Igreja/Portugal: Responsáveis diocesanos da Catequese refletem sobre 1700 anos do Concílio de Niceia e do «Credo»

«Niceia marcou o início de uma Igreja mais estruturada e unificada», assinalou cónego Adriano Borges, que desafiou «a Igreja, e a catequese do futuro» a apresentar «um Credo que narre a história de Deus na vida de cada um»

Angra do Heroísmo, Açores, 02 mai 2025 (Ecclesia) – O cónego Adriano Borges, especialista em História da Igreja, explicou que o Concílio de Niceia, o primeiro ecuménico onde “se institui uma base, um critério, uma formulação” ao que Credo, foi “crucial” para a afirmação do Cristianismo.

“Penso que os padres conciliares estariam bem longe de imaginar que as decisões deste concílio influenciariam a Igreja até aos nossos dias. Niceia marcou o início de uma Igreja mais estruturada e unificada, mostrando o modo como a religião, a sociedade, e a cultura se relacionam e avançam”, disse o sacerdote da Diocese de Angra, esta quinta-feira, na primeira conferência do 62.º Encontro Nacional de Catequese (ENC), citado pelo portal online ‘Igreja Açores’.

O ENC 2025 tem como tema geral ‘Eu creio, nós cremos: De Niceia ao hoje da Catequese’, o cónego Adriano Borges explicou que “há um antes e um depois de Niceia” para a afirmação do Cristianismo, foi neste concílio na cidade da atual Turquia onde, pela primeira vez, “se institui uma base, um critério, uma formulação”, a que hoje se “chama Credo”.

“Unidade não significa unicidade e esta é a grande lição da história da Igreja que o Concílio de Niceia também veio sedimentar”, acrescentou o especialista em História da Igreja, na conferência ‘O Concílio de Niceia: Contexto histórico no Oriente e no Ocidente. Antecedentes e consequências’, no seminário diocesano em Angra do Heroísmo.

O cónego Adriano Borges lembrou que a formulação filosófica do Credo é hoje “difícil, quase incompreensível, para a maioria dos cristãos”, e propôs uma formulação que, no “respeito pela fé comum”, seja “pessoal e narre o bem que Deus fez na vida de cada um”.

“Gostaria muito que a nossa Igreja, e a catequese do futuro, apresentassem um credo como o credo judaico. Um Credo narrativo, que descreve as graças que Deus concedeu ao povo. Um Credo que narre a história de Deus na vida de cada um, sem fórmulas mas num verdadeiro diálogo com o criador”, explicou o orador licenciado em História pela Pontifícia Universidade Gregoriana.

O sacerdote da Diocese de Angra referiu que a “sinodalidade”, que o Papa Francisco introduziu e aprofundou no seu pontificado ao convocar o Sínodo dos Bispos, é “património cristão”, deve ser trazido à atualidade para que possam “fazer caminho juntos”.

“Sabemos que as nossas formulações estarão sempre aquém do que é Deus mas, em conjunto, na diversidade das opiniões e das formulações, na consciência de uma irmandade que a todos une poderemos percorrer um caminho que transforma o curso da história”, afirmou, citado pelo ‘Igreja Açores’.

O 62.º Encontro Nacional de Catequese reúne cerca de 80 responsáveis pelos secretariados diocesanos de catequese em Portugal, de 18 dioceses, desde esta quinta-feira, até sábado, de 1 a 3 de maio, em Angra do Heroísmo (Ilha Terceira), nos Açores, numa organização do Secretariado Nacional da Educação Cristã (SNEC).

“Importa reavivar a fé, refletir sobre as razões que nos unem em Cristo e reforçar a esperança, a caridade e o amor que movem a missão evangelizadora”, explicou a coordenadora do Departamento da Catequese no SNEC, a irmã Arminda Faustino, em nota enviada à Agência ECCLESIA.

Com o tema ‘Eu creio, nós cremos: De Niceia ao hoje da Catequese’, esta iniciativa coincide com os 1700 anos do Concílio de Niceia, e propõe uma reflexão sobre a atualidade da fé cristã e os novos desafios da evangelização, tem como objetivo primeiro o repensar do património espiritual e do modo como este pode ser traduzido para os tempos atuais, especialmente junto das novas gerações, explica a organização.

CB/OC

A partir do tema do encontro – ‘Eu creio, nós cremos: De Niceia ao hoje da Catequese’ -, na sessão de abertura, o presidente da Comissão Episcopal da Educação Cristã e Doutrina da Fé (CEECDF), da Igreja Católica em Portugal, pediu para pensarem na fé “como uma atitude individual que depois se consolida sempre na comunidade e no coletivo”: “nós cremos”.

Antes, o presidente da CEECDF, D. António Augusto Azevedo (bispo de Vila Real), tinha destacado a importância de redescobrir a fé à luz da tradição e dos desafios atuais: “O catecismo tem como centro o Credo. Somos convidados a relê-lo e a torná-lo acessível às crianças, adolescentes e jovens, 1700 anos depois da sua formulação”.

O Encontro Nacional de Catequese 2025 é organizado em parceria com a Diocese de Angra, o bispo diocesano referiu-se à oportunidade de “esperança e renovação para a diocese e para a Igreja”.

“Não há hoje discípulos que não cresçam com outros discípulos. O catequista já não é apenas o mestre, mas alguém que caminha com os outros, sendo presença de Cristo”, acrescentou D. Armando Esteves Domingues, em declarações antes do encontro, enviadas à Agência ECCLESIA.

No início dos trabalhos, o bispo de Angra afirmou que “a busca de um Cristo que é o salvador é fundamental”: “Há sempre esta descoberta de quem é este Cristo ressuscitado a quem rezamos e sobre quem rezamos; Oxalá Ele seja o centro da nossa vida, o centro da vida de cada um”.

A Diocese de Angra, através do sítio online ‘Igreja Açores’, assinala que o 62.º Encontro Nacional dos Secretariados Diocesanos da Catequese regressa aos Açores 20 anos depois, quando o Serviço Diocesano da Evangelização, Catequese e Missão comemora 66 anos.

“Que o Secretariado Nacional de Educação Cristã continue cada vez mais e melhor a congregar os catequistas e equipas diocesanas. Viemos para conhecer e cimentar a nossa fé para a podermos celebrar e transmitir”, referiu o diretor do SENC, o professor Fernando Moita.

 

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