«Muitas vezes o olhar a sociedade mata» – Joana Cardoso
Fátima, 11 fev 2024 (Ecclesia) – Um conjunto de organizações católicas assinalou hoje o Dia Mundial do Doente, com um encontro em Fátima, no qual se valorizou a inclusão das pessoas com deficiência.
“Muitas vezes a sociedade olha de uma forma diferente. Dizíamos que o olhar mata e os jovens com deficiência diziam muito isso, de facto o olhar mata, muitas vezes o olhar a sociedade mata”, alertou Joana Cardoso, médica, uma das intervenientes no encontro, em declarações à Agência ECCLESIA.
A iniciativa, intitulada ‘Sofrer? Amar? Viver!’, decorreu desde sábado, assinalando também os 40 anos da ‘Salvifici Doloris’, de São João Paulo II.
Para Joana Cardoso, é necessário apostar na saúde das “relações dos jovens e dos cuidadores com a sociedade”.
“O olhar dos outros não nos pode matar. Nós também olhamos de forma diferente para os outros. Temos de aceitar os outros olhares e, com o nosso olhar, trazer também a compaixão, porque nós e os jovens com deficiência podem também ser agentes da mudança”, sustentou.
A médica participa como voluntária, há vários anos, na iniciativa de férias ‘Vem para o Meio’, que decorrem durante cinco semanas, na Casa dos Silenciosos Operários da Cruz, para pais de jovens com deficiência.
“Eu diria que não é um esforço. Temos de ver ao contrário. É mesmo um privilégio, porque nós acabamos sempre por receber mais do que aquilo que damos”, relata.
A irmã Marta Couto, que integra, em Fátima, a comunidade da Associação Silenciosos Operários da Cruz, falou deste dia e meio de encontro como uma “riqueza”, na diversidade de carismas que se centram nas pessoas que estão “em situações de sofrimento”.
“Quisemos colocar no meio esta palavra, sofrimento, para perceber que por trás do sofrimento está uma pessoa”, indicou.
O encontro contou com um programa paralelo, adaptado às pessoas com deficiência intelectual, para mostrar que “todos fazem parte, todos podem vir e todos podem participar”.
O encontro teve a organização dos Silenciosos Operários da Cruz; do Centro Voluntários do Sofrimento e do Serviço Pastoral a Pessoas com Deficiência, da Conferência Episcopal Portuguesa, com o apoio do Santuário de Fátima, da Comissão Nacional Pastoral da Saúde e do Movimento Fé e Luz.
Joana Morais e Castro, do serviço de pastoral da pessoa com deficiência, afirmou, por sua vez, que o encontro promovido pelas organizações católicas representa “um sinal importantíssimo e fundamental”.
“A inclusão faz parte da nossa vida e temos de fazer que as pessoas com deficiência participem como vozes ativas na vida da Igreja e na vida social”, apelou.
A responsável admite que a criação de espaços inclusivos “não se faz de um dia para o outro”, mas sublinha que essa tem de ser a “meta” de todas as iniciativas.
“Um dos grandes dramas do nosso mundo atual é a solidão. Nas pessoas com deficiência essa solidão é acentuada, muitas vezes, e a exclusão vem daí, a exclusão vem desse isolamento, desse descarte, como o Papa Francisco tantas vezes nos diz”, alerta.
Os que convivem mais de perto com as pessoas com deficiência percebem que o mundo ficou melhor e que ficou mais bonito: não é que seja mais fácil, mas ninguém disse que a facilidade, alguma vez, é sinónimo de felicidade”.
Entre os participantes, em cadeira de rodas, esteve Custódia, da associação dos leigos que trabalha em conjunto com os Silenciosos Operários da Cruz.
“Uma pessoa com deficiência e limitada, dependente, tem sempre muitos problemas. Então, ter algo que nos motiva, que nos dá vida, que nos dá força, ajuda-nos a caminhar e, sobretudo, a ser felizes, a encontrar ânimo para a vida”, referiu à Agência ECCLESIA.
A entrevistada alerta para o aumento do sofrimento “a nível psicológico” e da necessidade de “acompanhamento” das pessoas que sofrem.
A Igreja Católica celebra anualmente, a 11 de fevereiro, o Dia Mundial do Doente.
OC
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