Igreja/Portugal: Presidente da CEP reforça compromisso na construção de «cultura nova» na proteção de menores

Congresso Internacional debate «prevenção e resposta» à violência sexual, com especialistas mundiais

Foto: Agência ECCLESIA/MC

Fátima, 27 nov 2025 (Ecclesia) – O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) disse hoje em Fátima que o trabalho de prevenção e proteção de menores e adultos vulneráveis é um “caminho a seguir” para a Igreja e para a sociedade, destacando a importância das compensações financeiras.

“Esta é uma forma de colaborar com a construção de uma cultura nova de sensibilidade, informação e prevenção, que torne a Igreja e a sociedade mais sensíveis a estes devastadores abusos e crie um ambiente de segurança para o futuro das pessoas e, particularmente, das nossas crianças”, referiu D. José Ornelas, na abertura do congresso internacional com o tema ‘Da Reflexão à Ação: O Papel da Igreja Católica na Prevenção e Resposta à Violência Sexual’.

A iniciativa é organizada pelo Grupo VITA, organismo para o acompanhamento de casos de abusos sexuais na Igreja Católica, e a CEP.

O bispo de Leiria-Fátima sublinhou que o processo atribuição de compensações financeiras em curso resulta de uma “decisão autónoma e personalizada” da Igreja Católica em Portugal, em favor das vítimas de abusos.

“Não é simplesmente uma decisão jurídica, porque, para tal, a maior parte destes fenómenos, ou quase a totalidade destes processos, teriam já prescrito”, observou, falando numa “decisão justa, que pode contribuir para o conhecimento destas pessoas e para a sua recuperação”.

O presidente da CEP sustentou que este gesto visa “reconhecer o mal” feito às vítimas e “apoiar a coragem” que tiveram em denunciar, para que se libertem do peso do passado.

Durante o ano de 2022, a CEP pediu um estudo sobre casos de abuso sexual na Igreja em Portugal nos últimos 70 anos a uma Comissão Independente, que validou 512 testemunhos relativos a situações de abuso, que seria apresentado em fevereiro de 2023.

A 22 de maio de 2023, a Conferência Episcopal Portuguesa criou o Grupo Vita para acolher denúncias de abuso, trabalhar na prevenção e acompanhar vítimas e agressores.

Recordando o percurso realizado nos últimos anos, D. José Ornelas admitiu que o processo contou com “momentos dramáticos” e representou um “despertar” para a Igreja e para o país, acrescentando que o foco esteve sempre nas “vítimas inocentes de tais injustiças”.

O presidente da CEP elogiou a “convergência de propósitos” e a articulação entre as diversas estruturas, desde as Comissões Diocesanas, a Coordenação Nacional e o Grupo VITA, bem como a colaboração com a Conferência dos Institutos Religiosos de Portugal (CIRP).

“Temos procurado trabalhar em comunhão e em articulação”, salientou, “não escondendo problemas nem dificuldades, mas encontrando caminhos de convergência”.

O responsável católico considerou que o trabalho desenvolvido pela Igreja representa um “contributo válido para que em Portugal se possa reconhecer a necessidade de trabalhar para que as crianças possam ter um futuro com esperança e com vida”, concluiu.

O encontro, que decorre ao longo de todo o dia no Centro Pastoral Paulo VI, tem como objetivo “consolidar práticas de prevenção e intervenção mais eficazes” e delinear o futuro do combate aos crimes sexuais em contexto eclesial, numa lógica de “trabalho em rede”.

A sessão de abertura conta com as intervenções de D. José Ornelas, da irmã Célia Cabecinhas, vogal da direção da Conferência dos Institutos Religiosos de Portugal (CIRP), e de Rute Agulhas, coordenadora do Grupo VITA.

“Caminhamos comprometidos e em comunhão, a uma só voz, com a Conferência Episcopal portuguesa, numa missão unificada e não de esforços paralelos, conscientes de que só juntos poderemos restaurar a confiança e construir comunidades verdadeiramente seguras e promotoras de mais vida”, disse a irmã Célia Cabecinhas.

Rute Agulhas, por sua vez, destacou a elevada adesão ao congresso como um “sinal poderoso” de mobilização coletiva e de interesse genuíno por uma causa que interpela a todos, refletindo uma “mudança de paradigma” na forma como a Igreja aborda a violência sexual.

A responsável sublinhou que esta missão, centrada nas vítimas e sobreviventes, não é apenas uma resposta ao passado, mas um compromisso firme para o futuro alicerçado em três pilares fundamentais: a reparação das feridas, o cuidado humanizado e a prevenção de novos abusos.

A psicóloga fez questão de agradecer aos órgãos de comunicação social, considerando a sua presença essencial para “ampliar a voz das vítimas” e transformar este compromisso da Igreja num sinal público de esperança e de responsabilidade partilhada.

Rute Agulhas anunciou também o lançamento do projeto “Igreja+Segura”, um novo sistema de auditoria e certificação para as instituições católicas, desenvolvido pelo Grupo VITA.

O programa da manhã inclui uma conferência do padre Hans Zollner, especialista em proteção de menores e docente na Universidade Gregoriana (Roma), sobre a proteção de vulneráveis como “parte integrante da missão da Igreja”.

Segue-se a intervenção da investigadora irlandesa Marie Keenan, professora da University College Dublin, sobre o tema “Refletindo sobre o processo da negação à responsabilização”.

Ainda antes do almoço, o congresso foca-se na realidade criminal portuguesa com a conferência de Carlos Farinha, antigo diretor nacional adjunto da Polícia Judiciária, sobre os crimes sexuais contra crianças e jovens na perspetiva da investigação policial.

Os trabalhos da tarde abrem com o painel “Saberes em Diálogo”, que cruza as perspetivas do jornalismo (Rodrigo Pinedo), da educação (Rodrigo Queiroz e Melo, do Projeto CUIDAR) e do escutismo (Ivo Faria, do Corpo Nacional de Escutas).

O encontro prossegue com um momento de “Síntese e Caminhos Futuros”, com a participação do Departamento Nacional da Pastoral Juvenil e da Equipa de Coordenação Nacional das Comissões Diocesanas, visando a articulação de esforços no terreno.

A parte final do congresso é dedicada a sete workshops simultâneos, que abordam temas práticos como programas de prevenção para crianças (incluindo o jogo digital ‘Lighthouse Game’), a intervenção psicológica com vítimas, a gestão de agressores e a implementação da justiça restaurativa.

OC

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