Tema vai ser discutido no encontro da Pastoral Social que hoje começa em Fátima
Lisboa, 09 set 2014 (Ecclesia) – O coordenador nacional de Pastoral Penitenciária da Igreja Católica em Portugal considera que é necessário um compromisso de toda a sociedade para que os reclusos possam ter perspetivas de “futuro”, apelando à reformulação do sistema prisional.
“Os presos são pessoas, com dignidade e com sonhos, com direito a viver um futuro diferente”, escreve o padre João Gonçalves, da Diocese de Aveiro, em artigo publicado no Semanário ECCLESIA, numa edição dedicada ao 29.º encontro de Pastoral Social, que hoje se inicia em Fátima.
O sacerdote fala na ausência de preocupação com a “integração das pessoas”, quando voltam para o seu lugar na sociedade, em contraponto à importância dada à “punição pelo ilícito cometido”, sublinhando que “o esforço para a reinserção de uma pessoa presa começa no dia em que ela é detida”.
“Tudo deveria estar voltado para a recuperação das pessoas delinquentes, muito mais do que para uma punição que, se não for devidamente acompanhada, torna-se inútil, revoltante, e até destruidora da pessoa que a suporta”, adverte.
O tema vai estar em análise no encontro da Pastoral Social, sobre o tema ‘A dimensão social do anúncio do Evangelho. Desafios do Papa Francisco’.
Em Portugal, assinala o coordenador nacional da Pastoral Penitenciária, há outra espécie de “prisão perpétua”, porque “o sistema e as filosofias que sustentam e caucionam a privação de liberdade” de uma pessoa não são suficientemente “humanas e humanizantes”.
“O que se pretende com a detenção de uma pessoa é, principalmente, a sua recuperação, de modo a que volte para vida em sociedade sem cometer crimes”, sustenta, antes de recordar a elevada percentagem de “reincidência” nos reclusos.
O padre João Gonçalves recorda o exemplo do Papa Francisco, “com uma sensibilidade humana e cristã tão apurada, que nenhum espaço de dor, de sofrimento, de abandono lhe escapa”.
“É que as periferias que o Papa aponta não são as da geografia, mas sim as pessoas que correm o risco de permanecerem na margem, perdidas, e em permanente risco de anonimato, de esquecimento e de morte antecipada”, observa.
Nesse contexto, o sacerdote realça que os católicos são chamados a entender que as prioridades de Jesus Cristo “andaram sempre pela aproximação aos mais débeis, aos mais pobres, e mesmo aos que eram marcados por rótulos de incumpridores legais”.
“É a questão, sempre verdadeira, da dimensão espiritual do homem, a precisar de ser aprofundada e redimensionada nas prisões em Portugal, quer com uma legislação da assistência espiritual e religiosa dos reclusos mais adequada, quer com uma presença mais forte, preparada e sistemática de quem vai à prisão em nome da Igreja”, conclui.
OC