Igreja/Portugal: Semana ecuménica desafia a «saber acolher», afirma arcebispo de Évora

D. Francisco Senra Coelho destaca também «a experiência ecuménica dos jovens» e a importância dos mártires

Foto: Agência ECCLESIA/LFS

Albufeira, 19 jan 2025 (Ecclesia) – O arcebispo de Évora destacou a importância de “saber acolher”, no contexto da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos que a Igreja Católica vai celebrar, no hemisfério norte, de 18 a 25 de janeiro.

“Este saber acolher é um gesto, antes de tudo, de abertura de vida, de dimensão, de integração, de promoção humana e, depois, de confiança. Este gesto ecuménico, de coração cristão, só pode acontecer se formos ecuménicos em nós, esse é o primeiro desafio, é a unidade dentro da Igreja Católica, o aprendermos a viver, com diversidade de temperamentos, modos de ser, compreensões da vida, cosmovisões”, disse D. Francisco Senra Coelho, em entrevista à Agência ECCLESIA.

Segundo o arcebispo de Évora, as comunidades católicas, as paróquias, têm “uma necessidade muito grande também de cura” e de aprofundar a capacidade de relação humana, o respeito pela diferença, “vendo não como uma ameaça, mas como uma complementariedade”.

“A nossa unidade tem a ver com o vínculo, diria, da credibilidade do nosso anúncio evangélico”, realçou, no contexto da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos 2025, que no hemisfério norte começa este sábado, decorre de 18 a 25 de janeiro.

Na Arquidiocese de Évora, segundo o responsável diocesano, “há várias igrejas cristãs, comunidades evangélicas, Batistas”, Igreja Lusitana, que partilham “no acolhimento e na relação”, com quem se querem “sentir como irmãos em Cristo”.

“Évora tem recebido também muitos migrantes, nomeadamente do Brasil, temos os nossos irmãos ucranianos e temos muitos grupos de timorenses e há aqui um diálogo de acolhimento. Nós recebemos, sobretudo, da América Latina muitas Igrejas irmãs Cristãs; muitos cristãos brasileiros católicos e também comunidades cristãs não católicas”, acrescentou, lembrando a presença de “muitas comunidades asiáticas”.

D. Francisco Senra Coelho destacou também, como “muito importante”, os mártires das Igrejas Cristãs e a experiência ecuménica dos jovens, que “é uma estrada nova que se começa a percorrer”.

Os jovens entendem que o Cristo que os une não apaga as tradições de cada uma das suas Igrejas, mas faz com que as tradições se abracem na unidade do mesmo Cristo e não se tornem antagónicas ou rivais. Os jovens percebem que Cristo chama a construirmos juntos a paz, a defendermos o planeta, a ‘casa comum’, a ecologia, a vivermos em conjunto grandes dinâmicas de humanização”.

O arcebispo doutorado em História explicou, sobre “os cristãos que são perseguidos e morrem” independentemente da confissão religiosa, que “o sangue dos mártires faz de cada um pertença de Cristo, corpo de Cristo”.

A Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos 2025 tem como tema ‘Crês nisso?’, inspirado no diálogo entre Jesus e Marta, quando Jesus visitou a casa de Marta e Maria em Betânia, após a morte do seu irmão Lázaro, conforme narra o evangelista João.

“Aí está o eixo da nossa fé, quando nos situamos perante a finitude da nossa vida e a morte, o cristianismo proclama, como dizia Tertuliano, no princípio da Igreja, que o cristão é aquele que acredita na vida eterna. E o que distingue o cristão é acreditar na vida eterna, aonde a última palavra não é da morte, mas da ressurreição, quando Jesus pergunta ‘crês nisso’, está aí exatamente o veio, o eixo, daquilo que nos distingue”, assinalou D. Francisco Senra Coelho, observando que o cristão acredita “num Cristo que perante a morte traz o dom da vida, ou seja, que tira a vida da morte, tira do zero a unidade”.

Segundo D. Francisco Senra Coelho, o tema do Oitavário para a Unidade dos Cristãos este ano está também relacionado “com a esperança, tem a ver com o Ano Santo, com o jubileu”, porque a raiz da esperança é “a fé num Cristo vencedor da morte e é esta a identidade cristã, o kerigma”.

“A esperança é diferente do otimismo, é muito mais do que o otimismo, e nós, cristãos, queremos levar esta esperança ao mundo; a nossa história tem uma possibilidade, porque tem um sentido, que é o amor com que Deus criou e constituiu este projeto. É esta esperança que é para nós o desafio a propor à humanidade.”

CB/OC

O tradicional oitavário de oração, neste ano de 2025, evoca também o 1700.º aniversário do primeiro Concílio Ecuménico, realizado em Niceia, atual Turquia.

Ecumenismo é o conjunto de iniciativas e atividades que favorecem o regresso à unidade dos cristãos, quebrada no passado por cismas e ruturas.

O ‘oitavário pela unidade da Igreja’, hoje com outra denominação, começou a ser celebrado em 1908, por iniciativa do norte-americano Paul Wattson, presbítero anglicano que mais tarde se converteu ao catolicismo.

As principais divisões entre as Igrejas cristãs ocorreram no século V, depois dos Concílios de Éfeso e de Calcedónia (Igreja Copta, do Egito, entre outras); no século XI com a cisão entre o Ocidente e o Oriente (Igrejas Ortodoxas); no século XVI, com a Reforma Protestante e, posteriormente, a separação da Igreja de Inglaterra (Anglicana).

 

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