Responsáveis católicos e presidente da República recordam mulher de «causas», com atenção particular à luta contra a pobreza
Lisboa, 08 out 2019 (Ecclesia) – A economista Manuela Silva, antiga presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJP), da Igreja Católica em Portugal, faleceu esta segunda-feira aos 87 anos de idade.
Nascida a 26 de junho de 1932, em Cascais, Manuela Silva licenciou-se e foi professora catedrática convidada no Instituto Superior de Economia e Gestão; foi secretária de Estado para o Planeamento no I Governo Constitucional (1976-77).
O atual presidente da CNJP, Pedro Vaz Patto, destaca à Agência ECCLESIA “o seu testemunho de dedicação constante e incansável às causas da Justiça e da Paz, inspirado no Evangelho e na doutrina social da Igreja”.
“De modo especial, tinha em mira, a esse respeito, o combate à pobreza como violação dos direitos humanos”, acrescenta.
O responsável do organismo católico, ligado à Conferência Episcopal Portuguesa, considera que Manuela Silva era “dotada de uma extraordinária capacidade de iniciativa, trabalho e organização”, levando “sempre outros a trabalhar com ela”.
“Essa sua capacidade de entrega nunca esmoreceu, nem com o avançar da idade, nem com a doença que a veio a vitimar. É disso testemunho a criação da rede ‘Cuidar da Casa Comum – A Igreja ao serviço da Ecologia Integral’, que congrega um grande número de organizações com o objetivo de concretizar os apelos da encíclica Laudato Si”, do Papa Francisco, recorda Pedro Vaz Patto.
“Não quis desperdiçar nem um momento da sua vida, nem mesmo os últimos, ao serviço da missão a que se sentia chamada por Deus”, conclui.
O padre José Manuel Pereira de Almeida, diretor do Secretariado Nacional da Pastoral Social e assistente eclesiástico da CNJP, que conheceu Manuela Silva como estudante de medicina, acompanhou-a na presidência e vice-presidência da Comissão Nacional Justiça e Paz.
“Com um dinamismo único, liderava todos os projetos com grande determinação. Foi uma mulher de causas e criou a Fundação Betânia sonhando uma Igreja mais fiel ao Evangelho”, afirma à Agência ECCLESIA.
O presidente da República Portuguesa publicou uma mensagem de condolências à família de Manuela Silva, na qual evoca os seus “trabalhos de elevado reconhecimento nacional e grande relevância no processo de desenvolvimento económico e social de Portugal”.
Marcelo Rebelo de Sousa fala numa “vida dedicada a causas de grande relevância económica e social, nas quais se incluem a justiça social, luta contra a pobreza e defesa dos Direitos Humanos”.
“No contexto do saber nas áreas do desenvolvimento e económico e social, a sua morte constitui uma perda de grande relevância para o nosso País”, conclui.
A Comissão Nacional Justiça e Paz recebeu com pesar a notícia do fim da vida terrena de Manuela Silva, que foi sua presidente e que em várias ocasiões dela foi membro e com ela colaborou. Ficará para sempre em nós marcado o seu testemunho de dedicação constante e incansável às causas da Justiça e da Paz, inspirada no Evangelho e da doutrina social da Igreja. Essa dedicação abarcou os âmbitos académico, social, político e eclesial. Sempre teve uma atenção especial à causa do combate à pobreza como violação dos direitos humanos. Dotada de uma extraordinária capacidade de iniciativa, dinamismo e organização de trabalho em equipa, Manuela Silva nunca esmoreceu na dedicação a essas causas, nem com o avançar da idade, nem com a doença que a veio a vitimar. É disso exemplo a criação recente da rede “Cuidar da Casa Comum – a Igreja ao serviço da Ecologia Integral”, rede a que a CNJP também se associou juntamente com muitas outras organizações. Foi ela a sua alma inspiradora, lançando uma semente de uma planta que há de crescer e dar frutos. Fê-lo na última fase da sua vida terrena, como se não quisesse desperdiçar nenhum momento dessa vida, nem mesmo os últimos, para se dedicar à missão a que se sentia chamada. Por esse e muitos outros motivos, será sempre para todos nós um exemplo luminoso. Rezamos por ela, acreditando que gozará da felicidade plena na comunhão eterna com Deus. (Nota de pesar da CNJP) |
Manuela Silva pertencia à comissão educativa da Rede Cuidar da Casa Comum e era secretária do movimento internacional Fraternidade Cristã dos Doentes Crónicos e Deficientes Físicos.
A Missa exequial será celebrada esta quarta-feira, pelas 14h00, na igreja da Ressurreição, em Cascais.
Autora de várias obras, organizou e colaborou sobre publicações dedicadas a temas de espiritualidade e sobre temas económicos e sociais.
Manuela Silva foi membro do Graal, movimento internacional de mulheres católicas, e presidente do Movimento Internacional dos Intelectuais Católicos/Pax Romana (1983-87) e da Juventude Universitária Católica Feminina (1954-1957); criou ainda a Fundação Betânia, em 1990, que se propõe “a procura de novos alicerces culturais e espirituais, que conduzam à realização harmoniosa do ser humano, na sua globalidade, e abram caminhos a modos de vida e a relações sociais orientadas segundo o Primado do Amor”.
Foi agraciada, em março de 2000, com o grau de Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique, pelo então presidente da República Portuguesa, Jorge Sampaio.
OC