Igreja: Presença, diálogo, fraternidade humana e defesa da criação marcam modelos da missão hoje «graças ao magistério do Papa Francisco», afirma padre Manuel Augusto

Missionário comboniano aborda experiências missionárias em África e Ásia e olha para missão como uma atividade que vai sofrendo mutações

Lisboa, 25 ago 2025 (Ecclesia) – O Padre Manuel Augusto, missionário comboniano, destacou as alterações que a atividade missionária tem sofrido ao longo dos anos, para as quais contribuiu o Papa Francisco, que estava a oferecer uma “visão renovada” da missão à Igreja.

“Se nós comparamos a situação atual àquela, por exemplo, de 1800, da segunda parte de 1900, a primeira parte do século XX, a situação mudou muito, mas com o Papa Francisco, mudou no sentido muito belo, com a ideia de reconfigurar a vida da Igreja partindo da missão”, afirmou o sacerdote no Programa Ecclesia, transmitido hoje na RTP2.

O entrevistado recorda o encontro que teve com o antecessor de Leão XIV em abril de 2020, no qual o Papa lhe fez um pedido que o padre comboniano não conseguiu corresponder, devido a problemas de saúde que enfrentava na altura.

“Mas eu prometi a mim e a ele fazer qualquer coisa para o ajudar nesta configuração missionária que ele queria dar à Igreja. E, portanto, fazer qualquer coisa, sobretudo para ajudar os jovens que se preparam para a vida missionária a adquirirem uma visão renovada, que era aquela que o Papa estava a oferecer à igreja”, contou.

O missionário pensou em “aprofundar os modelos de missão, mostrar como eles se relacionam”, como “estão presentes na história da igreja” e quais são aqueles “que emergem hoje, também por iniciativa e graças ao magistério do Papa Francisco”.

“Eu acho que hoje nós estamos a viver modelos [de missão] que valorizam a presença, o diálogo, que valorizam a ação transformativa, que valorizam o anúncio do Evangelho, que valorizam, como o Papa Francisco, a fraternidade humana e que valorizam também a defesa da criação, a ecologia integral”, indicou.

O padre Manuel Augusto enfatiza que o Papa Francisco ajudou compreender que estes “modelos não se isolam”, estabelecendo a imagem que a “Igreja é o poliedro”, tem muitas faces que se tocam, se enriquecem e se relacionam.

“Por exemplo, a [encíclica] Laudato si’, teve um eco enorme, uma resposta muito grande e é bonito, porque há muitas comunidades cristãs que assumem a ecologia integral como missão e, portanto, isso é importante. Mas é igualmente importante que não isolem isso das outras dimensões”, realçou.

O missionário comboniano considera que os cristãos estão cada vez mais a assumir que eles próprios são missionários, mas que a “narrativa bela e atrativa” que foi construída “ainda não tem o poder de transformação que parece que poderia e deveria ter”.

“É preciso passar à iniciativa e harmonizar as coisas, porque o facto de todos sermos missionários não anula aquilo que a tradição cristã sempre disse, que há vários carismas. Há os evangelistas, há os apóstolos, há os mestres, os catequistas […] Portanto, isso não anula os ministérios”, sublinha.

Em entrevista ao Programa Ecclesia, o padre Manuel Augusto aborda o percurso missionário que começou no Quénia, em 1983, sete anos após ter sido ordenado padre, onde ficou até 1988, tendo desempenhado um papel na evangelização e formação.

“Realmente impactou muito, estamos no começo dos anos 80, eram anos de uma urbanização intensa, e portanto as condições de vida das pessoas nos bairros à volta de Nairobi eram realmente terríveis, muito difíceis”, relata.

O padre Manuel Augusto descreve que na altura o que se procurava valorizar era a “presença”, o “valor do diálogo com a cultura local” e a “aprendizagem da língua”, bem como “um certo “aprofundamento das tradições culturais”.

“Nessa altura, em África, a ideia que dominava era a de valorizar a cultura, inculturar o cristianismo, como na altura se falava, e não tanto fazer a transformação social”, explica.

O missionário assume que pensou que iria ficar por África, no entanto em 1988 recebeu a proposta de fazer parte do primeiro grupo de combonianos a realizar missão na Ásia, mais concretamente em Manila, nas Filipinas.

A informação fez parte do serviço missionário do padre Manuel Augusto, que fez parte da revista missionária World Mission (Missão Universal), em Manila, e, ainda em Portugal, integrou as revistas Além-Mar e Audácia.

“É uma informação genuína, uma informação que parte sempre de um testemunho, de uma vivência, daquilo que se vive. Portanto, a revista, a World Mission, ainda existe, ainda é dirigida por um português, um comboniano, mas ele já tem uma equipa preparada, com filipinos e um africano”, adianta.

No que respeita ao carisma comboniano, o sacerdote considera que, atualmente, se vive um “tempo de passagem”.

“Nós estamos a passar a uma geração nova, no caso da África, aos colegas africanos”, assinala, defendendo que, nestas alturas, é importante “saber retirar-se”.

HM/LJ

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