D. José Ornelas pede que se evitem «generalizações» sobre «revitimização»de quem sofreu abusos
Fátima, 13 nov 2025 (Ecclesia) – O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) disse hoje, em Fátima, que o pagamento de compensações a vítimas de abusos sexuais vai ser um esforço conjunto de dioceses e Institutos Consagrados, sem conhecer ainda os valores em causa.
“Todos participamos, isto está claro desde o início para a Conferência Episcopal Portuguesa e para cada bispo”, referiu D. José Ornelas, em conferência de imprensa, após a 212.ª Assembleia Plenária, que decorreu desde segunda-feira, em Fátima.
A CEP informou hoje ter recebido 89 pedidos de compensação financeira, tendo sido validados 78.
66 pareceres já se encontram em análise pela Comissão de Fixação da Compensação, uma segunda instância do processo, que vai propor um valor a pagar às vítimas de abusos sexuais.
D. José Ornelas adiantou que a CEP, as dioceses católicas e os Institutos de Vida Consagrada (IVC) irão contribuir para assegurar o montante de cada compensação, quando vier a ser conhecida.
A partir da soma final de todas as compensações, determinadas pela Comissão de Fixação, será criado um “fundo solidário” com 50% da responsabilidade dos montantes a cargo da CEP, através dos seus fundos habitualmente disponíveis, e os outros 50% com uma contribuição das dioceses portuguesas (aproximadamente 35%) e dos IVC (aproximadamente 15%).
O presidente da CEP afirmou que “não é possível discutir montantes precisos”, neste momento, dado que a Comissão de Fixação está a trabalhar, de forma “independente”, para chegar ao valor a atribuir em cada caso.
“Assumimo-lo como Igreja”, acrescentou.
Os contributos das dioceses e dos IVC excluem, no seu cálculo, o número de casos que possa ter acontecido em cada umas das instituições.
Quanto às dioceses, indicou D. José Ornelas, a sua parte no fundo vai ser calculado em função do “parâmetro de contribuição” com que anualmente ajudam a financiar a CEP, algo que “já está fixado”, em termos de percentagens, “segundo as capacidades não só de dimensão, mas também de contribuir”.

O pagamento em causa refere-se aos casos que “estão identificados” até hoje, admitindo-se que o prazo inicialmente previsto (até final de 2025) para a definição dos montantes possa ser ultrapassado em uma ou duas semanas.
“Há pessoas que já foram contactadas, há pessoas que têm dificuldade em responder, as equipas têm-se desdobrado”, observou o presidente da CEP, assumindo como objetivo “atender à realidade concreta das pessoas”.
“A comissão está a trabalhar para ter tudo pronto até ao fim do ano”, acrescentou, rejeitando que eventuais atrasos se devam a um desejo de “protelar” a resposta.
Questionados sobre relatos de “revitimização”, por parte de quem denunciou abusos, D. José Ornelas apontou que a preocupação em evitar “renovar as feridas” foi algo “tido em conta desde o início”.
O bispo de Leiria-Fátima admitiu que algumas pessoas tiveram de repetir o relato feito à Comissão Independente, que apresentou o seu estudo em fevereiro de 2023, com “outros objetivos e outra metodologia”.
“Fez-se tudo o possível para evita a repetição desses testemunhos”, insistiu, pedindo que se evitem “generalizações”.
O trabalho agora desenvolvido, indicou o presidente da CEP aos jornalistas, visa manifestar “empatia e solidariedade” às vítimas, tendo em conta “aquilo que sofrem e a coragem que tiveram”.
“Tratando-se da atribuição de uma compensação, tinham de ser de pessoas concretas e não só simplesmente anónimas”, insistiu.
OC
Igreja/Abusos: Bispos portugueses definem modelo de pagamento de compensações financeiras
