Igreja/Portugal: Vice-postuladora da causa de canonização da Irmã Lúcia sublinha percurso espiritual «marcado pela liberdade»

«Fiquemos atentos e rezemos, talvez antes da Páscoa tenhamos novidades» – Irmã Ângela Coelho

Foto: Santuário de Fátima

Coimbra, 13 fev 2025 (Ecclesia) – A vice-postuladora da causa de canonização da Irmã Lúcia disse hoje em Coimbra que a religiosa e vidente de Fátima teve um percurso espiritual “marcado pela liberdade”.

“Lúcia não nasceu santa e, apesar do privilégio das Aparições, teve de percorrer um caminho igual ao nosso”, referiu a irmã Ângela Coelho, numa conferência intitulada ‘Ir. Lúcia, uma vida entre a Serra d’Aire e o Monte Carmelo’.

A irmã Lúcia de Jesus (1907-2005), considerada como a memória das Aparições de Fátima, entre maio e outubro de 1917, morreu há 20 anos e o seu processo de canonização decorre no Vaticano, tendo sido reconhecida como venerável, em junho de 2023, com a publicação do decreto que reconhece as “virtudes heroicas”.

Esta é uma fase do processo que leva à proclamação de um fiel católico como beato, penúltima etapa para a declaração da santidade; para a beatificação, é agora necessária a aprovação de um milagre atribuído à intercessão da religiosa carmelita.

A irmã Ângela Coelho anunciou a publicação, em breve, de um livro do teólogo carmelita François-Marie Lethel, sobre a vida da vidente de Fátima.

“Fiquemos atentos e rezemos, talvez antes da Páscoa tenhamos novidades”, referiu a responsável.

A conferência foi apresentada como uma “peregrinação interior” à vida de Lúcia, com a ajuda de vários dos seus escritos.

“Foi tudo por causa de Nossa Senhora”, indicou a vice-postuladora, sublinhando que este foi “o segredo da vida e da santidade” desta “carmelita descalça que tanto amou”.

A irmã Ângela Coelho afirmou que os pastorinhos, hoje “três notáveis, mas à época crianças simples, com o mesmo ofício”, foram testemunhas de “uma graça extraordinária” e fizeram a “experiência de Deus e do seu amor”.

Faz hoje 20 anos que partiu para o céu. Portugal parou, suspenso”.

A intervenção identificou os “alicerces” da vida espiritual de Lúcia, “introduzida na luz de Deus” pela aparição do 13 de maio de 1917.

Um mês depois, a vidente sente-se como “luz sobre a luz derramada sobre a terra”, identificando a missão que lhe seria reservada.

Em 15 de junho de 1921, antes da sua partida para o Porto, Lúcia vive na Cova da Iria a sétima aparição, tendo deixada registada a seguinte frase: “Repeti então o meu sim”.

Para a vice-postuladora da causa de canonização, a vida da religiosa portuguesa foi marcada pela “grande virtude da humildade” e pelo desejo de ser uma “pedra escondida”.

A partir de 1955, a Santa Sé começa a impor um conjunto de normas que restringem as visitas e as intervenções de Lúcia sobre Fátima, para “proteção e defesa” da vidente.

“Não deixa de ser impressionante verificar que é precisamente sobre a vocação de Lúcia, dada por Deus – difundir no mundo a devoção ao Coração de Maria –, que a Santa Sé vai ter uma intervenção”, registou a irmã Ângela Coelho.

Estas décadas de silêncio, sublinhou a responsável, faz com que a vidente “difunda Fátima mais através da irradiação da santidade da sua pessoa do que por palavras”.

“A partir do silêncio do claustro tornou-se uma figura universal”, acrescentou, citando o decreto da Santa Sé sobre a heroicidade das virtudes.

A vice-postuladora destacou que “Lúcia implicitamente, durante toda a vida, quer provar que sempre falou a verdade”.

“Deus fez dela uma coluna deste tempo, que será a Mensagem de Fátima. Podia ser uma pedra escondida, mas era uma rocha forte e segura”, disse ainda.

A intervenção decorreu no Carmelo de Santa Teresa, onde a vidente de Fátima faleceu a 13 de fevereiro de 2005, após décadas de vida de clausura.

No mesmo local, pelas 18h00, D. Virgílio Antunes, bispo de Coimbra, presidiu à Eucaristia.

O antigo reitor do Santuário de Fátima também se referiu ao livro do padre François-Marie Lethel, com vários textos do diário da Irmã Lúcia.

“Percebem-se ali as dificuldades que enfrenta qualquer pessoa, quando quer fazer um caminho sério de vivência da sua fé, de vivência da sua vocação”, disse, na homilia da Missa, com transmissão online.

D. Virgílio Antunes mostrou-se “feliz” por celebrar este aniversário e esta Eucaristia no contexto do Jubileu 2025, dedicado à esperança.

“Para muitas pessoas, em todas as partes do mundo, a Irmã Lúcia também é um destes intermediários no caminho para a esperança única que é Jesus Cristo. Demos graças sentidas ao Senhor, nosso Deus, por todo o percurso desta vida e pelos sinais de esperança que durante a sua vida, mas agora também depois da sua morte, continuam a transparecer”, indicou o bispo de Coimbra.

OC

Notícia atualizada às 19h13

Igreja: Irmã Lúcia, memória de Fátima, morreu há 20 anos

 

Lúcia Rosa dos Santos, mais tarde a irmã Maria Lúcia de Jesus e do Coração Imaculado, nasceu em Aljustrel (Fátima), a 28 de março de 1907; foi batizada dois dias depois, a 30 de março, e fez a primeira comunhão aos seis anos de idade.

Juntamente com os santos Francisco e Jacinta, seus primos, foi um dos três videntes que testemunharam seis aparições de Nossa Senhora na Cova da Iria, segundo os seus testemunhos, reconhecidos pela Igreja Católica.

Francisca e Jacinta Marto morreram em 1919 e 1920, respetivamente; Lúcia ficou “mais algum tempo”, como lhe disse Nossa Senhora na aparição de 13 de junho de 1917.

Após as Aparições de Fátima, Lúcia Rosa dos Santos entrou no Colégio das Irmãs Doroteias, no Porto, em 1921, congregação onde foi religiosa a partir de 1928, permanecendo na Comunidade de Tuy e Pontevedra, na Galiza.

No dia 25 de março de 1948, a Irmã Lúcia entrou para o Carmelo de Santa Teresa em Coimbra, onde tomou o hábito de carmelita no dia 13 de maio de 1948 e professou em 31 de maio de 1949.

Por indicação do bispo de Leiria D. José Alves Correia, redigiu as memórias das Aparições de Fátima entre 1935 e 1941, cuja edição crítica foi publicada em setembro de 2016, as quais foram retomadas a pedido de monsenhor Luciano Guerra, reitor do Santuário.

A Irmã Lúcia morreu no dia 13 de fevereiro de 2005 e foi sepultada no Carmelo de Coimbra; o seu corpo foi trasladado para a Basílica do Rosário de Fátima no dia 19 de fevereiro de 2006, onde foi tumulado ao lado da sua prima, Santa Jacinta Marto.

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