Dignidade da pessoa humana, subsidiariedade e complementaridade entre fé e razão são os fundamentos da Europa para Bento XVI
“Não basta pregar os princípios, não basta saber os valores. O Papa vem exigir exemplaridade”, declarou Adriano Moreira no colóquio «O Pensamento de Bento XVI», que decorre esta Segunda-feira em Lisboa.
No segundo painel do encontro, denominado “A Europa. Os seus fundamentos hoje e amanhã”, que retomou o título de uma das obras do então Cardeal Joseph Ratzinger, o presidente da Academia das Ciências de Lisboa sublinhou que o Papa exige um comportamento modelar da parte da economia, do Estado e da Igreja.
“A exemplaridade é a única coisa que rompe a sociedade do espectáculo”, sublinhou José Pacheco Pereira, que classificou Bento XVI como “um dos grandes intelectuais europeus”, cujo pensamento passou praticamente desapercebido até à sua eleição para Papa.
Depois de qualificar o preâmbulo da Constituição da União Europeia de “má história, má filosofia e má política”, o antigo deputado do Parlamento Europeu frisou que a obra do Papa “tenta dialogar com os problemas dos outros”.
O deputado referiu que o Papa manifesta “empatia pelas razões que fazem o outro pensar de determinada razão” e “é dos autores que menos anátemas tem no seu pensamento”.
A dignidade da pessoa humana, a subsidiariedade e a complementaridade entre fé e razão são, no entender de Guilherme d’Oliveira Martins, os fundamentos da Europa para Bento XVI.
O presidente do Centro Nacional de Cultura considera que o “princípio da subsidiariedade” é “absolutamente essencial” para o Papa por garantir a autonomia pessoal, a liberdade e a entreajuda, ao mesmo tempo que assegura a resolução em instâncias nacionais e mundiais de problemas que só podem ser solucionados numa perspectiva global.
De acordo com Guilherme d’Oliveira Martins, o Bento XVI insiste na separação entre Igreja e Estado, originalidade que provém da recusa de Jesus em assumir qualquer projecto de liderança política, e valoriza a noção de laicidade: “não se trata de um projecto de poder”, mas uma abordagem “aberta e dialógica” que envolve “a fé e a razão”.
Segundo o presidente do Tribunal de Contas, “as razões fundamentais da esperança devem ocorrer a partir da ideia de que a Europa pode e deve funcionar como semente” e prefiguração da família humana
Para Carlos Gaspar, o livro de Bento XVI é um apelo aos cristãos para que sejam uma minoria criativa pronta a mudar o curso da História.
Fotografia (da esquerda para a direita): Carlos Gaspar, Guilherme d’Oliveira Martins, Adriano Moreira e José Pacheco Pereira