Igreja/Portugal: País tem de perceber «verdadeiro custo da pobreza», diz responsável do Observatório da Cáritas

Estudo atualiza dados sobre exclusão social no país, alertando para situações que fogem à estatística oficial

Foto: Cáritas Portuguesa

Lisboa, 18 mar 2025 (Ecclesia) – O coordenador do estudo ‘Pobreza e exclusão social em Portugal: uma visão da Cáritas’, apresentado hoje em Lisboa, disse que o país tem de perceber o “verdadeiro custo” da exclusão social, apelando a maior investimento no combate às desigualdades.

“Um trabalho que ainda está por fazer em Portugal é perceber o verdadeiro custo da pobreza para a vida em sociedade”, referiu Nuno Alves, do Observatório da Cáritas, na apresentação do documento.

O estudo alerta para o aumento da privação habitacional e do número de pessoas em situação de sem-abrigo, para o crescimento de pedidos de ajuda por parte de imigrantes e para a falta de progressos no combate à pobreza e exclusão.

Este documento foi apresentado esta manhã, no âmbito da Semana Nacional da Cáritas, durante o evento “Retrato da Pobreza em Portugal e na Europa: da Realidade à Esperança”.

O coordenador sublinhou que “há uma série de dimensões” em que a privação e a pobreza têm impacto.

“Nomeadamente quando somos crianças, isso tem influência em todo o ciclo de vida. Quebrar o ciclo de pobreza é verdadeiramente um dos melhores investimentos”, sustentou Nuno Alves.

O documento sublinha que Portugal é caraterizado por uma “pobreza muito persistente, estruturalmente persistente”.

“A atualização deste quadro sobre o número de pessoas que vivem em privação material e em pobreza mais extrema, continuará a revelar números igualmente chocantes nos próximos anos”, apontou o coordenador do estudo.

Para o responsável do Observatório da Cáritas, há um “indicador particularmente chocante”, com retrocessos nos últimos anos, que respeita ao “número de pessoas que não têm uma alimentação adequada”,

Num país com 20% da população em risco de pobreza ou exclusão social, a “luta contra a pobreza, nos tempos mais recentes, desacelerou”.

“Com os objetivos que estão inscritos oficialmente na estratégia na Estratégia Nacional de Combate à Pobreza 2021-2030, concluímos imediatamente que em vários destes indicadores, ao ritmo atual, não vamos chegar lá”, advertiu o coordenador do estudo da Cáritas.

“O investimento que está a ser feito por todos nós, enquanto a sociedade, é manifestamente insuficiente”, insistiu.

A intervenção aludiu à “desigualdade na distribuição de rendimentos”, em Portugal, e identificou as mulheres, idosos, desempregados, famílias monoparentais e pessoas com menor escolaridade como populações com “maior risco de privação severa”.

Outro tema abordado foram as questões de habitação, cuja privação “tem aumentado em Portugal de forma dramática, nos últimos anos”.

Nuno Alves sublinhou aos participantes no encontro que a cidadania estrangeira está, habitualmente, ligada a “uma maior prevalência de pobreza ou privação”.

“Em Portugal as estatísticas oficiais, de forma um pouco surpreendente e excecional não captam esta maior prevalência de privação nos estrangeiros”, assinalou.

A questão, precisou, pode estar ligada a critérios estatísticos, que se baseiam no conceito de “residência estável”, que deixa de fora várias pessoas.

“Os imigrantes estão a recorrer à Caritas, em cada vez maior número. As situações de fragilidade existem”, prosseguiu.

A Cáritas celebra, entre os dias 16 e 23 de março, a sua Semana Nacional, com diversas iniciativas, entre elas o Peditório Nacional, que leva milhares de voluntários às ruas e que também vai ser realizado online

Anualmente, a Cáritas presta apoio a cerca de 120 mil pessoas, através das Cáritas Diocesanas e dos grupos paroquiais que fazem parte da rede nacional

LS/OC

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