Igreja/Portugal: «Matança em nome da religião e contra a religião continua em várias partes do mundo» – Nuno Rogeiro

Relatório da Fundação AIS sobre liberdade religiosa deixa alertas para «grave crise de Direitos Humanos» a nível global

Foto: Agência ECCLESIA/OC

Lisboa, 21 out 2025 (Ecclesia) – Nuno Rogeiro, analista político, disse hoje que a questão da liberdade religiosa é um “problema de direitos fundamentais”, em todo o mundo, alertando para a persistência das perseguições contra comunidades crentes.

“A matança em nome da religião e contra a religião continua em várias partes do mundo”, referiu, na apresentação do Relatório sobre a Liberdade Religiosa no Mundo 2025, lançado hoje pela fundação pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (AIS), que decorreu no Centro Nacional de Cultura, em Lisboa.

O especialista em política internacional sublinhou a importância deste documento, que trata das perseguições religiosas de crentes de várias confissões, para lá das comunidades cristãs, de uma forma “equilibrada e objetiva”, contestando as críticas feitas pelo relatório à Ucrânia pela sua relação com as comunidades ligadas ao Patriarcado de Moscovo (Igreja Ortodoxa).

Um dos pontos em destaque foi o crescimento do jihadismo no continente africano, que promovem perseguição armada contra cristãos, recordando correntes do Islão que distinguem a “doutrina de melhoramento pessoal” (jihad espiritual) da “pequena jihad”, que se traduz em atos violentos.

O conferencista pediu que os responsáveis islâmicos “possam todos os dias, todos os minutos, condenar atos praticados em seu nome”, quando estes redundam em “atentados ou morticínios”.

Nuno Rogeiro, autor do livro ‘O Cabo do Medo’, sobre a situação em Cabo Delgado, no norte de Moçambique, onde desde 2017 grupos armados filiados no Daesh, a organização extremista Estado Islâmico, têm levado a cabo uma onda de violência que se traduz já em mais de 6 mil mortos e mais de 1 milhão de deslocados.

O especialista sublinhou a questão ligada ao financiamento destes grupos armados, que vem das “chamadas fundações de caridade”, de “negócios ilícitos” ou mesmo de Estados, através de “fundos secretos”.

A intervenção alertou para o crescimento do “germe de intolerância à religião” nas sociedades ocidentais.

O comentador abordou ainda o recentemente aprovado Projeto de Lei nº 47/XVI/1.ª (CH), que “proíbe a ocultação do rosto em espaços públicos salvo determinadas excepções”,cujo texto faz referências à lacidade do Estado e invoca, especificamente, motivos de ordem religiosa na exposição de motivos: “Ou é uma lei sobre segurança ou é uma lei sobre outros assuntos”.

“O Estado português tem obrigação de separar as águas”, insistiu.

Nuno Rogeiro deixou uma “mensagem de esperança”, recordando todos os crentes que sabem reconhecer nos outros “a ideia de fraternidade”.

Foto: Agência ECCLESIA/OC

Catarina Martins de Bettencourt, diretora do secretariado português da AIS, falou do estudo como um “alerta para o mundo”.

“Ao publicarmos este relatório, temos como objetivo descobrir informações factuais e objetivas sobre a situação global e atual da liberdade religiosa no mundo e as perspetivas deste direito nos próximos anos”, apontou.

A responsável destacou que, pela primeira vez na sua história, a AIS lançou também uma petição global, ‘A liberdade religiosa é um direito, não um privilégio’, apelando aos governos e às organizações internacionais que assegurem a proteção efetiva do Artigo 18.º da Declaração Universal dos Direitos Humanos, garantindo a todas as pessoas a “liberdade de pensamento, consciência e religião”.

“Não podemos continuar a ignorar esta grave crise de Direitos Humanos”, advertiu.

Já o padre José Frazão Correia, diretor da revista ‘Brotéria’, da Companhia de Jesus (Jesuítas), assinalou a necessidade de superar a “indiferença” e cultivar a “hospitalidade do diferente”, procurando “acolher e ajudar a integrar minorias culturais e minorias religiosas” em Portugal.

A sessão contou com a presença do patriarca de Lisboa, D. Rui Valério, que preside a uma Missa pelos cristãos perseguidos, às 19h00, na igreja da Encarnação.

Encerrando a sessão, o responsável católico agradeceu o trabalho da AIS, falando num documento que “escandaliza” as pessoas: “Em pleno século XXI somos surpreendidos por este relatório e percebemos que não são só números ou cores diferentes, mas pessoas reais”.

“Cada uma dessas histórias é uma história de martírio”, apontou D. Rui Valério.

O patriarca de Lisboa convidou a valorizar a dimensão religiosa, sem a qual “todos os outros direitos estão comprometidos”.

“Recusar a alguém a possibilidade de viver a sua religião é uma proibição de que aquela pessoa seja pessoa, que seja ela própria”, prosseguiu.

A Fundação AIS apresentou hoje, em Lisboa e várias capitais europeias, um estudo que abrange o período de janeiro de 2023 a dezembro de 2024, alertando para o “declínio preocupante” deste direito, com dois terços da humanidade – mais de 5,4 mil milhões de pessoas – a viver em países sem plena liberdade religiosa.

O relatório, que a AIS publica há 25 anos, analisa a situação em 196 países e documenta “graves violações” deste direito em 62; destes, 24 são classificados como países de “perseguição” e 38 como “discriminação”.

OC

Notícia atualizada às 18h17

Especial: Mais de metade da população mundial vive sob «graves violações da liberdade religiosa» – Fundação AIS

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