As dioceses onde existe a Obra da Rua (Casa do Gaiato) querem alterar o modelo de funcionamento da instituição, ajudando-a a adaptar-se às novas realidades sociais e mantendo o seu carisma original. Em declarações aos jornalistas, à margem das Jornadas Pastorais da Conferência Episcopal Portuguesa, a decorrer até hoje em Fátima, D. Carlos Azevedo, Secretário da CEP, referiu que “os bispos que têm a Obra da Rua nas suas dioceses tentarão ajudar e colaborar num diálogo que se manterá com os padres” da Instituição para, assim, concretizar esse desejo de que o “carisma pedagógico” deixado pelo Padre Américo se mantenha, “mas com um enquadramento social adaptado ao nosso tempo”, frisou. No início do mês de Junho, o Ministério Público acusou o director da Casa do Gaiato de Setúbal da prática de quatro crimes de maus tratos a crianças e acusou ainda outros três funcionários da instituição. Nessa altura o Pe. Acílio Fernandes, director nacional da Obra,do Padre Américo, disse a vários órgãos de comunicação social que tais acusações não têm fundamento e elogiou o trabalho do sacerdote responsável pela Casa do Gaiato de Setúbal. Sobre a originalidade e o carácter familiar da Obra, verificado ao longo dos anos no tratamento da exclusão social dos rapazes, D. Carlos Azevedo caracterizou-a como “uma mais valia fundamental para muitas situações”, não deixando, contudo, de reconhecer que “as situações do tempo do Padre Américo não são as situações dos rapazes que hoje aparecem Obra da Rua. A Obra da Rua é uma instituição civil, que não tem personalidade canónica, não tendo qualquer vínculo institucional à Igreja, “mas as pessoas que lá trabalham e que a dirigem são padres”, e será com esses que “os senhores bispos em harmonia e diálogo irão encontrar, em cada lugar, as melhores soluções”, prometeu o secretário da Conferência Episcopal. D. Carlos Azevedo sublinhou ainda que “para que o carisma do Padre Américo possa sobreviver tem que se adaptar, e essas são as exigências do futuro”, concluiu. Mudanças na Casa do Gaiato do Tojal As mudanças na gestão da Obra do Padre Américo já se começaram a fazer sentir, nos últimos tempos: a 16 de Maio, a Casa do Gaiato do Tojal (Loures), na área do Patriarcado, a direcção foi assumida pela Diocese lisboeta, com a nomeação de uma nova equipa, mantendo a pedagogia e os métodos do padre Américo. D. José Policarpo escreveu uma carta aos párocos para explicar esta situação, que justifica com “circunstâncias várias, onde sobressai a falta de Padres da Obra da Rua”. Em Março deste ano, a Casa do Gaiato, em Coimbra, deu posse ao primeiro conselho pedagógico-social para acompanhamento dos jovens, constituído, entre outros, pelo próprio director, o psicólogo e professores das casas, representantes dos jovens e ainda por duas personalidades exteriores à instituição de acolhimento, mas com ligação à Igreja. As Casas do Gaiato nasceram da necessidade sentida pelo Padre Américo Monteiro de Aguiar, visitador dos pobres e dos bairros degradados. A finalidade de cada Casa do Gaiato é acolher, educar e integrar na sociedade crianças e jovens que, por qualquer motivo, se viram privados de meio familiar normal.