Vaticanista portuguesa destaca importância dos escritos da vidente para «fecundidade e a vitalidade da mensagem de Fátima»
Lisboa, 13 fev 2025 (Ecclesia) – Aura Miguel, jornalista da Renascença, afirmou que a Igreja é “muito cuidadosa” nas beatificações admitindo que a data final do processo da Irmã Lúcia, falecida há 20 anos, “é um grande mistério”.
“A beatificação, sabemos, tem os seus timings e a Igreja normalmente é muito cuidadosa. Tem a ver também com as formalidades de um processo, que sofreu algumas alterações neste percurso, e também com a constatação do milagre, que é mesmo preciso para uma beatificação deste género”, disse a vaticanista portuguesa, em entrevista à Agência ECCLESIA.
A Irmã Lúcia, memória das Aparições de Fátima, que aconteceram entre maio e outubro de 1917, morreu no dia 13 de fevereiro de 2005, aos 97 anos de idade, depois várias décadas vividas em clausura no Carmelo de Coimbra.
O processo de canonização da Irmã Lúcia decorre no Vaticano, tendo a religiosa sido reconhecida como venerável, em junho de 2023, com a publicação do decreto que reconhece as “virtudes heroicas”, exigindo-se agora o reconhecimento de um milagre atribuído à sua intercessão para que seja beatificada.
Aura Miguel salienta que “estes são processos lentos”, mas espera que a beatificação “esteja para breve”.
“Gostava de sublinhar logo na aparição, quando ela pergunta, ela era a interlocutora, com aquela presença tão bonita que descreve da Virgem: ‘Eu também vou para o Céu’? E a resposta foi ‘sim, mas ficas cá durante algum tempo’. Mais algum tempo foram bastantes décadas. Portanto, é garantido que está no Céu”, desenvolveu a jornalista da Renascença.
Creio que há muita gente que, quando reza aos pastorinhos, também inclui a Irmã Lúcia, apesar de ela não ser beatificada. Praticamente, os três fazem uma grande interceção no Céu”.
Lúcia Rosa dos Santos, mais tarde a irmã Maria Lúcia de Jesus e do Coração Imaculado, foi uma dos três videntes que testemunharam seis aparições de Nossa Senhora na Cova da Iria, segundo os seus testemunhos, reconhecidos pela Igreja Católica.
Francisco e Jacinta marto, seus primos, morreram em 1919 e 1920, respetivamente, e foram canonizados pelo Papa Francisco, a 13 de maio de 2017, em Fátima,
Por indicação do bispo de Leiria, D. José Alves Correia, a Irmã Lúcia escreveu as suas ‘Memórias’, entre 1935 e 1941; a edição crítica foi publicada em setembro de 2016.
Aura Miguel considera que as ‘Memórias’ da Irmã Lúcia foram um contributo “decisivo” para “penetrar” na mensagem de Fátima, “foi confiada a crianças” e que até “desarma” os teólogos.
“É profunda, tão profunda e com um potencial tão grande que acabou por ser também profética e dura até hoje. A fecundidade e a vitalidade da mensagem de Fátima persiste e muito do material que nos ajuda a crescer nas razões e a amadurecer este percurso partem dos escritos da Irmã Lúcia”, acrescenta a jornalista, em entrevista ao Programa ECCLESIA, que é transmitido esta quinta-feira, na RTP2.
A fase diocesana do processo de beatificação e canonização da Irmã Lúcia de Jesus chegou ao fim a 13 de fevereiro de 2017, na igreja do Carmelo de Coimbra; a causa teve início em 2008, três anos após a sua morte, tendo na altura o Papa Bento XVI dispensado o período de espera de cinco anos determinado pelo Direito Canónico.
O processo implicou a análise de milhares de cartas e textos, além da auscultação de 61 testemunhas.
HM/CB/OC