José Eduardo Borges de Pinho admite «tensões», no debate sobre sinodalidade, e destaca dimensão ecuménica do tema
Lisboa, 15 set 2023 (Ecclesia) – José Eduardo Borges de Pinho, teólogo português, considera que o processo sinodal lançado pelo Papa Francisco, 60 anos depois do Concílio Vaticano II (1962-1965), é um momento “significativo, muito marcante” para a Igreja.
“É o grande acontecimento de receção do Concílio da nossa geração”, refere o especialista, em entrevista à Agência ECCLESIA.
Para o professor jubilado da UCP, Francisco lançou um caminho inspirado pelo ensinamento conciliar que leva a Igreja a “repensar o seu modo de estar”, perante um mundo em mudança.
“É normal que surjam algumas tensões”, admite.
Borges de Pinho fala num “perigo real” de derivas ideológicas e de “deturpação” dos verdadeiros objetivos do processo sinodal.
“Não temos, na tradição católica, uma grande experiência de diálogo aberto e continuado”, observa, apontando a uma mentalidade mais “disponível para receber as coisas de cima para baixo” ou mesmo marcada por um “certo autoritarismo”.
O teólogo considera que há pessoas e grupos que não estão disponíveis para “caminhar com o espírito e a letra do Concílio Vaticano II” e se “autoexcluem”.
A primeira sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos vai decorrer de 4 a 29 de outubro de 2023, com o tema ‘Para uma Igreja sinodal: comunhão, participação, missão’; Francisco decidiu que a mesma terá uma segunda etapa, em 2024.
José Eduardo Borges de Pinho sublinha que os trabalhos vão enfrentar desafios levantados por uma presença nos cinco continentes, que implica diversas “sensibilidades” e “visões culturais”.
O entrevistado recorda que Francisco também convocou para este encontro participantes que olham para o processo sinodal com “reservas e até ceticismo”.
“Temos de aprender a ouvir outras posições, mesmo não concordando com elas e dizendo claramente que não são caminho de futuro, sem meias palavras, e a manter as pontes de diálogo, na convicção de que o acolhimento de Deus pelas pessoas, na vida da Igreja, não obedece completamente aos nossos critérios”, sustenta.
O Vaticano apresentou a 20 de julho o ‘Instrumentum Laboris’ para a primeira sessão da XVI assembleia geral ordinária do Sínodo dos Bispos, o documento de trabalho que resultou do processo sinodal a nível das dioceses, conferência episcopais e continentes desde outubro de 2021.
A assembleia vai ser antecedida por uma vigília ecuménica de oração, a 30 de setembro, na Praça de São Pedro, unindo o Papa e líderes de 12 confissões cristãs.
Para Borges de Pinho, este é um momento de “grande simbolismo”, recordando que a sinodalidade tem “uma grande tradição” em termos ecuménicas, com tradução em “formas de partilha e participação”, noutras tradições cristãs.
“Hoje, mesmo na visão ecuménica global, há uma mudança”, superando uma visão centrada apenas no acordo sobre “determinados temas”, valorizando o que é possível “fazer juntos”, no momento atual.
“A Igreja tem de dar um salto qualitativo, na vivência da sinodalidade, também na sua faceta ecuménica”, acrescenta.
O especialista aponta a um “processo de aprendizagem, amplo”, por parte dos responsáveis católicos.
“Os resultados vão demorar o seu tempo”, considera Borges de Pinho, defendendo que os frutos do processo sinodal “virão ao de cima”.
A entrevista vai ser emitida este domingo, no Programa 70×7 (RTP2), pelas 07h30.
O Sínodo dos Bispos pode ser definido, em termos gerais, como uma assembleia de representantes dos episcopados católicos de todo o mundo, a que se juntam peritos e outros convidados, com a tarefa ajudar o Papa no governo da Igreja.
PR/OC