Hélder Afonso, diretor da Obra Nacional, alerta para criação de «bodes expiatórios» para problemas sociais
Vila Real, 17 out 2025 (Ecclesia) – O diretor da Obra Nacional da Pastoral dos Ciganos (ONPC) destacou a importância do encontro jubilar que o Vaticano vai promover para estas comunidades, no sábado, no combate ao “discurso de ódio e de divisão”.
“Quando forças políticas tentam encontrar bodes expiatórios, dizendo que tudo o que existe de mal na sociedade é culpa dos ciganos, nós temos de fazer o contraciclo”, afirmou Hélder Afonso, em entrevista à Agência ECCLESIA, para quem existe uma “opinião pública desfocada e irreal”.
O Jubileu dos Ciganos e Povos Itinerantes, a 18 de outubro, tem como tema ‘A esperança é itinerante, meu pai e minha mãe eram arameus errantes’.
A presença portuguesa acontece em coordenação com o Comité Católico Internacional para os Ciganos (CCIT) e a convite do Dicastério para o Desenvolvimento Humano (Santa Sé).
“Quero estar no Jubileu em Roma para também, junto do Santo Padre, dizer-lhe que a Igreja em Portugal está a caminhar e queremos caminhar juntos nesta sinodalidade”, indicou o diretor da ONPC, falando num “momento de esperança e comunhão”.
“Estamos agora no Jubileu da esperança, este caminhar juntos é muito importante”, acrescenta Hélder Afonso.

O entrevistado, que exerce uma dupla missão “muito nobre”, como autarca e como responsável pastoral, sublinhou que a função civil reforça a proximidade à comunidade cigana:
“Estar no terreno com projetos e ações concretas facilita muito o nosso trabalho”, assinala, identificando como principais eixos de atuação “a educação, a saúde, o emprego e a habitação”.
A integração passa também por uma ação articulada entre Igreja, poder local e instituições civis.
“É fundamental que esta parceria seja tripartida, a parte civil, política e a parte da Igreja”, disse, destacando o trabalho do pároco local: “Há aqui um caminho juntos para que também eles procurem a Igreja e a Igreja os possa integrar na comunidade”.
No plano nacional, Hélder Afonso propôs-se visitar todas as dioceses para sensibilizar os bispos à criação de estruturas dedicadas à Pastoral dos Ciganos.
“Às vezes as dioceses não estão organizadas para ir ao encontro destas comunidades. A Pastoral dos Ciganos não deve estar apenas ligada à Cáritas ou às Migrações, são realidades diferentes”, justificou.
Em parceria com a Fundação para a Ciência e a Tecnologia, a ONPC participa num estudo sobre a realidade cigana em Portugal, coordenado pela Universidade do Porto.
“Queremos fazer um inquérito real e objetivo para saber quantos são, como vivem, qual a escolaridade e as condições de habitação”, indicou o responsável, sublinhando que o estudo “vai permitir atuar em conformidade e propor soluções às dioceses e à Conferência Episcopal”.
O Vaticano anunciou hoje que o evento jubilar vai reunir cerca de 4 mil peregrinos, provenientes de mais de 70 países.
O programa começa pelas 10h00 (menos uma em Lisboa), no Auditório Paulo VI, com um encontro que inclui testemunhos, representações artísticas, música e momentos de oração, antes da chegada do Papa Leão XIV.
De tarde, os participantes vão fazer a tradicional peregrinação à Porta Santa da Basílica de São Pedro, no contexto do Jubileu.
No domingo, os peregrinos são convidados a participar na Missa no Santuário do Divino Amor, em Roma.
HM/OC