Programa «70×7» aborda implementação das conclusões do Sínodo 2021-2024, sublinhando desafios na formação e na redefinição de lideranças

Fátima, 21 jun 2025 (Ecclesia) – O processo sinodal lançado pelo Papa Francisco, em 2021, trouxe um “novo paradigma” à vida das comunidades católicas, que em Portugal enfrentam desafios nas áreas da formação e na redefinição de lideranças.
“Há um novo paradigma, ainda há muito o que fazer, os leigos não estão ainda preparados, os padres também ainda não estão preparados”, assume o padre Júlio Rocha, da Diocese de Angra, em declarações à Agência ECCLESIA.
A reportagem aconteceu durante as Jornadas Pastorais da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), que decorreram esta semana em Fátima, para debater o processo sinodal, reunindo bispos, religiosos, representantes diocesanos e dos vários setores da pastoral.
O padre Júlio Rocha, da equipa sinodal de Angra, elogia a “atitude de escuta” que tem sido implementada na diocese e entende que se trata de uma tradução do Concílio Vaticano II.
Para o sacerdote, a sinodalidade é “uma forma de ser Igreja desde o princípio”.
“Nos Açores temo-nos preocupado bastante com isso, no sentido de criar as estruturas base, os alicerces da sinodalidade, Conselhos Pastorais, Conselhos Económicos, a prioridade aos leigos, a desclericalização”, aponta.
“Estamos a dar passos, diria até que vão além do Direito Canónico: sugerimos e algumas ouvidorias [conjuntos de paróquias] já têm, Conselhos Pastorais de Ouvidoria em que o leigo seja o presidente”, exemplifica.

D. Virgílio Antunes, vice-presidente da CEP e bispo de Coimbra, fala de uma “participação muitíssimo alargada” na elaboração do plano pastoral da diocese que vai entrar em vigor no ano pastoral 2025/2026.
“A vida das nossas unidades pastorais, em que a diocese está organizada atualmente, conta com os ministros ordenados, mas sempre com uma equipa de animação pastoral”, indica.
O responsável, que participou nas assembleias sinodais que o Vaticano acolheu em 2023 e 2024, fala de “uma realidade que está aí, que está presente e que tem todas as condições para continuar a dar os seus frutos”.
Para o bispo de Coimbra, é fundamental que “nada se faça sem que as pessoas que estão envolvidas, que fazem parte das comunidades, possam exprimir o seu modo de ver, o seu modo de pensar e ajudar a fazer o discernimento adequado para a tomada de decisões”.
![]() Vânia Pereira, da equipa sinodal da Arquidiocese de Braga, admite que após a publicação do documento final do Sínodo 2021-2024 se abriu um desafio para as comunidades locais, porque “o que está em causa é mudar a maneira de fazer e de ser Igreja”. “Talvez fosse mais fácil receber normas e aplicar”, reconhece. A responsável realça que há dimensões “incontornáveis”, como a “participação ativa e criativa de todos, de todo o povo de Deus, nomeadamente dos leigos, nos processos de tomada de decisão, no discernimento”. “No fundo, promovermos uma liderança partilhada entre clérigos e leigos”, acrescentando, antes de referir “a importância da oração e da espiritualidade” e “a formação de todos os agentes da pastoral”. Em Braga, indica Vânia Pereira, estão a ser implementadas “linhas de ação muito concretas para ajudar na concretização da sinodalidade”, que incluem assembleias sinodais com ritmo anual. |




Com um novo bispo, a Diocese da Guarda aponta a um “governo mais sinodal”, como refere o padre Jorge Castela.
“Há um desejo latente para que algo ocorra nesse sentido, que haja uma participação mais alargada das pessoas e que as pessoas sintam que fazem parte”, observa o sacerdote.
A programação do próximo ano pastoral prevê que se retomem grupos sinodais e se “alarguem o mais possível” a quem não fez parte da primeira auscultação, promovida a nível global, em 2021.
Fernanda Capitão, da Diocese de Aveiro, assinala que este é “um processo que tem de ser assimilado, acolhido, assimilado”.
“É importante quando se fala numa Igreja em saída que se escute o mundo, que se escuta a cultura, que se escuta o desporto, é importante esta abertura”, acrescenta, pedindo ainda uma “escuta ativa dos mais jovens”.
Ricardo Oliveira, membro da equipa sinodal da Diocese de Viana do Castelo, aponta a uma nova auscultação, “ainda este ano”, para “entender estas realidades de mudança” e promover o diálogo com as comunidades.
Ao fim de vários anos de trabalhos, o responsável considera que é tempo de “começar a pensar em concretizar” as mudanças que têm sido propostas.
O padre João Zuzarte, da Diocese de Viseu, aponta à necessidade de “fazer caminhos novos, de criar intuições novas e isso passa muito também por esta mudança de mentalidade, a mudança do estilo de ser Igreja”.
Segundo o sacerdote, a metodologia sinodal “já está a ser vivida e aplicada e proposta na maior parte dos grupos”.
As entrevistas vão integrar a próxima emissão do Programa ‘70×7’, este domingo, na RTP2 (17h30), dedicada ao processo sinodal nas dioceses e serviços nacionais da Igreja Católica em Portugal.
PR/OC
A XVI Assembleia Geral do Sínodo, cuja segunda sessão decorreu de 2 a 27 de outubro de 2024, teve como tema ‘Por uma Igreja sinodal: participação, comunhão, missão’; o processo começou com a auscultação de milhões de pessoas, pelas comunidades católicas, em 2021, e a primeira sessão sinodal decorreu em outubro de 2023.
Francisco promulgou o documento final e enviou-o às comunidades católicas, sem publicação de exortação pós-sinodal, uma possibilidade prevista na constituição apostólica ‘Episcopalis communio’ (2018), tendo ainda convocado uma inédita Assembleia Eclesial, para 2028. |