Igreja/Portugal: «Muitos idosos viverem numa profunda solidão, num profundo abandono», alerta diretor do Serviço da Pastoral dos Idosos

Padre Francisco Ruivo afirma, no contexto do V Dia Mundial dos Avós e dos Idosos, que se assinala este domingo,  que «não é possível repensar a Igreja sem uma pastoral dos idosos»

Lisboa, 25 jul 2025 (Ecclesia) – O diretor do Serviço Nacional da Pastoral dos Idosos, da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), manifestou hoje preocupação por “muitos idosos viverem numa profunda solidão, num profundo abandono”, e destacou o “grande desafio” da “’revolução’ da gratidão e do cuidado”.

“Eu creio que, hoje, dos maiores tormentos que se vive é de facto muitos idosos viverem numa profunda solidão, num profundo abandono. Nos diversos setores, não só nas suas casas, mas, muitas vezes, até nos próprios hospitais, completamente abandonados pelos familiares”, disse o padre Francisco Ruivo, esta sexta-feira, 25 de julho, em entrevista à Agência ECCLESIA.

“Nessa perspetiva, eu diria que não é possível repensar, hoje, a Igreja sem uma pastoral dos idosos.”

O diretor do Serviço Nacional da Pastoral dos Idosos, da Igreja Católica em Portugal, assinala que “a vida tem de ser vivida, até ao fim, “como um dom”, e cada um “dá o melhor de si mesmo”, mas, “depois, à partida, nas cidades, nos grandes centros, não há o sentido da vizinhança”.

“Há, sem dúvida, uma profunda solidão, uma profunda indiferença, um desconhecimento muito grande, e a pessoa está dotada ao abandono. As aldeias ainda têm uma coisa que parece extremamente belo e, tem de ser valorizada, cada vez mais, que é precisamente o sentido da vizinhança”, salientou, recordando uma história de duas idosas, que encontrou no final de uma Missa, para exemplificar esse “sentido da vizinhança, da proximidade, da inquietação, da preocupação”.

O padre Francisco Ruivo recordou, “uma coisa importante”, que o anterior presidente da Academia Pontifícia para a Vida da Santa Sé, o arcebispo italiano D. Vincenzo Paglia, disse, que “a própria solidão é, muitas vezes, a antecâmara da morte, e isso não pode acontecer”.

A 26 de julho de cada ano, a Igreja Católica faz memória de São Joaquim e Santa Ana, pais da Virgem Santa Maria, associado a esta data, em 2021, o Papa Francisco instituiu o ‘Dia Mundial dos Avós e dos Idosos’, a celebrar no quarto domingo de julho, em 2025 é no dia 27.

Leão XIV publicou a sua primeira mensagem para a celebração do Dia Mundial dos Avós e Idosos, denunciando a solidão e abandono dos mais velhos, na sociedade e nas comunidades católicas, e apelou a uma “mudança de atitude”, que promova maior responsabilidade por parte de toda a Igreja, e assinala que cada paróquia, associação ou grupo eclesial “é chamado a tornar-se protagonista da ‘revolução’ da gratidão e do cuidado”.

O padre Francisco Ruivo, para além das “grandes referências bíblicas sobre a importância do idoso na história e como Deus vai intervindo”, destaca essa expressão do Papa da “’revolução’ da gratidão e do cuidado”, que “é um grande desafio, colocado a todos”.

“E essa imagem ficou-me percebendo que os idosos não são o passado, como muitas vezes se diz, os jovens não são o futuro, mas o idoso e os jovens é já no hoje. Não podemos fazer um hiato no percurso da nossa vida, a achar que os idosos são o passado e que os jovens são o futuro. Não, é já hoje”, explicou o diretor do Serviço Nacional da Pastoral dos Idosos da CEP, aprovado pelo Conselho Permanente, em maio deste ano, no Programa ECCLESIA, transmitido, esta sexta-feira, na RTP2, onde também comentou as leituras que vão ser ouvidas nas Missas deste domingo.

PR/CB

Cartaz: DNPF

O V Dia Mundial dos Avós e Idosos, que se celebra no quarto domingo de julho (dia 27), tem como tema, este ano, ‘Bem-aventurado aquele que não perdeu a esperança’, ligando-se ao Jubileu que a Igreja Católica está a assinalar.

Em Santarém, o museu diocesano promove hoje, dia 25, um programa “especial” para celebrar o Dia dos Avós (26 de julho), e convidou o artista Samuel Sardão para animar a festa para os idosos e avós.

O Departamento Nacional da Pastoral Familiar (DNPF), da CEP, divulgou duas atividades para serem partilhadas entre avós e netos ou idosos e jovens/crianças: a primeira proposta desafia os netos/jovens/crianças a escreverem uma carta, um texto, ou gravar um vídeo destinado aos avôs ou idosos.

A segunda proposta do DNPF destina-se aos avós/idosos e convida-os a escrevem uma carta aos netos “ou a quem entendam”, que constitui “a possibilidade de ‘peregrinar’ na memória e deixá-la como ‘testamento de vida’”.

A Diocese do Algarve realiza o seu Jubileu dos Avós, iniciativa promovida no âmbito do Ano Santo 2025, a partir das 10h30, deste sábado, dia 26 deste mês, no Santuário de Nossa Senhora da Piedade, em Loulé.

Na Diocese da Guarda, o Dia dos Avós e dos Idosos 2025 é celebrado, “de forma solene”, este domingo, dia 27, pelas 16h00, na Capela de Nossa Senhora do Ar, na Torre da Serra da Estrela.

O Tesouro Museu da Catedral de Viseu, da responsabilidade do Departamento Diocesano dos Bens Culturais, convida os avós e netos a visitarem este espaço museológico, enriquecendo o “baú” de boas memórias que têm partilhado, este sábado e domingo, 26 e 27 de julho.

A Diocese de Setúbal convidou “todos os fiéis” a participar numa celebração também no domingo, a partir das 14h30, no Santuário de Cristo Rei (Almada).

 

Foto: Arquidiocese de Évora (arquivo 2024)

O arcebispo de Évora, numa mensagem para o Dia Mundial dos Avós e dos Idosos, pede que “em todas as Celebrações Dominicais seja valorizado este dia”, na Oração Universal dos Fiéis, e através de algum gesto criativo “no contexto da comunidade pós-celebrativa”.

“Recordo e alerto para os muitos idosos e pessoas frágeis, a quem na solidão, lhe são recusados os direitos básicos da sua dignidade humana, sobretudo pela exiguidade de suas reformas. Não é justo que seja negado o mínimo de condições condignas na velhice daqueles que nos precederam na preparação da geração atual, fruto do seu muito e duro trabalho. Sem este mínimo de justiça social, não nos é lícito pronunciar com credibilidade as palavras Justiça e Democracia” – D. Francisco Senra Coelho

Na mensagem enviada à Agência ECCLESIA, o arcebispo de Évora afirma que “é dever” de toda sociedade, da Igreja, de cada família, “proporcionar a todos e a cada idoso, condições de excelência na qualidade de vida” que lhe servem nesta etapa “sempre sensível e exigente da vida”.

 

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