Igreja/Portugal: Responsável do Vaticano destaca papel das religiões como «fontes de fraternidade e solidariedade»

Cardeal George Koovakad veio a Fátima para assinalar 60 anos da declaração «Nostra Aetate», do Concílio Vaticano II

Foto: Agência ECCLESIA/LS

Fátima, 16 out 2025 (Ecclesia) – O prefeito do Dicastério para o Diálogo Inter-Religioso (Santa Sé) disse hoje em Fátima que é preciso ser “construtores de pontes” entre os crentes e com a sociedade, promovendo valores da fraternidade e da solidariedade.

“As religiões, na sua essência, são fontes de fraternidade e solidariedade. Elas ensinam-nos a demonstrar amor, compaixão, perdão e misericórdia uns pelos outros”, referiu o cardeal George Koovakad, convidado da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), no âmbito das comemorações do 60.º aniversário da publicação da declaração conciliar ‘Nostra Aetate’, sobre a relação da Igreja Católica com as religiões não-cristãs.

A iniciativa foi promovida pela Subcomissão de Diálogo Inter-Religioso da CEP e começou às 10h30, com a celebração da Eucaristia na Capelinha das Aparições, na Cova da Iria.

Perante representantes de várias confissões, o responsável da Cúria Romana sustentou que “o diálogo inter-religioso nada mais é do que um encontro entre pessoas, um encontro de corações, de mentes, de projetos com perspetivas de paz e harmonia”.

Para o prefeito do Dicastério para o Diálogo Inter-Religioso, é preciso promover entre os crentes “uma amizade respeitosa, apesar das diferenças e da diversidade”, partilhando “valores e convicções religiosas e preocupações comuns sobre a sociedade, que dão origem a um compromisso comum de trabalhar juntos pelo bem comum”.

“O Papa Francisco destacou-se por cultivar este tipo de amizade”, recordou, no Centro Pastoral Paulo VI, em Fátima.

Foto: Agência ECCLESIA/LS

O cardeal George Koovakad uma conferência sobre “a génese, história e relevância atual” da declaração ‘Nostra Aetate’, promulgada em 1965 pelo Concílio Vaticano II.

O documento é considerado histórico, marcando uma viragem na relação da Igreja Católica perante outras religiões, ao afirmar o respeito pelos valores espirituais presentes nessas tradições e condenar toda e qualquer discriminação por motivos de fé.

A declaração, que rejeita o antissemitismo, está ligada ao pontificado do Papa João XXIII, que convocou o Vaticano II, e ao seu encontro com o judeu francês Jules Isaac, sobrevivente do Holocausto.

“É inegável que a importância e a relevância da ‘Nostra Aetate’ para os nossos tempos se mantêm desde o momento em que surgiu e começou a exercer a sua influência na área do diálogo inter-religioso e em iniciativas e compromissos afins”, apontou D. George Koovakad.

O cardeal indiano falou de um “cenário angustiante e perturbador” na atualidade, marcado pela violência, que exige dos membros das várias religiões um trabalho comum para “encontrar respostas a essas questões em conjunto e construir a paz no mundo”.

Em declarações à Agência ECCLESIA, o líder da Mesquita Central de Lisboa, xeque David Munir, sublinha a importância do diálogo, lembrando que algumas pessoas “utilizam a religião para fazerem conflitos, em vez de unir os povos”.

O responsável muçulmano elogiou as iniciativas que promovem o encontro entre crentes e desejou que, em Portugal, se mantenha a tradição de “partilhar a mesma mesa com pessoas das outras confissões”.

Timóteo Cavaco, presidente da Aliança Evangélica, também esteve em Fátima, destacando o percurso realizado nas últimas décadas.

“É muito importante ter este tipo de celebrações porque elas ajudam a olhar para trás e ver o caminho que já foi feito e ao mesmo tempo, precisamente, pensar no futuro”, assinalou.

O líder evangélico desejou que todos estejam “dispostos a conhecer o outro, a conhecer as convicções do outro, não só naquilo que ele é, mas também nas suas convicções”.

O programa da comem oração concluiu-se com um almoço que reuniu bispos, delegados diocesanos e líderes de outras religiões na Casa de Nossa Senhora do Carmo.

LS/OC

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