Padre Fernando Sampaio destaca importância deste «salto» para a afirmação de um serviço pastoral que ainda enfrenta vários obstáculos
Fátima, 04 dez 2018 (Ecclesia) – O presidente da Coordenação Nacional das Capelanias Hospitalares (CNCH) diz que é tempo de a Igreja Católica valorizar mais a assistência espiritual e religiosa, apostando na “formação e profissionalização” das pessoas que trabalham nesta área.
Em entrevista hoje à Agência ECCLESIA, durante um seminário em Fátima destinado a capelães hospitalares, assistentes espirituais e outros agentes do setor, o padre Fernando Sampaio destacou a importância deste “salto” para a afirmação de um serviço que, apesar de estar consagrado na lei, ainda enfrenta vários obstáculos no meio hospitalar.
De acordo com aquele sacerdote, são várias as instituições que ainda “desconsideram o direito dos próprios doentes à assistência religiosa, que não cumprem a lei”, e por causa disso “surgem hospitais onde a capelania não está presente”, porque não existem agentes pastorais “contratados”.
No entanto, para o responsável pela CNCH, é tempo também de “reconhecer” alguma culpa própria e dizer que “por vezes os próprios capelães não cumprem da melhor maneira a sua missão e deviam cumpri-la”.
“Foi nesse sentido que uma das ideias que surgiu neste nosso seminário foi a necessidade da profissionalização das capelanias, para que os assistentes espirituais tenham noção da responsabilidade do seu próprio trabalho”, frisou o padre Fernando Sampaio.
Aquele responsável defendeu mais formação, específica e contínua, para que os capelães e assistentes espirituais estejam “a par de todos os outros serviços que servem o hospital, porque é o próprio hospital que ganha com isso”
O padre Fernando Sampaio chamou ainda a atenção para a necessidade de a Igreja Católica “não protelar muito tempo a nomeação dos capelães”.
“Também se pode violar o direito dos doentes à assistência espiritual ao não apresentar atempadamente as pessoas que devem prestar esse serviço”, apontou o presidente da CNCH.
O padre Fernando Sampaio considerou todo este processo essencial para os capelães e assistentes falarem “a mesma linguagem” e poderem dialogar também da melhor forma “com as instituições” e com “o Ministério da Saúde”.
Com o tema ‘Do Direito à Assistência Espiritual à Responsabilidade da Comunidade: Estive Doente e Abandonaste-me’, o referido seminário decorreu segunda e terça-feira na Casa ‘Domus Carmeli’ em Fátima.
A iniciativa foi organizada pela CNCH em parceria com a Associação Portuguesa de Capelães e Assistentes Espirituais e Religiosos Hospitalares, e juntou dezenas de capelães e assistentes espirituais, também outros profissionais de saúde, estudantes, voluntários, párocos, visitadores de doentes, e ministros extraordinários da Comunhão.
Criada em 2015, a AsER tem como missão representar todos aqueles que se dedicam à assistência espiritual e religiosa nos hospitais portugueses e encontrar formas de suporte e espaços de apoio a todos aqueles que acompanham doentes.
Segundo Fernando D’Oliveira, um dos membros fundadores da AsER, “a formação dos capelães tem sido uma das preocupações da associação ao longo dos últimos três anos”, a par com a “articulação com as autoridades civis e governamentais”.
“A AsER é o elo que pode dar evidência ao trabalho que os capelães e os assistentes espirituais vão fazendo nos hospitais e reforçar de facto a importância do papel que estes profissionais desenvolvem no campo do acompanhamento e da assistência espiritual à pessoa doente”.
Neste trabalho estão também cada vez mais incluídos os cuidadores informais, familiares, voluntários ou outros membros das comunidades de fé.
“As pessoas estão no hospital de passagem, o habitat natural da pessoa é a comunidade, é a família. E o nosso trabalho só terá um desenvolvimento efetivo quando também conseguirmos que nas comunidades haja esta preocupação”, completou.
O seminário dedicado ao tema da assistência espiritual e religiosa no ambiente hospitalar, em Fátima, contou com a participação do bispo de Viseu, D. António Luciano, que é também enfermeiro de formação.
Em declarações à Agência ECCLESIA, o responsável católico salientou que “a ação dos capelães, dos assistentes espirituais e dos voluntários, de todos aqueles que de algum modo procuram levar o anúncio da Boa Nova de Jesus Cristo nesta alegria do Evangelho, junto dos que sofrem, é um campo atualíssimo, importantíssimo”.
E que a Igreja Católica “tudo deve fazer não só para promover e dignificar este setor mas para garantir que aqueles que estão neste serviço são pessoas bem formadas e que prestam um serviço de qualidade aos doente”.
JCP