Coordenador da Comissão Sinodal da Diocese do Porto sublinha necessidade de «ouvir de novo as comunidades»
Porto, 02 abr 2023 (Ecclesia) – O padre Joaquim Santos, coordenador da Comissão Sinodal da Diocese do Porto, assume que a crise de abusos sexuais na Igreja provocou “sofrimento”, desejando que as comunidades católicas assumam a Páscoa como um tempo de mudança.
“Que todo este sofrimento que, como Igreja, temos vivido, não esconda a alegria da Páscoa”, apela o pároco do Santíssimo Sacramento, na cidade do Porto, em entrevista conjunta à Ecclesia e Renascença.
No início da Semana Santa, com o regresso de várias manifestações, após anos de restrições impostas pela pandemia de Covid-19, o sacerdote admite que algumas tradições, como as visitas pascais, o Compasso, tenham dificuldade em regressar.
“Sobretudo nos grandes centros, a começar pela disponibilidade de voluntários para o fazer. Tenho estado a trabalhar, no concreto da minha paróquia, nesse aspeto e não é fácil. Ao mesmo tempo, há aqui uma necessidade – não sei se é para fora -de algum ânimo, desta alegria pascal, não esconder a alegria da Páscoa”, aponta.
O padre Joaquim Santos sublinha a importância do processo sinodal lançado pelo Papa, também na resposta aos abusos sexuais de menores e à criação de uma cultura de proteção, assinalando que as comunidades “manifestaram consciência do problema”.
“Creio que é fundamental ouvir de novo as comunidades”, acrescenta, deixando votos de que se encontrem “caminhos, manuais de procedimento” comuns, “todos a uma só voz”, que sejam aplicados em cada realidade.
Isto é parte do processo sinodal, parte essencial: ouvir para depois podermos criar caminhos, uns mais visíveis, outros mais discretos; uns mais imediatos, outros a médio longo”.
O entrevistado admite que algumas pessoas se possam afastar da Igreja, por causa desta crise, mas assume uma atitude de “esperança”.
“Espero que, com algum prazo de trabalho, possamos vencer isso e sair melhor da crise, deste momento difícil”, aponta.
O coordenador da Comissão Sinodal da Diocese do Porto valoriza a “comunhão de todos, esta conjugação dos que vão mais lentos com aqueles que têm um passo mais rápido”.
“Há de haver aqui um trabalho de discernimento e esse é o trabalho do Sínodo, discernir juntos o caminho que é possível para todos”, acrescenta.
O sacerdote sublinha que o Sínodo, que decorre até 2024, pede “tempo”, pedindo que se rejeitam posições “extremadas”.
“A Igreja é esta casa de comunhão, de portas abertas”, sustenta.
A poucos dias d Quinta-feira Santa, dia da instituição do sacerdócio, o entrevistado recorda que “uma das notas fortes da resposta à consulta sinodal passava pela questão dos ministérios alargados”.
“Essas questões surgiram, mas surgiram sempre com alguma controvérsia, ou seja, mostrando que há caminho a fazer, temos de discutir mais sobre o assunto, conversar muito mais, informar-nos mais”, precisa.
O padre Joaquim Santos entende que as pessoas têm de “conhecer melhor” os membros do clero, de todos os pontos de vista, “do económico à oração”.
“É um esforço global de transparência, a palavra transparência tem de atravessar a Igreja toda, também nas questões do ministério ordenado”, aponta.
Henrique Cunha (Renascença) e Octávio Carmo (Ecclesia)