Igreja quer retomar «ligação» com a arte

Cardeal Gianfranco Ravasi, presidente do Conselho Pontifício da Cultura, revelou em Lisboa que o Vaticano vai participar na Bienal de Veneza

Lisboa, 15 nov 2012 (Ecclesia) – O presidente do Conselho Pontifício da Cultura (CPC) defendeu hoje, em Lisboa, que a Igreja Católica precisa de retomar a sua “ligação” com a arte, que durante séculos foi instrumento decisivo na afirmação da “herança” cristã na Europa.

Numa conferência inserida nas jornadas sobre ‘Liturgia, Arte e Arquitetura nos 50 anos do Concílio Vaticano II’ que decorre até sexta-feira na Universidade Católica Portuguesa (UCP), o cardeal Gianfranco Ravasi salientou que “a Arte e a Fé são irmãs, devem juntar-se novamente”, porque ambas “representam o invisível que está no visível”.

Segundo o prelado italiano, regenerar a relação que entretanto “se rasgou” constitui um desafio “complexo”, porque “a arte contemporânea tem uma nova gramática, muitas vezes autorreferencial, incompreensível e secularizada”.

Para aquele responsável, a Igreja deve “trabalhar para tornar percetível”, no meio desta nova realidade, “a linguagem simbólica do cristianismo”, algo que até agora – observou – não tem sido bem conseguido.

O líder do CPC deu como exemplo os “edifícios horríveis” que nos últimos anos têm sido construídos para servirem de locais de culto para as comunidades católicas italianas, igrejas que não convidam à “transcendência”, que são “casa do homem” mas não “tenda de encontro”, que têm “geometria” e “belas linhas” mas que os cristãos não “compreendem”.

A Santa Sé, através do CPC, quer mostrar que “não tem medo de se confrontar com a arte contemporânea” e aí encontrar meios para passar a sua mensagem.

Entre algumas iniciativas já realizadas, ou entretanto em marcha, o cardeal Gianfranco Ravasi destacou o espaço que foi dado à Arte em duas edições do ‘Átrio dos Gentios’, em Barcelona e Florença, e a participação do Vaticano na Bienal de Arte de Veneza, que terá lugar em junho de 2013.

No primeiro dia das jornadas ‘Liturgia, Arte e Arquitetura nos 50 anos do Concílio Vaticano II’, apoiadas pelo Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura, Ordem dos Arquitetos e Sociedade Nacional das Belas Artes, sobressaíram ainda as intervenções de Paulo Pires do Vale, curador de arte, e do padre Joaquim Félix, especialista em liturgia da UCP de Braga.

Segundo Pires do Vale, a colaboração entre o meio artístico e a fé “faz todo o sentido”, pois permite às duas áreas fazerem “parte da vida”.

Já o sacerdote apresentou um exemplo concreto onde essa ligação foi bem-sucedida, a Capela ‘Árvore da Vida’, localizada no interior do Seminário Conciliar de São Pedro e São Paulo, em Braga, e que venceu o prémio ArchDaily 2011 para o edifício religioso com a melhor arquitetura.

O programa das jornadas, no auditório 2 da UCP de Lisboa, inclui esta sexta-feira a conferência ‘A atualidade do Concílio Vaticano II’, que será proferida pelo cardeal-patriarca de Lisboa, D. José Policarpo.

O cardeal Ravasi, por sua vez, vai marcar presença na edição portuguesa do ‘Átrio dos Gentios’, projeto do CPC para o diálogo entre crentes e não crentes, entre sexta-feira e sábado.

O responsável da Cúria Romana vai debater com o neurocirurgião João Lobo Antunes sobre ‘O valor e o sentido da vida de cada ser humano’, numa sessão pública com início marcado para as 21h30 de sexta-feira no grande auditório da Universidade do Minho (Azurém, Guimarães).

JCP/OC

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