«Estamos muito habituados a lutar, defender, e até a propor alternativas» – Padre Miguel Ângelo da Costa
Braga, 19 abr 2024 (Ecclesia) – O novo diretor nacional da Pastoral da Saúde lamenta que a cultura europeia se deixe “ir na onda”, para apresentar como um direito “algo que é contra a vida”.
“O dom da vida não é um direito, a vida assim o professamos e acreditamos é um dom de Deus. Visto desta perspetiva, claro que não é um direito da mãe, que respeitamos, e temos de respeitar em questões de saúde, da proteção da vida da mãe, mas não é por causa de condições sociais ou económicas que vamos tirar esse dom a alguém, porque não é um direito da mãe, nem do próprio, é dom de Deus, e essa perspetiva que podemos partilhar”, disse o padre Miguel Ângelo da Costa, da Arquidiocese de Braga, em entrevista à Agência ECCLESIA.
Os eurodeputados querem que seja alterado o Artigo 3.º da Carta dos Direitos Fundamentais do bloco comunitário para incluir que “todas as pessoas têm o direito à autonomia sobre o corpo, o acesso gratuito, informado, pleno e universal à saúde e aos direitos sexuais e reprodutivos, e a todos os serviços de saúde conexos, sem discriminação, incluindo no acesso ao aborto seguro e legal”.
A proposta de resolução (2024/2655 RSP), que visa a “inclusão do direito ao aborto na Carta dos Direitos Fundamentais da UE”, foi votada no dia 11 de abril, em Bruxelas, pelo Parlamento Europeu, tendo sido aprovada com 336 votos a favor, 163 contra e 39 abstenções; uma resolução que tinha sido apresentada a 7 de julho de 2022, suscitando a oposição de alguns Estados-Membros.
“Claro que discordamos, claro que vamos ter que refletir esses assuntos, que são quentes, mas vemos esta cultura europeia, eu não diria extinguir-se, mas ir na onda e colocar nos direitos como um direito poder fazer algo que é contra a vida”, lamentou o padre Miguel Ângelo da Costa, que também foi nomeado coordenador das Capelanias Hospitalares, pelos bispos portugueses.
O novo diretor nacional da Pastoral da Saúde, da Conferência Episcopal Portuguesas, lembrou que, como Igreja, já estão “muito habituados a lutar e defender”, e a propor alternativas, “como apoios”, a realizar reflexões.
“Não é por questões de falta de recursos económicos, por exemplo, que muitas vezes é, não sei noutros lados do país, mas ‘o meu apartamento é pequeno não posso’, e tomam-se opções que nem os próprios concordam, e muitas vezes, muitas vezes, depois se arrependem, porque não faz parte das suas convicções”, acrescentou o capelão do Hospital de Braga, que também é pároco e tem “25 mil pessoas” nessas comunidades.
O entrevistado lembrou também o trabalho realizado “em conjunto com outros, outras religiões, grupos inter-religiosos” que também estão a “tentar defender os verdadeiros valores”, e querem continuar a “querer estar com eles para, todos juntos, fazer um caminho”.
O sacerdote da arquidiocese minhota, que está a iniciar funções nacionais, observou que “há vários temas que se vão discutir”, e pretende desenvolver um trabalho “mais sinodal, poder reavivar as equipas”, e as pessoas que estão a trabalhar nas coordenações diocesanas, para refletirem, como têm feito em Braga, e exemplificou com a reflexão “sobre toda a questão LGBT”, que realizaram este ano, para “poder estar com aqueles que muitas vezes, para não dizer quase sempre, são excluídos pela Igreja”.
O padre Miguel Ângelo Oliveira da Costa foi nomeado coordenador das Capelanias Hospitalares e diretor nacional da Pastoral da Saúde, pelos bispos portugueses, na 209.ª Assembleia Plenária da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), realizada de 8 a 11 de abril, em Fátima.
A nomeação foi recebida com “muita serenidade” e já estão a trabalhar juntos, “uma forma de dar continuidade a muitos trabalhos”, o sacerdote já está nestas áreas há vários anos, e, sobre o “desafio maior” da direção da Nacional da Pastoral da Saúde realça que saem “das paredes do hospital ou dos hospitais para poder chegar à Igreja toda, sobretudo ao sofrimento e da doença”. Ordenado presbítero em 15 de novembro de 1998, o padre Miguel Ângelo da Costa tem uma especialidade de Psicologia da Saúde, é capelão do Hospital de Braga, desde 1 de agosto de 2007, e coordenador arquidiocesano das Capelanias Hospitalares de Braga, desde 8 de agosto de 2022. |
O sacerdote vai substituir o padre Fernando Sampaio, que deixa “um grande testamento” nas Capelanias Hospitalares, e o padre José Manuel Pereira de Almeida, na Pastoral da Saúde.
“Tive a honra de começar estes campos não só com o padre Fernando, mas com o nosso querido padre Vítor Feytor Pinto, que nos marcou muito, toda a pastoral da saúde, aprendi muito com ele, certamente podemos repescar algumas coisas, ouço esses ecos de uma semana da Pastoral da Saúde, há ecos interessantes que podemos reavivar”, referiu.
CB/OC