Igreja/Portugal: Presidente da ACEGE apela ao diálogo e recusa visão «antagónica» entre empresas e trabalhadores

Patrícia de Melo e Liz destaca necessidade de equilibrar a competitividade económica com a dignificação humana

Foto Agência ECCLESIA/TAM

Lisboa, 23 nov 2025 (Ecclesia) – A presidente da Associação Cristã de Empresários e Gestores (ACEGE) defendeu a necessidade de “abertura de espírito” nas negociações laborais, recusando a ideia de conflito permanente entre patrões e empregados.

“É este o apelo que faço, que haja diálogo, que haja abertura de espírito, que haja um sentido de evolução”, afirmou Patrícia de Melo e Liz, convidada da entrevista semanal conjunta Ecclesia/Renascença, emitida este domingo.

Tendo como pano de fundo a greve geral de 11 de dezembro, a responsável apelou ao entendimento para evitar a paralisação, sustentando que “a atitude do colaborador tem que ser também no sentido de levar prosperidade às empresas e ao país”.

A presidente da ACEGE referiu que o foco não deve estar apenas nos direitos individuais, mas no dever conjunto de fazer o país prosperar.

“Temos de deixar um pouco esta ideia (…) de que a empresa e empregado e colaborador é uma situação antagónica”, disse Patrícia de Melo e Liz, alertando que “não é assim que se gera competitividade nas empresas nem no país”.

A entrevistada defendeu a necessidade de equilibrar a competitividade económica com a dignificação humana, sublinhando que o aumento da produtividade não pode ser alcançado através da exploração laboral.

A presidente da ACEGE reconhece que Portugal “continua e persiste” num cenário de salários baixos face aos parâmetros europeus e defende que o setor empresarial tem de dar o passo de melhorar as remunerações.

“A produtividade das empresas não se faz com uma exploração dos colaboradores”, declarou a responsável, insistindo que o lucro deve ser acompanhado pela prosperidade de quem trabalha, permitindo a evolução na carreira e condições para constituir família.

Patrícia de Melo e Liz explica que é necessário criar um “ciclo virtuoso”, onde a produtividade gera competitividade e resultados, permitindo depois pagar melhores salários.

Sobre as alterações à legislação laboral em discussão, a gestora rejeita a ideia que este seja uma proposta “totalmente desequilibrada”, vendo nela medidas necessárias para a competitividade do país no contexto europeu, embora admita que possa carecer de “alguns ajustes”.

Confrontada com as recentes mensagens dos Papas e do pensamento social da Igreja sobre uma “economia que mata”, a responsável fala num apelo à humanização.

“As empresas não são dos sócios, as empresas são de todas as pessoas que lá trabalham”, afirmou, destacando a necessidade de distribuir melhor a riqueza gerada e evitar desequilíbrios excessivos.

A entrevista abordou ainda a temática da imigração, com a presidente da ACEGE a concordar com a necessidade de regulação para travar situações de “desnorte” e garantir que quem chega a Portugal vive de “forma digna”.

Relativamente ao equilíbrio entre vida pessoal e profissional, a responsável nota uma evolução positiva, referindo que o programa de empresas familiarmente responsáveis da ACEGE tem tido forte adesão para certificar boas práticas de horários e saúde mental.

Quanto ao futuro e à Inteligência Artificial, Patrícia de Melo e Liz manifesta otimismo, acreditando que a tecnologia servirá para “facilitar o trabalho” e que, com ética e regulação, o ser humano continuará a ser imprescindível, adaptando-se aos novos tempos.

Henrique Cunha (Renascença) e Octávio Carmo (ECCLESIA)

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