Igreja/Portugal: Escola Católica passa por «dificuldades de afirmação»

D. António Moiteiro fala em crise transversal ao ensino por falta de «investimento»

Lisboa, 16 dez 2015 (Ecclesia) – O bispo de Aveiro alertou que a Escola Católica está a “passar grandes dificuldades de afirmação” no atual contexto social, com problema de “investimento” e de “demográfica”.

“Vivemos uma crise que passou pelas universidades, pelo ensino público, porque onde não há ajudas, no sentido de investimento – e a educação é um investimento -, é evidente que a qualidade vai-se perdendo”, disse D. António Moiteiro, vogal da Comissão Episcopal da Educação Cristã e da Doutrina da Fé.

À Agência ECCLESIA, o prelado destacou que a Escola Católica tem feito um “esforço enorme” de estar no seu tempo, de “acolher todos os alunos” e através dos programas, “dos valores que procura transmitir” aos alunos em dar-lhes o que é “mais genuíno” que são os valores do Evangelho.

O prelado explica que as dificuldades a nível financeiro se devem ao apoio que foi “diminuindo gradualmente e bastante”, como a comparticipação por turma.

Nas escolas com mais anos, exemplifica ainda, os professores foram “evoluindo na carreira” e as ajudas do Estado “não chegam” para pagar aos professores.

O bispo da Diocese de Aveiro contextualiza ainda que à dificuldade de investimento se soma, “muitas vezes”, a falta de alunos, devido à “crise demográfica tremenda”.

“É uma série de dificuldades”, observa D. António Moiteiro, acrescentando que a Escola Católica tem de “ser uma aposta” das dioceses, das congregações religiosas e “até dos cristãos”, que podem associar-se e apostar neste ensino.

“São desafios que estamos numa viragem de tempo, de civilização em relação ao ensino particular, em relação ao ensino católico”, comentou o entrevistado.

Para D. António Moiteiro, compete ao Estado, por outro lado, garantir o ensino religioso escolar, enquanto “componente na formação do cidadão” porque a dimensão religiosa é uma das dimensões “fundamentais” do ser humano.

“Estamos a atravessar momentos difíceis no mundo e na Europa por conceções erradas do que é a religião, a fé”, desenvolveu o prelado.

Neste contexto, reforça que o Estado “tem de olhar” para o fenómeno religioso não como “o parente pobre da educação”.

A entrevista ao Programa ECCLESIA (RTP2) aconteceu no contexto do congresso internacional das Escolas Católicas, em Roma, que se realizou com o tema ‘Educar Hoje e Amanhã. Uma paixão que se renova’, tendo como base os documentos ‘Ex Corde Ecclesiae’ e ‘Gravissimum educationis’, sobre a Educação Cristã, saído do Concílio Vaticano II.

Segundo o vogal da Comissão Episcopal da Educação Cristã e da Doutrina da Fé, a perspetiva do documento ‘Gravissimum educationis’, escrito há 50 anos, continua a ser um desafio atualmente.

“É interessante que a maior parte dos números seja sobre educação e educação cristã e só tem três números sobre as escolas católicas. Significa que temos de acentuar, e na realidade do nosso país em que a maioria do ensino é público, que a educação para todos é fundamental ao desenvolvimento do ser humano, e só a partir daí podemos educar cristãmente”, sublinhou D. António Moiteiro.

PR/CB/OC

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