Igreja/Portugal: Responsável católica rejeita «instrumentalização» política das populações migrantes

Eugénia Quaresma, diretora da OCPM, assinala 110.º Dia Mundial do Migrante e Refugiado

Lisboa, 29 set 2024 (Ecclesia) – A diretora da Obra Católica Portuguesa de Migrações (OCPM) afirmou que alguns setores da política estão a usar “indevidamente” a chegada de populações migrantes para procurar “dividir” a sociedade.

“É importante que não permitamos que os políticos instrumentalizem esta questão. As migrações têm uma tendência muito natural a regular-se”, referiu Eugénia Quaresma, em entrevista à Agência ECCLESIA, por ocasião do 110.º Dia Mundial do Migrante e Refugiado, que a Igreja Católica celebra este domingo.

“Aquilo que alguns políticos fazem é querer dividir a nossa sociedade. Coloca o migrante no meio de uma disputa política. Não pode ser”, insistiu.

A responsável elogia o papel do Papa, neste campo, e recorda os seus alertas contra o “negócio nefasto que acontece em torno das migrações”.

Para a entrevistada, é importante que as comunidades católicas se empenhem, “não só no primeiro acolhimento, no acolhimento de emergência”, mas na promoção e inclusão dos migrantes.

“As migrações são um fenómeno natural e humano. E, portanto, temos de lidar com ele com normalidade. Não nos podemos esquecer, e o povo português não se esquece com certeza, que ou foi migrante ou tem um familiar migrante”, acrescentou.

Eugénia Quaresma entende que as recentes alterações promovidas pelo Governo em Portugal, visam “gerir da melhor maneira” os fluxos migratórios, apesar das dificuldades assumidas por todas as partes.

“Quero acreditar que são critérios humanistas, porque o Governo reconhece que precisa dos trabalhadores, precisa também de dar-lhes condições, ou de ter condições. Este processo de gestão não pode estar só nas costas do Governo, ele tem de contar também com as forças locais, tem de contar com os empresários”, precisa, apelando à elaboração de “um plano de acolhimento e integração”.

Não nos podemos esquecer que não temos só pessoas que vêm para trabalhar. Nós temos também estudantes, temos também doentes, acompanhantes de doentes, portanto toda essa realidade tem de ser contemplada e tem de ser bem acompanhada”.

A diretora da OCPM contesta discursos que acusam os imigrantes de virem esgotar os recursos nacionais, sublinhando que eles são, “em primeiro lugar, contribuintes da Segurança Social e está provado por relatórios, por dados, o valor, o saldo positivo”.

Quanto a um alegado aumento da insegurança, Eugénia Quaresma sublinha que a questão deve ser vista no plano de “algumas dificuldades e tensões que a sociedade está a viver”, com consequências no aumento da toxicodependência e de pessoas em situação de sem-abrigo.

“É isto que temos de resolver e não usar o imigrante como bode expiatório. O imigrante por ser de fora é o mais fraco, vamos empurrar tudo para o imigrante”, denunciou.

A jornada de 2024 tem como tema ‘Deus caminha com o seu povo’ e celebra-se a 29 de setembro, o domingo que precede o início da segunda sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos (02-27 de outubro de 2024).

HM/OC

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