doença com cura” e um tratamento barato, mas ainda assim surgem novos casos, todos os anos.
“Noutros países a lepra continua a ser um problema grave. Todos os anos aparecem casos novos, segundo os últimos dados da Organização Mundial de Saúde, que saíram em setembro de 2023, no ano de 2022, registaram-se 174 mil novos casos de doentes de lepra no mundo”, disse José Santos Ponciano, em entrevista à Agência ECCLESIA.
O presidente da APARF explica que o “agravamento de 28%” relativamente ao ano anterior, em 2021, resulta, por exemplo, da pandemia de Covid-19 e os seus confinamentos, que originaram que muitas pessoas não fossem diagnosticadas.
“Também houve noutros países, nomeadamente, em países endémicos, um que nos é muito querido, por exemplo, Moçambique, que é o segundo país de África com mais casos de lepra novos todos os anos. A Índia e o Brasil e a Indonésia continuam a ser os grandes, representam cerca de 78% dos novos casos todos os anos”, acrescentou.
José Santos Ponciano explica que a doença aparece em zonas da sociedade onde “há falta de água potável, há falta de condições de higiene”, por isso, a APARF aposta “muito no abastecimento de água potável, de água limpa, às populações”, em países africanos e asiáticos.
Fundada em 1987, a Associação Portuguesa Amigos de Raoul Follereau apoiou “74 projetos em 16 países”, em 2023: Angola, Camarões, Chade, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Sudão, Tanzânia, Vietname e Timor-Leste.
“Apoio ao combate, à prevenção da doença da lepra, nomeadamente, com o abastecimento de água, que é fundamental, e também na alimentação, principalmente às crianças, que ainda estão a criar o seu sistema imunitário, até aos 16 anos desenvolvem o sistema imunitário, e não têm condições para se alimentarem condignamente e como tal ficam muito expostas à doença”, desenvolveu.
O presidente recorda que há cura para a doença da lepra, “o tratamento custa 25 euros” e é suportado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que passa pela poliquimioterapia, “um comprimido que é tomado durante seis meses ou um ano, consoante a gravidade da doença”.
Os projetos de apoio da APARF também passam por ajudar a “fazer chegar o medicamento às pessoas”, porque “vivem em zonas muito recônditas, a farmácia mais próxima é a 150 quilómetros, um pouco exagerado, mas não anda muito longe da realidade”, que é “um trabalho muito, muito, muito difícil e caro”.
José Santos Ponciano observa que, “em Portugal, felizmente”, a doença da lepra (hanseníase) está erradicada há muitos anos, neste momento, “estão identificados cerca de sete ex-doentes no território português”, mas “aparecem todos os anos, dois, três casos novos, que são, normalmente, trazidos por imigrantes vindos de zonas endémicas”, imediatamente resolvidos pelo Serviço Nacional de Saúde.
No último domingo de janeiro assinala-se o Dia Mundial dos Doentes de Lepra/ Dia Mundial da Hanseníase, em 2024 foi no dia 28 de janeiro, e, no Vaticano, o Papa Francisco destacou esta efeméride.
“Encorajo todos os que estão comprometidos no resgate e na reinserção social das pessoas afetadas por esta doença que, apesar de estar em declínio, continua a ser uma das mais temidas e atinge os mais pobres e os mais marginalizados”, disse após a oração do ângelus, na Praça de São Pedro.
O presidente da Associação Portuguesa Amigos de Raoul Follereau salientou que “é fundamental” o trabalho que desenvolvem “a montante do problema”, para erradicar a doença da lepra até 2030, ano previsto pela Organização Mundial de Saúde.
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