Igreja/Portugal: Novo livro mostra figura da Irmã Lúcia, «para lá da vidente», a partir do seu diário

Irmã Ângela Coelho, coautora da obra «Viver na Luz de Deus: Itinerário espiritual de Lúcia de Jesus», fala em «história de amor» que marcou a vida da religiosa

Foto: Agên cia ECCLESIA

Lisboa, 02 ago 2025 (Ecclesia) – A irmã Ângela Coelho, coautora do livro ‘Viver na Luz de Deus: Itinerário espiritual de Lúcia de Jesus’, com passagens inéditas, disse que a obra aborda a figura da religiosa “para lá da vidente”.

“O objetivo do livro foi dar a conhecer a figura desta mulher para lá da vidente. Além da menina que tem uma experiência especial de Deus na sua infância, há uma história de amor entre Deus e a Lúcia, e no fundo é essa história de amor que se desenvolveu, que se desenrolou, que se viveu ao longo de 97 anos”, refere à Agência ECCLESIA a vice-postuladora da causa de canonização da Irmã Lúcia.

Para a entrevistada, é importante perceber que “Lúcia é uma mulher, individual, única”.

“Claro que teve uma missão que, imediatamente, a coloca numa dimensão mundial, é uma figura com dimensão universal, mas por vezes esquecemo-nos que foi uma mulher, criada por Deus, amada por Deus”, indica a irmã Ângela Coelho.

A provincial da Aliança de Santa Maria, congregação inspirada na espiritualidade do Imaculado Coração de Maria e na Mensagem de Fátima, apresenta Lúcia como uma pessoa que “vai entrar em diálogo com Deus toda a sua vida, um Deus que respeita a sua liberdade”.

“É uma mulher que, neste diálogo com Deus, implica todo o seu ser, o seu coração, a sua alma, o seu corpo, o seu afeto, as suas vivências, por isso eu penso que este livro é sobre a história de amor entre Deus e a Lúcia”, acrescenta.

Para a coautora, o livro ‘Viver na Luz de Deus’, escrito com o carmelita francês François-Marie Léthel, especialista na teologia da santidade, permite apresentar “de uma forma sistemática” o itinerário interior de Lúcia de Jesus, com passagens do seu diário que eram, até agora, desconhecidas do público.

“A maior parte do seu diário não é ainda conhecido, na totalidade, porque é um escrito que está na ‘positio’, na Santa Sé, no Dicastério para as Causas dos Santos, e durante os próximos anos não vai ser possível publicá-lo na íntegra, não antes da sua canonização. É-nos dada já autorização para publicar excertos que facilitem o conhecimento e o acesso à vida interior desta mulher”, explica a responsável.

A vice-postuladora da causa de canonização fala de uma vida “perfeitamente normal”, apesar da experiência na infância da vidente, que a colocou na “atmosfera do sobrenatural”.

O diário, intitulado ‘O Meu Caminho’, foi escrito por ordem episcopal, na década de 40 do século XX, tendo entradas até 2004, um ano antes da morte da religiosa no Carmelo Santa Teresa, Coimbra.

“Ela está escondida, entre aspas, num Carmelo, típico da espiritualidade carmelita, de vida de clausura, mas tem uma atividade intensíssima”, observa a irmã Ângela Coelho, a respeito destes escritos, com reflexões sobre “os elementos mais importantes da Mensagem de Fátima”.

“Ela está muito atenta aos acontecimentos que lhe chegam através dos jornais, sobretudo, ou de encontros e conversas, para fazer a leitura da história a partir desta experiência de Fátima, que é, no fundo, algo que molda a sua vida”, prossegue.

A nova obra, lançada pelas Edições Carmelo, vai estar no centro de um ciclo de conversas, ao longo dos cinco domingos de agosto, no Programa ECCLESIA na Antena 1 da rádio pública (06h00).

OC

 

A venerável Lúcia de Jesus e do Coração Imaculado (Lúcia dos Santos) nasceu a 28 de março de 1907 em Aljustrel (Fátima, Portugal).

Em 1915, enquanto levava o rebanho da família a pastar, recebeu três vezes a aparição silenciosa do Anjo da Paz, visão que se repetiu em 1916, quando se encontrava na companhia dos seus primos, os Santos Francisco e Jacinta Marto.

Em 1917, nos dias 13 de maio, junho, julho, setembro e outubro (em agosto, no dia 19), a Virgem Maria apareceu aos três pastorinhos, na Cova da Iria.

O decreto da Santa Sé, quem em 2023 reconheceu as virtudes heroicas da Irmã Lúcia – uma etapa decisiva para a beatificação, que depende agora do reconhecimento de um milagre atribuído à sua intercessão – refere que, durante toda a sua vida, a vidente “viveu com empenho a mensagem da Mãe de Deus”.

“Após a morte prematura dos seus dois primos, permanece em Fátima até 1921, altura em que, por intervenção de D. José Alves Correia, que se encarregou de a proteger, Lúcia ingressa no Colégio das Irmãs Doroteias de Vilar (Porto). Aqui adota o nome de Maria das Dores com o intuito de não revelar a sua verdadeira identidade”, refere o texto.

A 24 de outubro de 1925 entrou como postulante no mesmo Instituto religioso, em Tui, Espanha, fazendo a profissão temporária a 3 de outubro de 1928 e a profissão perpétua a 3 de outubro de 1934.

No período de 1935 a 1941, por ordem de D. José Alves Correia da Silva, bispo de Leiria, escreve quatro documentos, intitulados “Memórias”, onde descreve os factos das Aparições, vividas e recebidas na companhia de Francisco e Jacinta.

A 3 de janeiro de 1944, redige outro documento, contendo o chamado “terceiro segredo” e, em envelope fechado, entrega-o a D. José Alves Correia da Silva, que, por sua vez, sem o ler, o remete ao Santo Ofício, em Roma.

Em 1946 regressa a Portugal, à comunidade doroteia do Colégio do Sardão, em Vila Nova de Gaia.

“Desejosa de viver mais intensamente a sua vocação, em 1948, decidiu entrar no Carmelo de Coimbra, onde emitiu os votos solenes a 31 de maio de 1949. Aqui viveu a sua vida segundo os ritmos monásticos de oração e trabalho, desenvolvendo também uma intensa atividade epistolar, na qual dava sábios conselhos espirituais e promovia obras de caridade”, refere o Vaticano.

A 13 de maio de 1967, deslocou-se a Fátima para se encontrar com São Paulo VI, tendo feito o mesmo em 13 de maio de 1982, 13 de maio de 1991 e 13 de maio de 2000 para se encontrar com São João Paulo II.

Faleceu a 13 de fevereiro de 2005, no Mosteiro de Santa Teresa, em Coimbra; em 2006, os seus restos mortais foram trasladados para a Basílica de Nossa Senhora do Rosário, em Fátima.

“O silêncio e a discrição caracterizam as suas experiências de vida religiosa. Era generosa para com os necessitados, para os quais fazia obras de caridade através de pessoas a quem as confiava, de tempos a tempos. A riqueza do seu perfil espiritual está intimamente ligada ao acontecimento e à Mensagem das Aparições, para a qual manteve sempre o desejo de cumprir a missão de a guardar e difundir”, assinala o decreto da Congregação para as Causas dos Santos.

O reconhecimento das virtudes heroicas, em 2023, é uma fase do processo que leva à proclamação de um fiel católico como beato, penúltima etapa para a declaração da santidade; para a beatificação, é agora necessária a aprovação de um milagre atribuído à intercessão da religiosa carmelita.

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