Igreja/Portugal: Novo Ministério da Juventude é «sinal importante» – diretor do Departamento Nacional da Pastoral Juvenil

«Os jovens devem, cada vez mais, assumir o seu papel na política», diz Nuno Camelo

Foto: DAPJovens Braga

Lisboa, 01 abr 2024 (Ecclesia) – O diretor do Departamento Nacional da Pastoral Juvenil (DNPJ), da Igreja Católica, considerou de “grande significado” a inclusão de um Ministério da Juventude no novo Governo de Portugal, que toma posse esta terça-feira.

“É um sinal importante porque é o reconhecimento que a juventude, que é o futuro hoje, já, é a construção de um futuro que acontece neste tempo de vida dos jovens, está a ser tida aqui em conta e isto pode ser um sinal de que em conjunto com as juventudes deste país se possa ir ao encontro de soluções que passarão, obviamente, pela questão de educação, pela questão do trabalho e pela questão, por exemplo, também da habitação”, disse Nuno Camelo à Agência ECCLESIA.

Para este responsável, “estabelecer uma vida hoje” é cada vez mais difícil e os jovens, tendencialmente, levam mais tempo “a iniciar essa vida porque as condições nunca são ideais”, por isso, o Ministério da Juventude e Modernização, tem de ter em conta essas preocupações “muito próximas daquilo que são as angústias e os projetos dos jovens”, e uma ministra que é uma jovem, “com 34 anos”, “deverá ter isso presente”.

Após as eleições de 10 de março, o XXIV Governo Constitucional – o primeiro-ministro e seus ministros -, vai tomar posse esta terça-feira, no Palácio Nacional da Ajuda.

A estrutura governativa inclui o Ministério da Juventude e Modernização, que vai ter como ministra Margarida Balseiro Lopes, líder da Juventude Social Democrata, entre 2018 e 2022.

“Independentemente daquilo que possa acontecer neste Governo e do tempo que possa estar em funções, porque a situação política é conturbada, mas também por isso, acho que este é um sinal interessante, pelo menos, de que o novo Governo e o novo primeiro-ministro estão preocupados em alcançar os jovens”, referiu Nuno Camelo, considerando que “tem um grande significado” um ministério para a juventude que integra “a vertente da modernização”.

O diretor do departamento dedicado aos jovens na Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) observa que os jovens, que “têm estado arredados da política” mas parecem ter “despertado um bocadinho para o sentido de voto”, para fazer valer “os seus direitos, as suas aspirações, as dificuldades reais do quotidiano”, e parece que, “aparentemente, até aqui, os ciclos políticos de governação não têm conseguido dar resposta”, o que fez com que os jovens “também se fossem desmotivando, ao longo do tempo, com a política e com a sua intervenção política e na construção da cidade, na construção do país”.

Os jovens estão a retomar, parece, esta vontade de ter uma voz ativa na política e acho que este governo também pode contribuir para isso. Aliás, acho que todos os partidos deviam contribuir para isso, ir ao encontro dos jovens porque efetivamente este descrédito na política e este desinteresse leva a que os assuntos dos jovens não tenham sido valorizados até agora, e não tenham sido ouvidos, ou não tenham sido resolvidos”.

Foto Agência ECCLESIA/PR

Em relação ao papel que os jovens devem ter nas respostas políticas para Portugal, o entrevistado considera que “devem, cada vez mais, assumir o seu papel na política e na constituição da política”, por isso, a criação do Ministério da Juventude e Modernização “pode ser um bom motor para que isso possa acontecer”.

Sobre prioridades e áreas essenciais para os primeiros meses de governação, Nuno Camelo sublinha este ministério tem que “procurar ir ao encontro dos desafios que os jovens têm hoje”, nomeadamente, nas já referidas áreas da educação, da habitação, do trabalho, mas também “a questão da mobilidade”, e tem que ajudar os jovens a criarem condições para “se estabelecerem na vida, em iniciar a sua vida”, não podendo ficar “indiferente a isso, se não perde a sua razão de existência”.

“Isto é um bocadinho como a história de ‘vamos chamar os jovens para a Igreja’: não é preciso chamar os jovens para a Igreja, eles já estão na Igreja, eles são a Igreja, e os jovens também são a política, são o seu país e são o seu futuro, são o agora”, explicou, considerando que são um bocadinho parecidas as duas linhas, “a política e a fé”.

Para o diretor do Departamento Nacional da Pastoral Juvenil, a Igreja “também pode dar o impulso” e salienta que tem “apostado muito em ouvir os jovens, dar o seu papel principal nesta questão da construção do hoje e do amanhã”.

Segundo Nuno Camelo, a vivência da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) em Portugal, a edição internacional que se realizou em Lisboa, de 1 a 6 de agosto de 2023, também trouxe para a senda política, para a senda do dia-a-dia das cidades, das regiões e das dioceses, “um grande movimento juvenil, uma grande afirmação dos jovens”,

Isto também pode ter sido motor para responsabilizar mais os nossos políticos e sensibilizá-los mais para o facto de que os jovens estão aí, fazem barulho, têm inspirações e sonhos e têm muitas dificuldades. E também se provou com a Jornada, por exemplo, que eles conseguem construir o amanhã agora, com as suas próprias mãos, fazendo diferença, muitos deles, a esmagadora maioria, com um serviço de voluntariado. E eu acho que isso mostra também uma capacidade grande que os jovens têm de se renovarem, de se modernizarem também, e de construírem com aquilo que têm à mão”.

Para este responsável, o Ministério da Juventude e Modernização tem de procurar “cruzar a sua atividade política e o seu planeamento” com estas manifestações das juventudes que existem pelo país, onde a juventude da Igreja “não pode deixar” de estar presente.

O diretor do DNPJ partilhou a “esperança” de que alguns dos projetos que têm neste ciclo pastoral 2023-2026, e que lançaram como “apostas”, possam também vir a ser, eventualmente, trabalhados com este Ministério, “ou pelo menos ajudar a criar foco nestas áreas”, como os jovens deslocados para estudo ou trabalho, “como a rede interna de procura de primeiro emprego”, o envolvimento dos jovens que acolhem outros jovens, “as famílias de acolhimento que acolhem os jovens deslocados”.

O ‘Fátima Jovem’ 2024, a peregrinação nacional de jovens ao santuário mariano da Cova da Iria, é a próxima iniciativa do DNPJ, nos dias 4 e 5 de maio.

CB/OC

 

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Agência ECCLESIA

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