Sacerdote católico João Gonçalves inspirou documentário
Aveiro, 20 fev 2015 (Ecclesia) – O coordenador nacional da Pastoral Penitenciária, que inspirou o documentário ‘O padre das prisões’, defende que a Igreja Católica ajuda a “criar esperança” nas cadeias, contrariando a lógica de “vingança” contra os reclusos.
“As prisões não estão a cumprir o seu primeiro desejo que é reabilitar as pessoas: sabe-se que mais de 50% dos presos são reincidentes. O sistema não funcionou para que se reintegrassem na sociedade, como não funcionou para que respeitassem as normativas”, refere o padre João Gonçalves, em declarações à Agência ECCLESIA.
Segundo o sacerdote católico, de 70 anos, a sociedade em geral ainda tem um conceito de “justiça muito reivindicativa, de vingança e não de reabilitação” sobre a pessoa reclusa, sem “oportunidade de defesa.”
“Contrapomos com uma justiça restaurativa para que o preso possa recuperar, sentir que pode vir para a sociedade com otimismo e esperança”, assinala, alertando para o desejo de “pena de morte, prisão perpétua e desterro” que existe nalguns grupos.
O documentário «O padre das prisões», das irmãs Inês e Daniela Leitão, respetivamente argumentista e realizadora, está disponível hoje – Dia Internacional da Justiça Social – durante 24 horas, na internet, e vai ser apresentado publicamente este sábado às 16h00, no edifício da antiga Capitania de Aveiro.
“Há imensas pessoas a falar de prisões, presos, milhares de milhares. Há um grande resultado de pôr muitíssima gente a falar de prisões”, salienta o padre João Gonçalves.
Segundo este responsável, a presença dos capelães “é querida, desejada e muito estimada seja pela direção das cadeias, pelos guardas prisionais, outros educadores e sobretudo pelos presos”.
“No fundo vamos semear o bem, a paz, falamos de amor, de perdão, de pacificação, das normas e ajuda que a cadeia tenha um ambiente melhor”, relata.
O sacerdote admite que precisaria de “mais tempo” para o atendimento individual, que é mais concorrido do que as celebrações.
“A minha função ouvir, compreender e dar palavras de otimismo e dar esperança. Quanto mais tempo temos, melhor realizamos a tarefa de escuta e respeito individual por cada recluso com momentos de silêncio, dor, sofrimento, mas também de recuperação, de mostrar que a pessoa é amada por Deus, que Jesus Cristo está presente”, desenvolveu.
Neste contexto, o padre João Gonçalves revela que não se recorda de ter sentido necessidade de perguntar o motivo da reclusão, dado que isso é “bastante secundário”.
“Não funciona como curiosidade, apenas interessa que é alguém que sofre. Um preso tem a figura do próprio Jesus Cristo que também é mestre, com quem vou aprender alguma coisa”, destaca o entrevistado.
O sacerdote da Diocese de Aveiro presta serviço de assistência e formação espiritual e humana nas prisões há mais de 40 anos e alerta para o número de reclusos que aumentou para 14 mil pessoas, o que revela uma falha da sociedade e das “instâncias governamentais”.
Segundo o coordenador nacional da Pastoral Penitenciária, a sociedade “não acolheu corretamente” quem cometeu um crime e exemplifica com países no norte da Europa que estão a “fechar cadeias”, porque evitam a reincidência através do acompanhamento.
“Há um trabalho muito grande e urgente a fazer. As cadeias estão apenas a cumprir uma dimensão que é o castigo, um puxar de orelhas”, sustenta.
CB/OC