Sacerdote da diocese de Bragança-Miranda tem no seu percurso o acompanhamento aos trabalhadores da barragem de Picote e o apoio a crianças e jovens da Casa do Gaiato de Malanje, em Angola

Lisboa, 25 nov 2025 (Ecclesia) – O padre Telmo Ferraz, da diocese de Bragança-Miranda, celebra hoje 100 anos, de uma vida marcada pelo apoio aos jovens da Casa do Gaiato e aos trabalhadores da barragem de Picote, em Miranda do Douro.
Numa entrevista à Agência ECCLESIA, emitida no início de 2024, 0 sacerdote recordava a sua infância “natural, simples, numa vida pacata e muito caseira na aldeia de Bruçó, no Mogadouro, na região de Trás-os-Montes.
“Foi uma coisa simples, era como as outras crianças, não foi nada de extraordinário. Era a vida da aldeia, a vida da aldeia não tinha muitas brincadeiras, brincávamos uns com os outros, mas era uma vida assim muito pacata, muito caseira, muito da aldeia”, recorda.
O seu pai “tinha uma oficina de calçado” e uma “certa influência na aldeia”; a sua mãe, “uma santa mulher”, juntamente com duas irmãs, formavam uma família respeitada na aldeia.
Com “cinco, seus, sete anos”, o padre Telmo Ferraz contava que queria ser sacerdote, tendo entrado no Seminário de Vinhais com 12 anos.
“Nem eu tinha bem a noção do que era a vocação ainda sacerdotal, não é? Eu fui indo, fui indo, fiz o curso. Quando depois comecei a paroquiar, é que comecei a tomar mais noção do que é a vocação sacerdotal. Mas fui feliz, fui feliz”, recorda.
Ordenado sacerdote em Bragança, em 1951, foi pároco nas aldeias de Genísio e Vilar Seco e depois capelão da barragem de Picote, onde desenvolveu uma “pastoral e humanitária junto dos operários”, que continuou, a partir de 1960, na barragem de Cambambe, em Angola.
Na barragem de Picote começou a acompanhar os trabalhadores mas, assume, dava-se bem com empregados e patrões.
“Começou a haver uma amizade entre mim e eles. No fundo era quase como um ombro amigo. Era um amigo. Ajudava-os. Mas dava-me bem com todos, trabalhadores e patrões”, conta.
Em 1963, funda a Casa do Gaiato de Malanje (Angola), e dedicou-se depois à formação de jovens em risco.
“Quando a obra de rua resolveu ir para a África, foi um sacerdote para Benguela e fui eu para Malanje. E construímos lá a primeira aldeia dos rapazes. Quando cheguei a Luanda, comprei os livros todos em Kimbundu, para estudar. Chego à barragem, todo mundo falava português. Estava nas suas sete quintas”, explica.
“Quando via um rapaz que saía da casa do Gaiato e que se tornava uma pessoa que conseguia vingar na vida ficava satisfeito”, recorda.
Com 100 anos de vida, o padre Telmo Ferraz permanece ligado à Casa do Gaiato e reside no Calvário de Beire, local onde vai ser apresentado, no dia 29, o seu mais recente livro, ‘Fui Pároco de Aldeia’, com ilustrações de Ana Cardoso e retratos de M. L. Chichorro Rodrigues.
LFS/LS
