Diretora da Obra Católica Portuguesa de Migrações critica discursos que fomentam preconceito e exclusão das diferenças
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Lisboa, 28 fev 2025 (Ecclesia) – A diretora da Obra Católica Portuguesa de Migrações (OCPM) criticou os discursos que fomentam preconceito e exclusão dos estrangeiros, questionando a criminalização da imigração.
“Ser imigrante não é crime”, refere Eugénia Quaresma, convidada da entrevista semanal conjunta ECCLESIA/Renascença, publicada e emitida aos domingos.
A responsável do organismo católica lamenta que se venha associando a insegurança à imigração, considerando que alguns responsáveis políticos procuram “um bode expiatório”.
“Várias das causas de insegurança prendem-se com questões estruturais da sociedade e temos de olhar para elas de uma forma estrutural”, refere.
A conversa aborda a recente mensagem do Papa para a Quaresma 2025, na qual Francisco pede que se recordem aqueles que fogem de situações de miséria e violência e vão à procura de uma vida melhor.
“Não podemos esquecer as raízes históricas e até as raízes humanas de qualquer civilização, que passam pelas migrações”, indica a diretora da OCPM.
Num olhar sobre o cenário português e europeu, Eugénia Quaresma assume sinais de preocupação com “a questão da política e o modo como se instrumentalizam as migrações”.
“Se nos mantivermos na polarização, estamos a descurar aquilo que ajuda a coesão social, precisamos todos uns dos outros”, adverte.
Para a entrevistada, é preciso perceber os interesses que levam a “ostracizar” e mesmo “diabolizar” os que “estão, no fundo, a ser proativos para sair da pobreza, para sair da miséria, para melhorar as sociedades de acolhimento”.
“Existe o medo, mas é importante vencer e enfrentar esse medo e esse medo enfrenta-se na relação, enfrenta-se promovendo o encontro”, aponta.
“Não importa a nacionalidade, não importa a religião, importa a pessoa”, insiste a responsável católica.
Algumas comunidades cristãs já abraçaram este desafio de escutar os migrantes e isto tem de ser alargado”.
Assumindo as dificuldades na resposta legal aos imigrantes, em Portugal, Eugénia Quaresma observa que o trabalho associativo pode “ajudar a parte administrativa a ter um discurso humanista”.
“Foram tomadas algumas medidas para diminuir esta pressão, nomeadamente quando se terminou com as manifestações de interesse, e aquilo que se vai percebendo é que ainda não é suficiente”, precisa.
A diretora da OCPM diz que, a nível da Igreja, se tem procurado “criar respostas interligadas com outras instituições do terreno” e elogia a liderança do Papa Francisco, neste tema.
“Infelizmente, dentro da Igreja encontramos discursos de rejeição e discursos que não são apologistas do diálogo inter-religioso”, observa a entrevistada.
Eugénia Quaresma entende que deve prevalecer a “capacidade de olhar o outro, escutar o outro, tocar o outro com respeito, e na relação há reciprocidade”.
“É este o desafio, não ficarmos presos na nossa bolha, seja ela nacional, seja ela religiosa”, conclui.
Henrique Cunha (Renascença) e Octávio Carmo (Ecclesia)